Este artigo foi planeado desde então. Mas sempre aparecia alguma coisa mais urgente ou mais importante. A morte, em 2006, de Aleksander Litvinenko, ex-agente de FSB (ex-KGB) russo e ucraniano de origem, envenenado pelo isótopo radioactivo “Plutónio - 210” em Londres, e todas as outras mortes que se seguiram apressaram a escrita do texto. Parece que o mundo está outra vez entrar na guerra fria, onde a KGB friamente assassinava os inimigos do Estado soviético. Lev Trotsky era “saneado” (no NKVD-MGB-KGB não se dizia “assassinar”, mas sim “sanear”) com uma picareta, ucranianos Yevhen Konovalets com uma bomba e Stepan Bandera com o veneno binário. Em 2004 o futuro presidente ucraniano, Viktor Yushenko, foi envenenado por uma toxina...
Dia 28 de novembro de 1970. Muito cedo, Alla Horska saiu da sua casa na rua Repin № 25, apartamento 6 (agora rua Tereshinkivska) em Kyiv, para visitar a casa do sogro na cidadezinha de Vasylkiv (40 km de Kyiv). Ela combinou com o sogro, que iria buscar uma maquina de costura, “Zinger”, do início do século – uma relíquia familiar. No dia 2 de Dezembro de 1970, Alla Horska foi encontrada morta, com o crânio rachado, na cave da casa do seu sogro – Ivan Zareckiy. Golpe foi feito por detrás, com um objecto pesado (martelo encontrado em casa do Zareckiy). Próprio Ivan Zareckiy, que não era visto desde 28 de Dezembro, foi encontrado no dia 29 de Novembro, na linha de comboio interurbano Kyiv – Fastiv, numa distância de cerca de 35 km da sua casa. Ivan Zareckiy estava deitado na linha de comboio, a sua cabeça era decepada. A procuradoria provincial de Kyiv, muito rapidamente, chegou a conclusão do que Ivan Zareckiy matou a nora por “desavenças pessoais” e suicidou-se. Já no dia 23 de janeiro de 1971 o caso foi dado como encerrado.
Alla Horska nasceu aos 18 de setembro de 1926 numa família pertencente à elite soviética. O seu pai, Oleksander V. Gorskiy sobreviveu os anos do estalinismo trabalhando como director dos Estúdios cinematográficos de Yalta (1931), Leninegrado (1933), Kyiv (1943), Odessa (1953-1961). No início da II G.M., ela viveu no Leninegrado, com a sua mãe, Olena Horska que era estilista de roupa para cinema. Nesta cidade elas passaram dois invernos de fome rigoroso, onde as pessoas morriam todos os dias. Na primavera de 1943, o seu irmão Arseniy, 10 anos mais velho, morreu combatendo os nazis e no verão do mesmo ano, Alla e sua mãe, são evacuados para a cidade de Alma-Aty (Casaquistão), onde o seu pai trabalha no Estúdio Conjunto de Cinema.
No fim de 1943, a família Horsky muda-se para o Kyiv, entretanto já retomado dos nazis pelo exército soviético. Alla Horska estuda na Escola de Artes Visuais (1946 – 1948, graduada com a medalha de ouro), frequentando o curso de Volodymyr Bondarenko. Em 1952 casa-se com colega de faculdade, Viktor Zareckiy e em 1954 é graduada pelo Instituto de Artes de Kyiv, onde os seus professores eram Mihaylo Sharonov e Serhiy Hrigoryev.
Nos anos 60-ta trabalhou nas aldeias de distrito de Chornobyl, onde criou os quadros: “Pripyat. Ferry-boat”, «Abecedário», «Pão». Usando a técnica de litogravura combinada com o desenho fiz os retratos de Taras Shevchenko, A. Petryckiy, Vasyl Symonenko. Cria uma série de retratos dos escritores e poetas: Boris Antonenko – Davydovych, Vasyl Symonenko, Ivan Svitlichniy, Yevhen Sverstyuk. Através das técnicas novas e revolucionárias tratava a imagem do poeta ucraniano Taras Shevchenko ou cineasta Oleksander Dovzhenko. Usando a técnica mais tradicional pintou os quadros: "Auto – retracto", "Mãe", "Aldeia". A pintora criou as decorações para os espectáculos «Faca no Sol» baseado no poema de Ivan Drach, «Assim morreu Guska» de Mykola Kulish, «Verdade e mentira» de Mykola Stelmakh (realizador era o jovem diretor teatral e futuro dissidente Les Tanyuk). As peças teatrais, já prontas para o palco, foram proibidas: a peça do escritor Kulish foi banida em Lviv e de Stelmakh em Odessa. Alla Horska também criou vários composições de mosaica e mais importante, deixou a memória de uma Pessoa e Artista.
Ao mesmo tempo, Alla Gorska aprendeu a língua ucraniana por opção política e estética, embora provinha de uma família onde se falava unicamente a idioma russo.
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Foto da artista, década de 1960 |
Horska foi uma dos organizadores do Clube da juventude criativa “Suchasnyk” (
Contemporâneo). Clube foi aberto em 1962 por feliz acaso, já que uma delegação dos comunistas canadianos foi visitar a Ucrânia, manifestando o desejo de conhecer a juventude ucraniana (em 1964 o Clube foi fechado). Em 1962—1963 junto com o Vasyl Symonenko e Les Tanyuk ela participou em buscas de campas de pessoas assassinadas pela NKVD nos anos 30-40 e sepultados em segredo nos cemitérios de Kyiv e na zona de Bykivnia (arredores de Kyiv). Como resultado destas buscas, os jovens ucranianos prepararam um documento intitulado “Memorando № 2”, que foi entregue ao Conselho municipal de Kyiv. Provavelmente naquele tempo, Alla Horska começou a ser vigiada pela KGB. O seu amigo Vasyl Symonenko foi várias vezes espancado pela polícia e morreu de nefrite em 1963.
Em 1964, preparando-se para comemorar 150 anos do nascimento de Taras Shevchenko, Alla Horska, juntamente com artistas plásticos Opanas Zalivakha, Lioudmila Semykina, Galina Zubchenko e Galina Sevruk criaram na Universidade de Kyiv o vitral “Shevchenko. Mãe”. (Vitral mostrava Taras Shevchenko irritado, que com uma mão abraçava uma mulher – Ucrânia injustiçada e com outra mão levantada bem alto, segurava o livro. A figura era acompanhada pelo dizer: "Engrandecerei os pequeninos, aqueles servos mudos, e na vigia junto deles, eu colocarei uma palavra"). Vitral foi destruído pela calada da noite de 8 à 9 de março pela administração da Universidade, a mando do secretário da ideologia do comité do partido comunista de Kyiv, Boychenko. Uma comissão de inquérito, chamada a intervir posteriormente, estudou os estilhaços e chegou a conclusão que vitral era “ideologicamente desordenado”. Alla Gorska foi expulsa da União dos Pintores da Ucrânia, embora mais tarde readmitida nesta organização profissional.
Agosto – Setembro de 1965. Uma onda de prisões da KGB atingiu os intelectuais da Ucrânia. Alla Horska era várias vezes chamada a depor. No dia 16 de dezembro de 1965 ela apresenta uma queixa a Procuradoria da República. Mais tarde, em 1967 ela participa no processo de Vyacheslav Chornovil em Lviv, onde assinou uma carta colectiva denunciando as fraudes processuais do caso.
Alla Horska também trocava a correspondência com os prisioneiros políticos do regime. Em abril de 1966 ela assinou uma petição para defesa do Opanas Zalivakha. Vários prisioneiros políticos, combatentes de OUN – UPA, depois de cumprir as condenações injustas, recorriam à sua ajuda, encontravam um lar temporário na sua casa. Todos estes encontros decorriam numa atmosfera festiva e optimista. KGB criou um sistema terrível para “educar” as pessoas a sua maneira, mas uma simples pintora estragava todo o “trabalho”...
Em 1968 Horska assinou uma carta aberta ao Leonid Brezhnev, Aleksey Kosygin e Nikolay Podgorniy com exigência de parar a prática de processos políticos ilegais. Carta, conhecida como “Carta de protesto de 139” foi escrita usando uma linguagem muito branda, tolerante e cuidadosa. Carta falava do esquecimento das deliberações do XX Congresso da PCUS (Congresso onde Khrushev denunciou o culto de Stalin), chamava a atenção sobre as violações sistemáticas de “legalidade socialista”.
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Alla Horska: "Menino" |
O poder comunista tomou uma pequena pausa, depois começaram as repressões contra os assinantes da carta. Em Kyiv e em toda a Ucrânia foram postos circular os rumores da existência de “um grupo terrorista dos seguidores de Stepan Bandera”, coordenado pelos “serviços secretos ocidentais”. Alla Horska era tida como “um dos chefões do grupo”.
Agora se sabe, que depois de Primavera de Praga de 1968 e da posterior invasão de Checoslováquia, o comité central de PCUS tomou uma deliberação secreta de “reforçar o trabalho ideológico e propagandista”. Os estalinistas voltaram ao Kremlin e KGB foi encarregue de reforçar a luta contra os dissidentes.
Desde a segunda metade de 1968 Alla Horska e seu marido Viktor Zareckiy passaram a ser seguidos, muitas vezes de maneira abertamente visível. O casal recebia as ameaças, os peões na rua ou cidadãos “anónimos” no transporte público diziam: “Vocês vão ver as suas brincadeiras, vocês vão ter o troco” e outras coisas. A sua casa era muitas das vezes vigiada, Alla Horska era constantemente convocada para “conversas de família” no KGB. Que a pedia “repensar a sua vida antes de ser muito tarde”, mudar a sua visão do poder soviético, explicavam: “você involuntariamente trabalha para os nossos inimigos no estrangeiro”, etc. Depois as conversas tomavam um tom mais ameaçador, KGB tentava quebrar artista psicologicamente.
Os seus vizinhos, Ada e Yakiv Chervinski conseguiram emigrar para o Israel em 1975. Só naquela altura eles confessaram que desde 1964, KGB usava o apartamento deles para através de um potente microfone escutar as conversas na casa de Horska. O telefone dela também estava sob escuta.
Em 1970 Horska foi chamada a depor para o interrogatório na cidade de Ivano – Frankivsk, no caso do historiador e dissidente Valentyn Moroz. Ela recusou-se a comparecer, mas escreveu um protesto para o Tribunal Supremo da Ucrânia sobre a ilegalidade e brutalidade de sentença.
Alla Horska em conjunto com o seu marido Viktor Zareckiy (1925—1990), outros artistas plásticos: Hrygoriy Synycia, Gennadiy Marchenko, Borys Plaksiy, Galina Zubchenko criaram na segunda metade dos anos 1960-ta um conjunto de obras monumentais nas cidades de Donetsk, Kyiv, Krasnodon. Era um pequeno nicho dentro da arte oficial. Por isso Alla Gorska tinha em seu poder certos valores monetários, que usava para ajudar os prisioneiros políticos ou os seus familiares. Provavelmente ela era a “caixa” dos dissidentes em Kyiv. De vez em quanto ela também recebia encomendas de Canada e EUA. Ela também costumava comprar 30-40 livros do romance «Sobor» de Oles Honchar ou «Malvy» de Ivanchuk e oferecia ou emprestava às pessoas de confiança. Estes livros não eram proibidos, mas eram indesejáveis, ignorados. Outros livros, «História da Ucrânia», já dava o “direito” de prisão e condenação, pois era editada em 1942 em Lviv, quer dizer durante ocupação nazi. Alla Gorska, Ivan Svitlychniy, Vyacheslav Chornovil faziam parte desta rede de resistência organizada ao regime e claro, KGB não queria tolerar a afronta tão grave. Por isso, ou talvez por causa de alguns outros aspectos de actividade de Alla Horska, poder comunista decidiu assassina-la, insinuando “desavenças pessoais” com o sogro. O mais provável, que a decisão foi tomada em Moscovo, pois o sistema era brutalmente centralizado e as estruturas locais de KGB não tinham o direito de tomar essa iniciativa. Na verdade, não é possível dizer com a segurança que Alla Horska foi assassinada pelos operativos do KGB. Não sabemos se foi a KGB, se foi o GRU (inelegância de exército) ou se foi um outro grupo de extermínio (ou assassino individual) às ordens do KGB, e este, às do Comité Central do PCUS.
Todos os amigos de Alla Horska, que participaram no seu enterro no dia 7 de dezembro de 1970, no cemitério de Berkivtsi (arredores longínquas de Kyiv): Yevhen Sverstyuk, Vasyl Stus, Ivan Gel, Oles Serhienko foram presos à seguir. O mundo soube da sua morte pelo “
Ukrayinskiy visnyk №4” (
Informe Ucraniano), jornal clandestino redigido pelo dissidente Vyacheslav Chornovil, que contava a verdade sobre as violações de direitos humanos na Ucrânia soviética.
A neta dum dos maiores poetas da Ucrânia do século XX, Ivan Frankó, conseguiu a autorização para sepultar o corpo de Alla Horska no cemitério de Baykove (cidade de Kyiv). Mas no último momento a autorização foi anulada, o dia do enterro transferido de 4 de dezembro (sexta – feira) para 7 de dezembro (segunda – feira) e artista foi sepultada no cemitério de Berkivtsi (para que o seu enterro não se transformar numa manifestação contra o regime).
Ano 1972 era o ano trágico para a elite intelectual da Ucrânia, os dissidentes eram presos e condenados aos longos anos de prisão, geralmente eram 7 anos de cadeia e 5 anos de deportação. Era o início de um circuito infernal: Ivan Svitlichniy voltou para Kyiv gravemente doente, Vasyl Stus voltou em 1989 já no caixão, começaram as falsificações dos processos, os dissidentes eram condenados pelos supostos roubos ou estupros. Outros eram enviados para os hospitais psiquiátricos, onde sadicamente eram “curados” pelos “psiquiatras” soviéticos.
Então, voltaremos ao dia negro de 28 de novembro de 1970. Alla Horska saiu de casa para visitar o sogro e não voltou mais. No dia seguinte, o seu marido, Viktor tentou marcar uma conversa telefónica com ela nos correios de Vasylkiv. Mas ninguém veio para os correios. No dia 1 de dezembro, Viltor Zareckiy foi à casa do seu pai, que entretanto estava vazia. Milícia (polícia) local disse que não irá abrir a casa, pois tinham que arranjar os testemunhos, mas já era noite...
Viktor Zareckiy voltou para Kyiv com o último autocarro e logo recorreu aos amigos. No dia seguinte, ele foi a Vasylkiv junto com amigos íntimos de Alla, jornalista Nadía Svitlichna e poeta e crítico literário Yevhen Sverstyuk. Eles obrigaram a policia abrir a casa, numa cave pouco profunda foi encontrado o corpo de Alla Horska. Mais tarde, um dos amigos da Alla, Mykola Hryshko encontrou no quintal da casa uns bigodes postiços, eventualmente usados pelo assassino. Policia prendeu Viktor Zareckiy, tentando o obrigar à confessar que matou a esposa por causa dos ciúmes, depois foi inventada uma outra versão, de desavenças pessoais entre Ivan Zareckiy e Alla Horska. Alguns semanas mais tarde, quando Viktor Zareckiy foi chamado ao Ministério do Interior provincial, o investigador, Sr. Cherniy devolveu uma parte dos pertences pessoais de Alla e dois pares dos óculos pertencentes ao Ivan Zareckiy, dentro de estojo. Viktor perguntou se a sua esposa sofreu na hora de morrer. Oficial respondeu: “
foi assassinada com uma única pancada, de maneira profissional”. Isso é muito importante, pois Ivan Zareckiy, considerado único culpado do crime, toda a sua vida trabalhou como contabilista. Também era estranho que os dois pares de óculos, que Sr. Zareckiy usava, sobreviveram a colisão com comboio. É muito difícil imaginar, que a pessoa tira os óculos, guarda os no estojo e só depois deita-se direitinho na linha férrea...
Depois disso, ninguém da família de Alla Horska recebeu alguma informação sobre o andamento do processo, reconhecimento do corpo pelos familiares não foi feito, os resultados de análise do medico legista não foram conhecidos. Policia não fiz nenhuma busca na casa de Ivan Zareckiy. Também não se percebe como os operacionais da KGB, que andavam atrás de Alla Horska por todo o lado, não viram o assassino.
A família decidiu não recorrer à justiça soviética, a “mais justa em todo o mundo”. O pai de Alla, Oleksandr achava que isso não é apenas inútil, mas também é perigoso, situação na Ucrânia parecia com as purgas de 1937 – 1939.
Em 1991 cineasta ucraniano Serhiy Dudka fiz o filme documental sobre a Alla Horska. Em 1990—1991 organização da defesa dos direitos humanos «Memorial» e o seu filho, Oleksiy Zareckiy recorreram a procuradoria provincial de Kyiv. A procuradoria respondeu (12 de abril de 1990 e 19 de Setembro de 1991) — “o caso é uma morte quotidiana, por causa das desavenças pessoais”, carta também dizia que Alla Horska não participava em nenhuma actividade política, foi expulsa da União de pintores por razões artísticas (Sic!)
O seu caso, sob o número 10092 ficou arquivado vários anos na procuradoria provincial de Kyiv. Muito mais tempo, do que é articulado nos termos da Lei (apenas 15 anos, depois caso é destruído). Junto com a advogada Lioudmila Vonsonova, Oleksiy Zareckiy preparou um a carta para o Procurador – Geral da Ucrânia onde eram citados vários atropelos do código penal, cometidos na condução deste processo. Mas nem a ajuda do deputado do Parlamento ucraniano Les Tanyuk, mereceu qualquer resposta da procuradoria da Ucrânia (inquérito № 06—13/23—477 de 22.10.91). Mais tarde, um grupo dos cidadãos notáveis da Ucrânia, em 15 de Março de 1992, portanto já no país independente, escreveram uma carta ao Procurador – Geral da Ucrânia Viktor Shishkin e para o chefe do SNBU/SBU (ex-KGB ucraniano) Yevhen Marchuk e também não houve nenhuma resposta.
Ministra de Cultura, Larisa Khorolec telefonava para o Procurador – Geral, pedindo ao Viktor Shishkin controlar o caso pessoalmente. Sem nenhum resultado. O investigador, que preparou a primeira resposta, desligava o telefone na cara de Olexiy Zareckiy. Nem os materiais do caso conseguiu ver o filho de Alla Horska, o seu pedido neste sentido foi negado.
Jornalista Serhiy Bilokin fiz a sua própria investigação criminal, ele era consultado por um criminalista muito experiente, Conselheiro da justiça Borys Timoshenko, que fiz uma peritagem criminalística geral do caso. Borys Timoshenko encontrou várias disparidades na versão sobre o suicídio do Ivan Zareckiy. Não foram feitas as desinências para encontrar o comboio que matou o Sr. Ivan, não fizeram as análises de sangue da vítima (se o corpo foi deitado na linha férrea, é bem possível que primeiro essa pessoa foi drogada), não foram inquiridos as testemunhas. Não foi feita a perícia trassológica das gotas de sangue de Alla Horska, isso podia permitir determinar a posição do seu corpo no momento da pancada fatal. Sr. Ivan tinha 69 anos, sobreviveu um infarte, tinha arritmia no coração, andava devagarinho, usando uma bengala. Seria muito difícil ele conseguir fazer uma pancada à uma pessoa forte, de 41 anos e depois atirar o corpo à cave. E outra coisa, embora o crime foi logo qualificado como “costumeiro”, desde início ele tinha num controlo especial.
Neste momento, Oleksiy Zareckiy conseguiu abrir duas placas comemorativas em memória da sua mãe: em casa onde a família vivia e da onde Alla Horska saiu para nunca mais voltar e em casa onde ela foi assassinada pelo regime soviético em Vasylkiv. No museu nacional da Ucrânia foi organizada a exposição dos trabalhos de artista. Em 1996 foi editado o livro «Alla Horska. A sombra vermelha de
kalyna», sobre a sua vida e a trágica morte. No início de 2000, jornalista Olena Levchenko terminou a montagem de um filme documental, que durante 1,5 horas conta a vida desta artista.
É bem possível que alguns organizadores e participantes deste crime ainda estão vivos. Embora é completamente irrisório esperar a sua confissão voluntária, Ucrânia não têm nenhuma “comissão de verdade e reconciliação” e os carrascos vivem bem, recebendo as reformas chorudas do estado ucraniano, que combateram durante toda a sua vida. Já citado jornalista Serhiy Bilokin, no início de 2000, conseguiu uma entrevista com um dos investigadores do caso Gorska. Hoje, reformado, ex - funcionário da polícia teimava em defender as sentenças produzidas pelos investigadores de 1970—1971. Pelos dados obtidos através dos oficiais de SBU (ex-KGB ucraniana) no anonimato, o caso Horska, conservado nos arquivos de SBU, levou no início dos anos 1990 uma limpeza profunda dos documentos. Isso quer dizer que SBU tinha razões para evitar contactos com os familiares de Alla Horska.
Oleksiy Zareckiy escreveu a carta ao Presidente da Ucrânia, Viktor Yushenko, solicitando a reabertura do processo da sua mãe. O novo poder ucraniano têm a oportunidade de conhecer os métodos de falsificações, de sonegação de arquivos. O circuito fechado de mentiras e mais – verdades terá que ser rompido. A mentalidade soviética, mentalidade prisional em muitos dos aspectos ficou conservada na Ucrânia actual, mas a Nação terá lutar contra esta herança. Ou pelo menos tentar livrar-se dela.
Ler mais:
http://www.zerkalo-nedeli.com/nn/show/542/49794/ (em ucraniano)
http://memorial.org.ua/education/draw/6/1.htm (em ucraniano)