No
dia 8 de junho nos combates nos arredores de Parmira, foi abatido o helicóptero
pilotado por um dos melhores pilotos russos, o coronel Ryafagat Habibullin, o
comandante da 393ª Base aérea da aviação militar da federação russa, a unidade
de maior prontidão combativa, desenvolvida para servir nas ações contra Ucrânia
e contra as suas Forças Armadas (FAU).
O
caso é um exemplo clássico da mentira aguda do Ministério da Defesa russo que
usando os mesmos esquemas de propaganda esconde os números de baixas russas na
sua guerra não declarada contra Ucrânia, escreve o jornalista ucraniano Yuriy Butusov.
No
dia 8 de junho a guerrilha síria anunciou a destruição do helicóptero militar
russo. No mesmo dia, o Ministério da Defesa russo emitiu um comunicado oficial:
“Todos os helicópteros de combate russos que se encontram na República Árabe da
Síria, após as tarefas planeadas, voltaram em segurança aos aeródromos. Não
houve perdas entre as aeronaves russas” (http://www.interfax.ru/world/517668).
Na
manha do dia 9 o Ministério russo esclareceu: “Na área de Palmira os combatentes
abateram um helicóptero de ataque Mi-24 do exército governamental [...] Este foi
abatido pelos terroristas à partir da superfície. [...] De acordo com a fonte, a
sorte da tripulação é desconhecida” (http://www.interfax.ru/world/517671).
No
entanto, os militantes, como sempre, possuíam um operador que filmou o momento
do abate e a federação russa reconheceu, ao contragosto, a perda do helicóptero:
“O helicóptero sírio Mi-25 com a tripulação russa foi abatido por militantes do
EI [...] nos arredores da Palmira com auxílio do sistema do míssil pesado americano
antitanque TOW. [...] O helicóptero, esgotando a sua munição, estava navegando
de volta [à base] em altitudes ultra baixas. [...] A tripulação do helicóptero
morreu” (http://www.interfax.ru/world/517728).
Ou
seja, tudo começa por “é tudo mentira, eles não estão lá”, mas com o tempo as
versões do acontecimento vão mudando.
O
vídeo divulgado pelo operador dos militantes de uma forma rapidíssima foi
disseminado nas diversas redes sociais:
https://www.youtube.com/watch?v=hJcXzDVBTcA
O
vídeo mostra como um par dos helicópteros russos estava atacando os alvos, o helicóptero
líder disparava o canhão e usava os mísseis não guiados, quando aconteceu uma
explosão e a cauda de helicóptero foi destruída em pedaços. O helicóptero caiu e explodiu.
E
assim chegamos às verdades inconvenientes que o Ministério da Defesa russo
procurou ocultar:
1.
O helicóptero abatido não era o velho Mi-25 do exército sírio comprado ainda na
URSS. Estamos perante o moderníssimo helicóptero do agrupamento russo na Síria,
do tipo Mi-35M. É fácil identifica-lo, tendo um silhueta muito próxima ao Mi-24,
o Mi-35M tem uma diferença notável – o rotor de cauda em forma de X e o chassi de
pouso não retrátil. Estes helicópteros foram recebidos pelo contingente militar
russo na Síria no final de 2015, nesta foto são bem visíveis as
particularidades da silhueta do Mi-35M.
Até
8 unidades de helicóptero Mi-35M operam à partir da 393ª Base aérea russa,
comandada pelo coronel Habibullin, ora liquidado na Síria (http://ria.ru/arms/20120813/722531848.html).
1.
Para que os russos mentiram sobre o modelo do helicóptero? Para não envergonhar
as suas produções mais modernas. O preço de venda do Mi-35M aos mercados
externos é de 35 milhões de dólares! A Rússia tem medo de perder o mercado,
caso os potenciais compradores fiquem convencidos da ineficácia dos seus sistemas
de defesa contra os MANPADS. Supostamente o Mi-35M foi atingido por trás, numa emboscada,
não usando MANPADS, assim que o sistema de defesa não funcionou, o helicóptero
foi aniquilado por um disparo do chão, tipo puro azar. Na realidade o disparo
não foi guiado manualmente, o Mi-35M foi atingido por míssil auto-guiado e o
sistema de defesa do helicóptero bastante caro não funcionou.
2.
As circunstâncias do combate foram completamente distorcidas pelo Ministério da
Defesa russo. Habibullin não estava realizar o voo de teste, mas em grupo de duas
unidades estava efetuar os disparos dos mísseis não guiados contra alguns
objetos, protegidos pelo fogo antiaéreo dos militantes nos arredores da Palmira.
O
“instrutor” Habibullin estava efetuar uma missão de combate, ou seja, agia como
mercenário. O que significa que o regime do Asad não tem as tripulações e em
vez dos pilotos sírios, as cidades são bombardeadas e as operações contra os
oponentes do Asad são efetuados pelos pilotos russos. O nosso “voluntário”
estava, alegadamente, defender o “mundo russo”, nas férias e em Síria.
A imagem (gratos aos amigos brasileiros) mostrando a marca do míssil que atinge Mi-35M |
Para
que mentiram sobre a “mão americana”? Para enfatizar que os militantes são
capazes de infringir as perdas [aos russos e aos sírios] apenas graças ao
fornecimento de armas americanas. E que os russos, desta maneira, combatem os
americanos – isso é necessário para a propaganda interna.
No
decorrer da sua intervenção militar na Síria, Rússia já perdeu 3 helicópteros: o
Mi-8 de resgate, o Mi-28N de combate (em acidente, segundo os dados oficiais) e
Mi-35M.
O
perfil do mercenário russo
O
coronel Ryafagat Habibullin (1965) foi um dos pilotos militares russos mais
experientes. Ele participou na invasão da Geórgia em 1993-94, na 1ª e 2ª
guerras chechenas (1994-2002). Na Chechénia o seu Mi-24 foi abatido pelo fogo
da metralhadora pesada DShK,
Habibullin foi o único membro sobrevivente da tripulação. Participou na invasão
da Geórgia em 2008 e na guerra civil de Síria em 2016. Pelos dados de 2008, Habbibullin possuía o recorde de voos de 3200 horas, destes 2800 horas de
combate, efetuou mais de 2000 voos de combate; tinha a qualificação de “piloto
– sniper”.
O
coronel comandava a 393ª Base aérea na cidade de Korenovsk
na região de Krasnodar. A base recebe os helicópteros russos mais modernos,
goza de estatuto da base de elite, captando investimentos de vulto para o
desenvolvimento do complexo aeroportuário e da infra-estrutura.
A
publicação militar russa army-news.ru
explicava em 2015 a importância da 393ª Base, não fazendo nenhum segredo do seu
objectivo – as hostilidades militares contra Ucrânia, Moldova e Roménia,
possivelmente contra Geórgia: A
implantação de unidades de helicópteros equipados com Mi-28N e Ka-52 é uma
parte muito importante de aumento do poder da Circunscrição Militar do Sul. Estes
helicópteros podem conduzir as operações de combate contra os veículos
blindados da Moldávia, Roménia e Ucrânia na Transnístria [...] Actualmente a
393ª Base Aérea de helicópteros está armada com 16 unidade de Ka-52 e 12 do Mi-28N,
após a entrada em funcionamento da nova infra-estrutura, o número total destas
aeronaves será superior às 50 unidades.
Na guerra contra Ucrânia
O
coronel Habibullin possivelmente esteve envolvido em agressão militar russa contra
Ucrânia em 2014. Os militares ucranianos informavam repetidamente sobre a violação
de fronteiras da Ucrânia pelos modernos helicópteros de combate russos Ka-52
“Alligator” e Mi-28. Em 25 de agosto de 2014 perto da aldeia ucraniana Krasnaya
Talovka, o destacamento do Serviço de Guarda-fronteira da Ucrânia entrou em
combate contra um grupo militar russo, apoiado pelos blindados, que cruzou ilegalmente
a fronteira estatal ucraniana. No meio da batalha, dois helicópteros militares
russos atacaram as posições ucranianas – os 4 soldados ucranianos morreram.
Resumindo, é óbvio que a 393ª Base aérea russa na Síria
combate ativamente, inserida no exército de Assad. Se o Mi-35M não pertencia às
Forças Armadas russas, e pertencia aos sírios, então coronel Habibullin fazia
biscates para Asad na qualidade de um mercenário.
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