quarta-feira, maio 23, 2012

A resistência ucraniana na guerra contra NKVD


Myroslav Symchych é um lendário comandante do Exército Insurgente Ucraniano (UPA), prisioneiro político ucraniano que passou 32 anos, 6 meses e 3 dias nas cadeias e campos de concentração soviéticos.

Perseguido e torturado, ele nunca cedeu aos seus carrascos. Atrás das grades ele conheceu e fez amizade com diversos intelectuais ucranianos, da geração de 1960: escritor e publicista Yevhen Sverstyuk, poetas Ivan Svitlycny e Ihor Kalynets, jornalista Valeriy Marchenko. Estes invencíveis conseguiram derrotar a URSS, quando passaram para Ocidente a sua carta – protesto, que foi publicada na imprensa europeia e americana.

No final da década de 1940, Myroslav Symchych (“Kryvonis”), comandava a centena de Berezy, que por sua vez fazia parte do Kurin (unidade tática básica) dos Cárpatos do UPA. Os serviços secretos soviéticos contabilizam cerca de 40 combates que a sua centena travou com as tropas do NKVD. Em apenas dois deles os guerrilheiros ucranianos não saíram vitoriosos.

– Na realidade, estes combates e estas vitórias eram muito mais numerosas, – com um sorriso malandro diz Myroslav Symchych.

Mas o seu combate mais famoso se deu no dia 15 de janeiro de 1945 nos arredores da aldeia Rushir, na entrada da aldeia de Kosmach (tida como a capital da guerrilha ucraniana), quando a sua centena (cerca de 250 combatentes), derrotou e exterminou o 256° batalhão das guardas do NKVD. Juntamente com o seu comandante, tenente-coronel (por vezes referido como o general), Aleksey Dergachov (1913 – 1945, desde agosto de 1944 o comandante do 256° batalhão da 36ª divisão das guardas do NKVD da Circunscrição Ucraniana).

Tínhamos que esconder os 250 homens para que o inimigo não desconfiar de nada. Encontramos uma boa localização. As montanhas circundavam o caminho em forma de ferradura. Pensei, foi o próprio Deus que criou as nossas montanhas para podermos exterminar nelas os visitantes importunos”, – lembre-se Symchych.

Os seus homens possuíam 22 metralhadoras ligeiras, um lança-minas, um lança-granadas, mais de 20 pistolas automáticas, cerca de 15 carabinas semiautomáticas, os restantes guerrilheiros estavam armados com espingardas e granadas.

A coluna inimiga apareceu de manha cedo: entre 12 à 15 camiões Studebaker (das cerca de 500 mil unidades produzidas nos EUA, 477.000 foram fornecidas à URSS segundo o programa de Lend-Lease), a abarrotar de soldados e um carro ligeiro que parou em frente da ponte, que os guerrilheiros acabavam de desmontar. Todos estavam ao alcance do tiro…

Em duas horas e meio do combate, foram aniquilados cerca de 405 soldados e oficiais do batalhão, juntamente com o seu comandante, tenente – coronel Dergachov.

– Quantos carrascos do NKVD vocês lá arrumaram, se pergunta ao Symchych.
– Não tínhamos tempo de contar, pessoalmente foi ferido com uma bala dum-dum na mão direita, apenas consegui fazer a estimativa de cerca de 200 pessoas. Assim escrevi no meu relatório. Já em 1968, durante a pós-investigação, soube que NKVD intercetou o meu relatório.
– Tu não mataste os nossos 200 homens, chiava maldosamente o investigador, só em combate morreram 375 pessoas, outros 50 morreram no hospital dos ferimentos…

No gabinete do investigador, o prisioneiro Symchych encontrou a viúva e o filho do tenente-coronel Dergachov. O investigador lhes propôs “olhar nos olhos” daquele que despachou ao inferno o seu “pai e marido”. Quando o NKVDista lhe perguntou sobre o tipo de castigo que insurgente ucraniano merecia a receber, a viúva do carrasco respondeu decididamente:

– Apenas a pena capital, apenas a pena capital…
Myroslav Symchych (1º à esquerda) no processo de reconhecimento pela testemunha, 1968
@arquivo do SBU
Em 13 abril de 1949 Symchych foi sentenciado pelo Tribunal Militar da cidade de Stanislavsk (hoje Ivano-Frankivsk) ao abrigo do artigo 54-1, linha “A” (“traição da pátria”) e 54-11 (“envolvimento em organizações contrarrevolucionárias”) aos 25 anos de prisão. Em 1968 ele foi preso novamente e julgado em Ivano-Frankivsk pelo seu papel na aniquilação do 256° batalhão do NKVD. Foi libertado apenas em 1985, mais um ano viveu sob a constante vigilância policial. Neste momento é apesentado e vive na província de Ivano – Frankivsk.

Ver o filme histórico “O inverno quente de 1945. A batalha de Kosmach” no YouTube, 15’14’’:

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