quarta-feira, março 16, 2016

Império moribundo: Kyiv em 1984

No ano mítico de 1984, nas vésperas da Perestroika e apenas 7 anos antes do fim da URSS, a capital da Ucrânia Soviética foi visitada por turista comunista (?) italiano Iro Bazzanti que filmou a cidade e os arredores, no seu quotidiano meio-sonolento da 3ª cidade mais importante do Império. Também semi-moribundo, embora sem perceber ainda que o seu destino já foi traçado pela história...

O que podemos ver no filme?

As estradas semidesérticas: pouquíssimas viaturas privadas, algumas de serviço, autocarros de passageiros, na sua maioria os ucranianos “LAZ” e muitos camiões, as filmagens são feitas de forma semiclandestina (a câmara abruptamente para quando vê uma viatura 4x4 do Ministério do Interior).

A propaganda: um mural com as letras garrafais: “Com nome de Lenine trabalhar e vencer”; dístico (na atual Praça de Independência – Maydan): “As decisões do XXVI congresso do partido, dos plenários sucessivos do Comité Central do PCUS – realizaremos!”; “Viva a amizade fraternal e a unidade inabalável de todas as nações e povos da União Soviética!” (toda a propaganda é feita apenas em russo);

No vídeo também aparecem:

O complexo turístico “Prolisok” (funciona até hoje!); palácio dos casamentos (conhecido pela forma do edifício e não só, como “triângulo das Bermudas”), avenida Khreshatyk com os troleicarros checoslovacos, simples e duplos; Maydan (na altura praça de Revolução de Outubro), dominada  pela enorme estátua do Lenine, secundada pelo povo soviético alegórico, a tripla de revolucionários: a camponesa, o operário e soldado  (demolidos quase imediatamente após a proclamação da Independência da Ucrânia em 24/08/1991); acima do monumento hotel “Moscovo” (hoje “Ucrânia”); relógio no edifício dos sindicatos (ardeu parcialmente durante os confrontos entre a polícia e manifestantes no inverno de 2014); segue-se bazar e padaria; monumento do Lenine na avenida Khreshatyk (derrubado em dezembro de 2013); caixa retangular azul (9´55´´) é a máquina de venda de água mineral, o copo de água sem sabor custava 1 copeque e com sabor 3 copeque, os copos eram um nojo; inscrição “Bazar escolar” (10´38´´´), a única em ucraniano, no local se vendiam diversas coisas escolares (pastas, fardamentos, lápis, cadernos, etc.); o edifício com telhado em forma de arco (11´05´´) é Circo de Kyiv, construído no local do histórico Yevbaz (Bazar Judaico); a rua Uzviz (11´20´´) e igreja de São André (inoperacional até agora); praça de Sofia e monumento de Bohdan Khmelnytsky (11´54´´), construído em 1888, hoje com um aspeto original, protegido pelas grades de ferro; os Portões de Ouro (12´00´´), reconstruídas em 1982; o edifício “vermelho” da Universidade Taras Shevchenko (12´13´´), fundada em 1870 e o monumento ao poeta-mor da Ucrânia; monumento de “Amizade russa – ucraniana” (14´45´´), em forma de arco gigante, chamado popularmente de “jugo”, pela forma e pelo simbolismo, no anfiteatro subjacente costumava tocar a música e por vezes havia as representações de palhaços ou leitura de textos humorísticos politicamente corretos; rio Dnipro (15´35´´), filmado da colina do Volodymyr (o monumento do São Volodymyr foi construído em 1853 sobreviveu a fúria comunista, mas antes de 1991 a cruz na sua mão não era iluminada); a ponte pedestre (15´45´´) entre a margem direita do rio Dnipro e a ilha Trukhaniv; a atual praça da Europa e o Museu do Lenine (16´08´´), hoje a Casa da Ucrânia, NENHUM (!) artefacto supostamente histórico e relacionado ao Lenine daquele museu era real, tudo apenas réplicas dos objetos exibidos em Moscovo; a atual rua Hrushevsky e estádio do clube desportivo Dynamo (atual estádio do FC Dynamo Kyiv), o local dos piores confrontos durante a Revolução de Dignidade no inverno de 2014, foi aqui que polícia “Berkut” assassinou o primeiro herói da Centena Celestial, o ucraniano-armênio Serhiy Nihoyan; Conselho dos Ministros da Ucrânia Soviética (16´46´´), hoje desempenha a mesma função; o restaurante “Salyut” (17´10´´), situado no raro em Kyiv edifício redondo; Mosteiro de Kyiv – Pechersk (17´19´´), possui as famosas grutas com os restos dos monges, hoje pertence à Igreja Ortodoxa da Ucrânia – Patriarcado de Moscovo, o mesmo que desrespeita Holodomor e apoia a invasão russo-terrorista; o monumento da Mãe-Pátria e museu subjacente da “Grande Guerra Patriótica” de 1941-1945 (a URSS não “considerava” a sua participação na partilha da Polónia como participação na II G.M.); em baixo, na marginal do rio Dnipro (19´50´´), fica o monumento aos míticos fundadores de Kyiv, irmãos Kiy (Deixa), Shek e Khoryv e a sua irmã Lybid (Cisne), o projeto inicial previa juntar o museu da Guerra ao monumento pela escada enorme, guardada nos laterais pelas figuras alegóricas (os invariáveis marinheiro, camponês, soldado, etc.), felizmente o projeto foi encurtado; ao seu lado direito se vê a ponte Paton, construída em 1953, totalmente usando a tecnologia de soldadura, desenvolvida pela família dos cientistas ucranianos Paton; o ninho da cegonha num poste de eletricidade (20´25´´), na Ucrânia as cegonhas eram vistas como símbolo de felicidade, mesmo durante o Holodomor as pessoas se recusavam à comer as cegonhas.
https://www.youtube.com/watch?v=3BwPaONjXdI
Altura do ano: a temperatura +17º, folhas verdes nas árvores e aparecimento do “Bazar escolar” pode significar o mês de agosto de 1984, pois o ano escolar começava na Ucrânia Soviética invariavelmente no dia 1 de setembro de cada ano.

Bónus
Kyiv na década de 1950, início da avenida Khreshatyk, a praça Besarabska (em frente do mercado homónimo), com um ponto de táxis. A avenida será alargada e o fontanário, visível à esquerda será levado cerca de 1,5 km à frente. Quase não há carros. Se vê TsUM (Loja Universal Central, o prédio mais alto da foto, à esquerda) de Kyiv, que sobreviveu a guerra e o comunismo e foi demolida apenas em 2013 para dar lugar ao novo centro comercial do bilionário Rinat Akhmetov. As árvores ainda são jovens, 30 anos depois eles formarão aquilo que irá se chamar “Khreshatyk verde” (fonte).

1 comentário:

Jest nas Wielu disse...

Estimado, Anónimo!
Para sugerir a colocação dos terroristas na lista se deve escrever ao lyst2sbu@gmail.com
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