sexta-feira, março 07, 2014

A vocação suicida da esquerda contemporrânea *



por: Marco Lisboa **

Da série coisas que não entendo: por que parte da esquerda tem tamanha vocação suicida?

Outro dia, publiquei uma foto dos heróis da década de 1960-1970: Che, Allende, Ho Chi Minh, Lumumba, Muhamed Ali. Ao lado, para contrastar, os campeões atuais: Gadafi, o sodomizado; Kim III, o balofo; El Assad, o açougueiro de Damasco; Maduro, o ornitólogo e Putin, o gângster da KGB.

Fala sério. É só olhar para a cara das figurinhas.

Gadafi, com seus uniformes de coronel de ópera bufa, seus batalhões femininos, autor de um livro que é um besteirol atroz, onde tenta um sincretismo entre marxismo e tribalismo. O homem que mantinha convênio com a CIA para troca e tortura de prisioneiros e que financiou Sarkozy e Berlusconi.

O pequeno Kim. Marechal aos 30 anos, gênio militar, fã da Disney Parade, regente de bandas femininas, brega de com força. As referências à família real norte-coreana na sua imprensa, falam de milagres, cultuam a montanha de onde vieram esses semi-deuses, são de sabujice repugnante. O país é um imenso campo de concentração.

El-assad é aquele que promove um genocídio contra o próprio povo, nesse momento, usando a fome e os bombardeios. Aquele que não hesitou em usar armas químicas para decidir a seu favor uma guerra civil. O seu partido Baath, tempos atrás, flertou com o socialismo. Hoje em dia, se mantém graças a ajuda estrangeira e já exportou sua guerra para o vizinho Líbano.

Maduro, o Grande Motorneiro, que reivindica ser o herdeiro do socialismo do século XXI! Era adepto de um guru indiano charlatão, Baba Say e não se envergonha de recorrer aos expedientes os mais absurdos para se firmar como o herdeiro de Chávez. Conseguiu quebrar seu país em menos de um ano.

E, finalmente, a cereja do bolo, o homem que veio da KGB. A ascensão de Putin se confunde com a ascensão dos novos oligarcas russos. Usou a FSB explodir edifícios de apartamento na Rússia a fim de justificar um genocídio na Tchetchênia. É homofóbico, reacionário, xenófobo e governa como um legítimo autocrata. Um novo tsar, tentando reerguer um novo império.

Procurem nesses gênios da raça uma linha, um pensamento, uma reflexão que mereça ser endossada. Tirando um discurso anti-americano rasteiro e demagógico, não há nada. É uma vergonha que uma esquerda que se proponha civilizada tenha que fazer vista grossa a tamanha mediocridade intelectual.

Se fosse só esse o problema, já seria grave. Mas esses figurinhas são criminosas. Tem sangue em suas mãos. São pessoalmente corruptas. A mansão da corrupção de Yanukovich, o último ex-herói dessa esquerda patética, fala por si só. Como falou o palácio de Gadafi e suas torneiras de ouro. Como fala a ilha particular de Kim III, para onde leva de iate os seus convidados. Isso no meio da pobreza e das dificuldades dos povos de seus países.

Sobra como justificativa a geopolítica. Eles são o contrapeso necessário à expansão do imperialismo americano. Beleza. Para impedir que um imperialismo se expanda, devemos apoiar as guerras, as anexações e o expansionismo de outro. Aí a luta fica mais equilibrada. Legal. E a tarefa de construir uma sociedade justa fica duas vezes mais difícil.

Alguém deveria dizer a esses “teóricos” alucinados que o predomina hoje em dia é um acordo de mafiosos entre as grandes potências. A China é uma das maiores detentoras de títulos da dívida americana. A Rússia é membro do FMI e principal parceira da UE. O confronto entre elas se limita a definirem onde terminam os seus quintais. Não será sob a proteção de uma Rússia que invadiu o Afeganistão e devastou o Caúcaso que uma nação irá avançar para uma sociedade mais justa.

O resultado prático de tanta falsa retórica, para essa esquerda nostálgica, é só um: perda total de credibilidade política. Não dá para ser amiguinho de Kim III num dia e fingir no outro, no dia em que finalmente esse tiranete for deposto, que não sabia dos seus campos de concentração. O Dr. Google não perdoa. Os campos estão lá agora. A hora de condená-los é essa. São mais de 100.000 seres humanos. Será que vale a pena olhar para o lado e dizer que o que importa realmente é a geopolítica?

* O título do artigo é da responsabilidade deste blogue
** Membro do PC do B entre 1969 e 1983

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