Cidade de Tallinn (Estónia), praça de Liberdade. O dia do luto nacional. |
No
verão de 1940, a União Soviética ocupou a Estónia, Letónia e Lituânia, como
resultado do infame Pacto Molotov-Ribbentrop, assinado entre a Alemanha nazi e
a União Soviética, em 23 de agosto de 1939. No rescaldo da Segunda Guerra
Mundial, a Estónia perdeu cerca de 17,5 % da sua população.
A
ocupação soviética provocou as deportações em massa que afetaram pessoas de
todas as nacionalidades que viviam na Estónia. As duas deportações que mais
afetaram o país, em 14 de junho de 1941 e 25 de Março de 1949, são recordados anualmente
como dias de luto nacional.
Prologue
às deportações
Em
23 de agosto de 1939, a União Soviética e a Alemanha nazi concluíram o chamado
Pacto Molotov-Ribbentrop, os protocolos secretos que dividiram a Europa Central
e Oriental nas respectivas esferas de influência. Em 1 de setembro de 1939, a
Alemanha iniciou a Segunda Guerra Mundial com o seu ataque contra a Polónia. Em
17 de setembro, a outra parte do pacto, a União Soviética, começou a cumprir o
seu papel ao invadir o leste da Polônia, ao mesmo tempo, concentrando as grandes
forças nas fronteiras dos três estados bálticos e a Finlândia. Embora o governo
estónio declarou sua neutralidade completa no início da Segunda Guerra Mundial,
em 28 de Setembro de 1939, a União Soviética coagiu Estónia com ameaças
militares diretas, para concluir o chamado pacto de assistência militar mútua,
o que resultou na implantação de bases militares soviéticas na Estónia.
Tratados
semelhantes também foram forçados aos vizinhos da Estónia: Letónia e Lituânia.
A gravidade da pressão soviética foi demonstrada pelo fato de que, quando
Helsínquia recusou-se a concluir um tratado com Moscovo, a URSS começou a
invadir a Finlândia, que é conhecido como a Guerra de Inverno. A comunidade
internacional reagiu a este ato de agressão soviética, expulsando a URSS da
Liga das Nações.
As tropas soviéticas em Tallinn em 1940 |
Durante
a II Guerra Mundial, a Alemanha nazi invadiu parte da União Soviética e ocupou a
Estónia de julho 1941 à setembro de 1944, quando a União Soviética restabeleceu
a sua ocupação.
As
preparativas para repressões
A
União Soviética tinha começado as preparativas para o lançamento de terror na
sociedade civil estónia já antes da ocupação. O objetivo do terror comunista
era reprimir qualquer possível resistência, desde o seu início e para incutir grande
medo nas pessoas, a fim de prevenir qualquer tipo de movimento de resistência geral
organizada no futuro.
Na
Estónia, o extermínio planeado das pessoas proeminentes e ativas, bem como o
deslocamento de grandes grupos de pessoas, tinham a intenção de destruir a
sociedade estónia e a sua economia. As listas de pessoas a serem reprimidos
foram preparadas com antecedência. Os arquivos dos órgãos de segurança
soviéticos demonstam que já no início da década de 1930, os órgãos de segurança
soviéticos haviam coletado dados sobre pessoas na Estónia que iriam ser
submetidas à repressão.
Os vagões de gado, usados pela URSS para deportação dos povos |
O presidente da Estónia, Konstantin Pats na cadeia de NKVD em 1941. @Wikipédia |
As
deportações em massa
As
preparativas para a realização das deportações em massa começaram não mais tardar
do que 1940 e eram parte da violência total dirigida contra os territórios
ocupados pela União Soviética em 1939-1940. Os territórios ucranianos e
bielorrussos foram os primeiros a serem atingidos pelas deportações. A primeira
referência escrita à notar que os estonianos deveriam ser deportados para a
Sibéria é encontrada nos documentos de Andrei Zhdanov, comissário de Estalin,
que supervisionou a aniquilação da independência da Estónia no verão de 1940.
Os locais das prisões e deportações dos estónios e os itinerários dos comboios de deportações |
Após
a II Guerra Mundial, quando a União Soviética havia reocupado o controlo sobre Estónia
(após um breve período sob a ocupação nazi alemã), começou a nova discussão entre
as autoridades soviéticas sobre a realização de uma nova deportação em massa.
As
preparações clandestinas duraram mais de dois anos e em março de 1949, o poder
de ocupação estava pronto para realizar uma nova deportação. No decurso da
operação, que começou em 25 de março de 1949, mais de 20.000 pessoas – cerca de
3% da população da Estónia em 1945 – foram detidas em poucos dias e deportados para
as áreas remotas da Sibéria. A deportação foi exigida pelo Partido Comunista, a
fim de completar a “coletivização” e “eliminar os kulaks como classe”. Quase um
terço das pessoas declaradas como sendo “kulaks” conseguiu escapar dos seus
captores. Nas palavras do secretário local do Partido Comunista, Nikolai Karotamm,
outras famílias foram “apanhadas” a fim de “preencher a quota”.
As deportações soviéticas de 25 de março de 1949 |
Particularmente
desumana foi a segunda deportação de crianças que foram primeiramente deportadas
em 1941 e, em seguida, tiveram a autorização para voltar à Estónia, no processo
de reunião familiar no final da II Guerra Mundial. Cerca de 5.000 estónios foram
deportados à região de Omsk, diretamente afetada pelo teste nuclear soviético
em Semipalatinsk (atualmente a cidade de Semei no Cazaquistão). De 1949 à
1956, cerca de 260 explosões de bombas nucleares e de fusão foram realizadas lá.
As vítimas da doença de radiação foram deixadas sem tratamento médico durante
décadas. As pessoas doentes, bem como os pais de bebés nascidos com anomalias,
foram informados de que eles tinham contraído a infecção brucelose dos animais.
Não
foi antes do final da década de 1950 que os deportados sobreviventes tiveram a chance
de retornar à sua terra natal, mas, apesar de uma reabilitação parcial, eles continuavam
como cidadãos soviéticos de segunda categoria. Um grande número deles continuou
a estar sob a vigilância das autoridades de segurança; as suas propriedades confiscadas
não foram lhes devolvidas e nenhum perdão formal, alguma vez lhes foi emitido.
Fonte
e fotos. O filme de animação estónio “Body Memory” (Memória Corporal) de 2011,
foi realizado pelo Ülo Pikkov, com a música de Mirjam Tally. A película “tem
como conceito central a ideia de que o nosso corpo se lembra, não só as
experiências individuais, mas também a tristeza e a dor de nossos
predecessores. É uma poderosa visualização de processos subconscientes e o
horror oculto de deportação”. O filme foi inspirado por eventos históricos: as
deportações soviéticas da Estónia na década de 1940.
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