George H.W. Bush e Leonid Kravcheuk em Kyiv |
O discurso “Frango de
Kiev” (Chicken Kiev
speech) é o nome não oficial do discurso do presidente americano George H.
W. Bush (1924-2018), dado no parlamento da Ucrânia, ainda soviética, em 1 de agosto de 1991,
apenas 23 dias antes de proclamação da independência do país e meses antes do referendo,
onde 92,26% dos ucranianos confirmaram a escolha política de viver num país
independente.
O discurso, escrito
pela Condoleezza Rice, em que George H. W. Bush se manifestava contra o “nacionalismo
suicida”, ofendeu os patriotas da Ucrânia e foi muito mal recebido nos EUA. O
colunista da “New York Times”, William Safire chamou o discurso de “um erro de
julgamento colossal”.
Pano de fundo histórico
George H. W. Bush veio
ao Moscovo em 30 de julho de 1991 para a cimeira com o autoproclamado
presidente soviético, Mikhail Gorbachev. Na conversa informal Bush disse ao Gorbachev
que o fim da URSS não será do interesse dos EUA. Ele prometeu ao Gorbachev que
falará contra a independência da Ucrânia quando visitar o país em 1 de agosto
de 1991.
Na Ucrânia, o chefe do
parlamento, futuro 1º presidente do país, Leonid Kravchuk, balanceava
entre diversas tendências políticas, defendendo, para já, a maior soberania
ucraniana. Nas vésperas da visita do Bush, Kravchuk disse: “Estou convencido de
que a Ucrânia deve ser um Estado soberano, de pleno direito e funcional”. Presidente
Bush se recusou à reunir com as lideranças que defendiam a independência
ucraniana e foi recebido nas ruas de Kyiv com os cartazes que diziam: “Sr. Bush:
biliões para URSS é a escravidão para Ucrânia” ou “A Casa Branca lida com os
comunistas e ignora o (movimento independentista) Rukh”, o principal e maior movimento
pró-Independência da Ucrânia na altura.
O discurso
No discurso, preferido
no parlamento da Ucrânia (Verkhovna Rada – Conselho Supremo), Bush defendeu a União
Soviética “mais descentralizada”, em que as repúblicas irão “combinar uma maior
autonomia com a maior interação voluntária política, social, cultural, económica,
em vez de perseguir o curso de isolamento sem esperança”. Bush também defendeu
que em vez dos líderes pró-Independência, os ucranianos deveriam conter-se com
a figura do Gorbachev que “atingiu coisas espantosas, e as suas políticas de
glasnost, perestroika e democratização são os pontos em direção aos objetivos
de liberdade, democracia e liberdade económica”.
Bush foi muito claro em
apontar quem os EUA pretendiam apoiar na URSS reformada: “Vamos apoiar aqueles,
no centro e nas repúblicas, que buscam liberdade, democracia e liberdade económica”.
Nesta lista claramente não se encontravam os patriotas que defendiam a
independência da Ucrânia.
As reações
O líder do movimento
Rukh, escritor, ex-comunista e politico muitíssimo moderado, Ivan Drach, classificou
o discurso do Bush de seguinte maneira: Bush veio aqui como um
mensageiro do Gorbachev. De muitas maneiras, ele parecia menos radical do que os
nossos próprios políticos comunistas na questão da soberania estatal da
Ucrânia. Afinal, eles têm que dirigir coisas aqui, na Ucrânia e ele não.
O governo independente da
Geórgia emitiu uma declaração, onde apontava os padrões desiguais dos EUA na
questão ucraniana e perguntava ironicamente: “Por que ele não pede ao Kuwait
para assinar o Tratado da União com o Iraque?”
Na sua edição de 8 de
fevereiro de 1992, a revista “The Economist” chamou o discurso do Bush de “exemplo
mais flagrante de falha de outras nações em não reconhecer a inevitabilidade da
Ucrânia à tornar-se um Estado independente”. Em 2011 a publicação Americana
“Washington Examiner” classificou este discurso de “provavelmente o pior discurso
de sempre de um chefe executivo americano”.
Sully, um labrador de dois anos que era o companheiro inseparável do George H. W. Bush |
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