sábado, agosto 01, 2015

História do discurso “Frango de Kiev” do George H. W. Bush

George H.W. Bush e Leonid Kravcheuk em Kyiv
O discurso “Frango de Kiev” (Chicken Kiev speech) é o nome não oficial do discurso do presidente americano George H. W. Bush (1924-2018), dado no parlamento da Ucrânia, ainda soviética, em 1 de agosto de 1991, apenas 23 dias antes de proclamação da independência do país e meses antes do referendo, onde 92,26% dos ucranianos confirmaram a escolha política de viver num país independente.

O discurso, escrito pela Condoleezza Rice, em que George H. W. Bush se manifestava contra o “nacionalismo suicida”, ofendeu os patriotas da Ucrânia e foi muito mal recebido nos EUA. O colunista da “New York Times”, William Safire chamou o discurso de “um erro de julgamento colossal”.

Pano de fundo histórico

George H. W. Bush veio ao Moscovo em 30 de julho de 1991 para a cimeira com o autoproclamado presidente soviético, Mikhail Gorbachev. Na conversa informal Bush disse ao Gorbachev que o fim da URSS não será do interesse dos EUA. Ele prometeu ao Gorbachev que falará contra a independência da Ucrânia quando visitar o país em 1 de agosto de 1991.

Na Ucrânia, o chefe do parlamento, futuro 1º presidente do país, Leonid Kravchuk, balanceava entre diversas tendências políticas, defendendo, para já, a maior soberania ucraniana. Nas vésperas da visita do Bush, Kravchuk disse: “Estou convencido de que a Ucrânia deve ser um Estado soberano, de pleno direito e funcional”. Presidente Bush se recusou à reunir com as lideranças que defendiam a independência ucraniana e foi recebido nas ruas de Kyiv com os cartazes que diziam: “Sr. Bush: biliões para URSS é a escravidão para Ucrânia” ou “A Casa Branca lida com os comunistas e ignora o (movimento independentista) Rukh”, o principal e maior movimento pró-Independência da Ucrânia na altura.

O discurso

No discurso, preferido no parlamento da Ucrânia (Verkhovna Rada – Conselho Supremo), Bush defendeu a União Soviética “mais descentralizada”, em que as repúblicas irão “combinar uma maior autonomia com a maior interação voluntária política, social, cultural, económica, em vez de perseguir o curso de isolamento sem esperança”. Bush também defendeu que em vez dos líderes pró-Independência, os ucranianos deveriam conter-se com a figura do Gorbachev que “atingiu coisas espantosas, e as suas políticas de glasnost, perestroika e democratização são os pontos em direção aos objetivos de liberdade, democracia e liberdade económica”.

Bush foi muito claro em apontar quem os EUA pretendiam apoiar na URSS reformada: “Vamos apoiar aqueles, no centro e nas repúblicas, que buscam liberdade, democracia e liberdade económica”. Nesta lista claramente não se encontravam os patriotas que defendiam a independência da Ucrânia.

As reações

O líder do movimento Rukh, escritor, ex-comunista e politico muitíssimo moderado, Ivan Drach, classificou o discurso do Bush de seguinte maneira: Bush veio aqui como um mensageiro do Gorbachev. De muitas maneiras, ele parecia menos radical do que os nossos próprios políticos comunistas na questão da soberania estatal da Ucrânia. Afinal, eles têm que dirigir coisas aqui, na Ucrânia e ele não.

O governo independente da Geórgia emitiu uma declaração, onde apontava os padrões desiguais dos EUA na questão ucraniana e perguntava ironicamente: “Por que ele não pede ao Kuwait para assinar o Tratado da União com o Iraque?”

Na sua edição de 8 de fevereiro de 1992, a revista “The Economist” chamou o discurso do Bush de “exemplo mais flagrante de falha de outras nações em não reconhecer a inevitabilidade da Ucrânia à tornar-se um Estado independente”. Em 2011 a publicação Americana “Washington Examiner” classificou este discurso de “provavelmente o pior discurso de sempre de um chefe executivo americano”.
Sully, um labrador de dois anos que era o companheiro inseparável do George H. W. Bush

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