por: Sergei Loiko,
fotógrafo
Eles estavam sentados no campo de futebol, como os prisioneiros da guerra
do filme do Aleksei German, cansados, condenados, traídos e abandonados...
Os soldados ucranianos que não chegaram a receber as ordens para atirar
contra os homens verdes não identificados, armados até os dentes, que, sem
disparar um único tiro, ocuparam o seu aeroporto militar.
Os vencedores russos olhavam com o desdém indiferente aos ucranianos
vencidos através das miras de suas espingardas automáticas, das metralhadoras,
dos lança-granadas e das espingardas de precisão.
Estava tudo muito quieto, triste e de alguma forma partindo o coração, até
que um soldadinho trouxe de algures a rasgada bola de futebol amarela.
As caras dos prisioneiros se iluminaram. Eles saltaram e começaram passando
a bola se dividir em equipas.
Aquele menino alegre, com uma cabeleira farta, que achou a bola, correu o
mais próximo até o soldado russo com metralhadora e gritou: “Rapaziada, vamos
jogar, a Rússia contra Ucrânia!”
“Para trás!” grunhiu o soldado mascarado, parecido simultaneamente com o
guerreiro da Guerra das Estrelas do exército do Darth Vader e com a Tartaruga Ninja.
O menino parou, como se recebesse um murro no estômago, deixou cair por um
segundo o seu sorriso sardento, mas de repente, recuperando o fôlego, balançou
o cabelo avermelhado e novamente gritou alegremente: “Bem, nós, vós aplicaremos
a derrota técnica!”
Por um segundinho, as nuvens sobre este funeral em massa de amizade
fraterna quase desapareceram e o sol branco brilhou, apenas com um olhinho...
“Para trás, caralho!” gritou o soldado russo, e, de repente, todos nós,
russos, ucranianos, buriatos, gregos, britânicos, japoneses, judeus e outros,
que estavam em redor, ficamos no fundo da nossa comum ravina de Babi Yar, sobre
a qual estava se elevar a figura sem rosto do soldado – libertador russo, vindo
a terra ucraniana para lutar contra o fascismo.
Soldado baixou a arma, virou a cara. Nós saímos do buraco. Os ucranianos
começaram o futebol. Os jornalistas, de bom grado, começaram filmar todo este
movimento.
E apenas um, vivido e grisalho repórter, que estava sentado em cima de uma
pilha de pneus velhos, que viu nesta vida mais guerra do que é mostrado no
cinema, virou a cara e os seus ombros estremeceram...
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