“Nas
estepes quentes do Cazaquistão
Levantaram-se
os campos especiais
Desdobraram-se
as costas cansadas
Não
é a hora de se lamentar.
Na
rotura sagrada
Se
abriram feridas
Não
seremos, não seremos escravos
Nem
queremos o jugo portar!
Decaíram
os murros que nos separavam,
O
irmão encontra irmã,
Pai
e filho, esposa e marido
Uma
moça saúda o rapaz…”
(o hino
da revolta de Kengir
da autoria do ucraniano Mykhaylo
Soroka)
Mykhaylo Soroka em GULAG |
O
campo especial dos prisioneiros políticos № 4 – “Steplag” (campo de estepe) se
situava no deserto areoso da província de Karaganda. Localidade de Kengir, hoje Dzhezkazgan, o atual
Cazaquistão.
O
campo criado em 1948, cercado primeiramente com o arame farpado e depois com um
murro de três metros de altura, abrigava duas zonas prisionais: masculina e
feminina. A mão-de-obra semiescrava era usada na construção de fábricas,
manufaturas, estradas, edifícios habitacionais.
Quando
o número dos prisioneiros ultrapassou 3.000 pessoas, campo foi alargado até 5
zonas. Cada zona era separada das restantes por um murro alto e robusto. As
pessoas viviam em abrigos feitos na terra, mais de 70 pessoas em cada um. Mais
tarde, passaram para as barracas, lá viviam até 200 pessoas. Era a força
laboral gratuita, mal alimentada, humilhada, privada de quaisquer direitos e
escravizada, a construir “o futuro melhor” no “país socialista mais democrático
do mundo”. As suas ferramentas eram a alavanca, marreta, pá e cunha de 12 kg.
Tudo era escovado e retirado manualmente, para o transporte eram usadas as carinhas
de mão.
No
início de 1954 o “Steplag” já abrigava 20.698 prisioneiros, destes 9.596 (46,36%) eram ucranianos
(incluindo vários membros e simpatizantes do movimento guerrilheiro ucraniano OUN-UPA),
2.661 russos, 2.690 lituanos, 1074 letões, 878 belarusos, no total representantes
de 33 nacionalidades e etnias, além disso 167 pessoas eram registados pela administração
como “outros”.
O Campo especial № 4 (Steplag) nas vésperas da revolta |
No
dia 16 de maio, mais de 10.000 prisioneiros de Kengir entraram em greve, após a
recusa da administração de investigar e punir os guardas responsáveis pelo
assassinato das pessoas inocentes, alegando a “tentativa da fuga”, por vezes
apenas para ganhar uma folga extra ou um relógio pela “dedicação ao serviço”.
No
segundo dia da greve o campo parou por completo. Para desmoralizar os
grevistas, a administração transferiu para “Steplag” cerca de 600 criminosos de
delito comum, oficialmente classificados não como “inimigos do povo”, mas como “cidadãos
soviéticos que optaram pelo caminho de reabilitação”. Quebrados fisicamente e
psicologicamente pela resistência organizada dos veteranos do Exército
Insurgente Ucraniano (UPA),
uma considerável parte destes criminosos comuns optou por apoiar a revolta.
Os
prisioneiros cavaram os túneis e abriram as brechas nos murros, unificando todas
as zonas e a cadeia interna em uma única entidade. Cerca de 12.000 prisioneiros
de diversas nacionalidades uniram-se, elegendo na reunião geral o Comité
organizativo da revolta de 16 pessoas. Os revoltosos tomaram o controlo da
reserva alimentar, garantiam a continuação do funcionamento da cozinha, cabeleireiro,
banhos, lavatórios e outros pontos estratégicos do campo.
O
Comité grevista comunicava com a população civil circunvizinha, usando os
altifalantes e os papagaios de papel, pedindo informar Moscovo e a intervenção
de uma comissão estatal. As negociações com a administração local não levavam
aos resultados aceitáveis. O campo era guarnecido pelo perímetro exterior, os
chekistas não aceitavam as exigências dos grevistas de parar os desmandos e castigar
os guardas – assassinos.
Cartaz dos revoltosos: "Parem as repressões! Devolvem os nossos camaradas!" |
O momento do ataque dos blindados em Kengir (quadro) |
Ferenc Várkonyi década de 1950 |
Os
participantes ativos da revolta (cerca de 500 homens e 500 mulheres) foram transferidos
para Magadan, recorda um dos
participantes, ucraniano Yuriy Ferenchuk, condenado aos 25 anos de campos de
concentração e 5 anos de exílio especial.
O monumento aos ucranianos que morreram em Kengir |
Ver o filme documental “Kengir, 40 dias de liberdade” (2015): em inglês em duas partes:
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