No mundo é amplamente conhecido o nome do estudante checo, Jan Palach (11.08.1948 - 19.01.1969), que no dia 16 de janeiro de 1969, protestando contra a ocupação da Checoslováquia palas tropas do Pacto da Varsóvia, imolou-se na praça Wenceslas (junto ao Monumento de São Wenceslas) na cidade de Praga. Mas o jovem checo tinha um exemplo a seguir – ucraniano Vasyl Makukh queimou-se vivo no dia 5 de novembro de 1968 na capital da Ucrânia, cidade de Kyiv.
por: Guennadiy Sakharov
Vasyl Makukh protestava contra a ocupação de Checoslováquia pelos países socialistas, mas também contra ocupação da Ucrânia pelo regime soviético, contra a russificação total, à favor da independência da Ucrânia.
O manual publicado pela Universidade de Lviv, tem pouca informação sobre o herói ucraniano:
«Makukh, Vasyl (14.11.1921 - 06.11.1968) – activista dos direitos humanos ucraniano. Nasceu na aldeia de Kariv, conselho de Sokal, província de Lviv. Desde 1944 era membro de Exército Insurgente da Ucrânia (UPA), fazia parte de inteligência militar. Em fevereiro de 1946 foi ferido em combate e preso pela NKVD. Condenado à 10 anos de campos de concentração e 5 anos de deportação. Depois de cumprir a pena, foi impedido de voltar a sua Galiza natal, escolheu viver na cidade de Dnipropetrovsk. Participou no movimento ucraniano de defesa dos direitos humanos nos anos 1960. No dia 5 de Novembro de 1968, Vasyl Makukh, protestando contra o sistema comunista totalitário, estatuto colonial da Ucrânia, política da russificação e agressão da URSS contra a Checoslováquia, perpetuou o acto de auto – imolação na avenida Khreshatyk em Kyiv.»
Depois de ser preso pela NKVD, Vasyl Makukh passou pelos campos mortíferos da Mordóvia, estive preso na Sibéria. Proibido de voltar a Galiza, viveu nos arredores da cidade de Dnipropetrovsk, aldeia de Klochko, rua de Pozhezhna, onde casou com a Lídia, mulher que conheceu durante a sua deportação. Lídia, presa aos 17 anos de idade, também passou 10 anos nos campos de concentração e 5 anos de deportação na Sibéria, mas saiu em liberdade dois anos mais cedo. A sua culpa? Durante a II G.M. fazia parte de um agrupamento cultural, que actuava perante as tropas alemãs e dos seus aliados.
Casal Makukh tive duas crianças: filho Volodymyr e filha Olha. Vasyl primeiro trabalhava como serralheiro, estudando a noite, depois entrou no ensino médio. Mas logo foi expulso, quando alguém denunciou o seu passado político. Continuava estudar sozinho. Visitando a família na Galiza, Vasyl Makukh falava sobre a política anti – ucraniana das autoridades estatais do leste da Ucrânia, a política de russificação total de toda a vida social, sobre o seu desejo de tornar-se mártir em nome da Ucrânia.
No outono de 1968, Vasyl Makukh foi mais uma vez à Galiza, para visitar a família. Antes de ir à Lviv, disse a esposa: “Se algo me acontecer, saibam que amo vós todos, amo muito”. Já estando na Galiza, escreveu algumas cartas aos amigos de Nikopol, Kyiv, Dnipro, duas cartas para a esposa. Todas elas terminavam: “Glória à Ucrânia!” Viajou para Kyiv, não levou a mala, apenas algumas maças e um recipiente, para a sobrinha Yaroslava Osmylovska disse que era sumo. Depois, descobriu-se que desapareceu o bidão de gasolina da garagem...
7 de novembro de 1968. Poder comunista preparava-se para o desfile militar, dedicado à aniversário da revolução bolchevique de 1917. A oposição nacional preparava a demonstração do protesto contra a invasão da Checoslováquia. Mas os organizadores foram traídos e Vasyl Makukh ficou sozinho. No dia 5 de Novembro de 1968 ele queimou-se publicamente na rua Khreshatyk, regando-se com a gasolina. A chama humana ardia em Kyiv, as últimas palavras do Vasyl Makukh eram: “Fora os colonos! Viva a Ucrânia livre!”. No dia 6 de Novembro, Vasyl Makukh morreu num hospital de Kyiv, na unidade de queimados. Uma testemunha conta, que alguém do pessoal médico disse a Vasyl: “você tornou os seus filhos órfãos”. Vasyl, recuperando os sentidos por breves estantes respondeu com muita dignidade: “neste momento nós todos somos órfãos”.
Lídia foi avisada sobre a morte do marido pelos desconhecidos. Quando ela e o cunhado Ivan Cipukh, foram buscar o corpo do Vasyl em Kyiv, ambos foram presos pela KGB, encarcerados durante uma noite e levados à casa mortuária sob vigia, apenas no dia seguinte. Ambos eram constantemente vigiados, para não pudessem falarem com ninguém, os nomes de todas as pessoas que participaram na cerimónia do enterro do Vasyl, foram anotados pelos agentes da KGB. A irmã do Vasyl, que vivia na Galiza, já no dia 7 de novembro foi chamada ao KGB do seu conselho, onde foi brutalmente espancada, morrendo em consequência dessa violência dois anos depois. Lídia Makukh foi despedida do serviço, durante alguns anos ela não conseguia encontrar nenhum emprego, para sobreviver foi obrigada a vender todos os haveres da família.
Em 2006, Lídia Makukh, já com 80 anos de idade recebia a reforma estatal e mais uma pensão pequena pelo seu marido. Vasyl Makukh têm uma campa muito simples na aldeia de Klochko, longe da sua Galiza amada.
A Organização dos ex-prisioneiros políticos e vítimas das repressões, outras organizações políticas da cidade de Dnipro, endereçou a petição ao Presidente da Ucrânia, na altura Viktor Yushenko, para que o Vasyl Makukh pudesse ser condecorado ao titulo póstumo, com a medalha de Herói da Ucrânia. O Conselho municipal de Dnipro recebeu a proposta de atribuir o nome de Vasyl Makukh à uma das avenidas da cidade. Também podia-se pensar em erguer o monumento do homem – chama em Dnipro.
A ponte pedestre em Praga chamada em memória do Vasyl Makukh em 2018. foto @Embaixada da Ucrânia na República Checa |
Ler mais:
http://tema.in.ua/article/?id=956 (em ucraniano)
http://umoloda.kiev.ua/number/194/163/6839/ (em ucraniano)
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