sexta-feira, janeiro 05, 2018

Como hoje vive Ucrânia: as notas sibjetivas (10 fotos)

A guerra na Donbas está baixar de intensidade, os protestos dos apoiantes de Saakashvili também diminuíram, o país visivelmente se acalmou. No entanto, em um pouco mais de um ano decorrerão as eleições presidenciais, o seu resultado pode ser difícil de prever.

A situação da Ucrânia é descrita pelo blogueiro ucraniano Ihor Radysyuk, publicamos o seu texto, sem omissões e na primeira pessoa.
 
Objetividade e percepção

Ucrânia vive um grande contraste entre objetividade e realidade. Objetividade — o país está sendo construído como provavelmente nunca antes, desde o colapso da URSS. Ao lado da minha casa no início da década de 1990, começaram a construir uma escola e, abandonaram, após erguer os alicerces. Com [Petró] Poroshenko, a escola está sendo terminada em tempo recorde. Somente nos últimos 3 meses, perto da minha casa, foram construídas duas pontes para pedestres.

Desapareceu a sensação de desesperança, que havia há 3 anos, quando a guerra com a Rússia se sentia em todos os lados, quando trabalhávamos para quebrar, e tudo, de certa forma era triste. Provavelmente muitos até já se esqueceram) As pessoas possuem o dinheiro. Um grande número de pequenas mudanças, muitas das quais não produzirão fruto imediatamente.
Os apoiantes de Saakashvili empurram, protegendo, ao mesmo tempo, um polícia ucraniano
E tudo isso, tendo em conta os grandes gastos com a guerra, pagamento da dívida externa – com Poroshenko, Ucrânia, pela primeira vez na sua história começou a reduzir a sua dívida externa e também acumulou o maior valor no Tesouro do que em todos os anos anteriores. Esta é a realidade objetiva. Agora quanto à realidade subjetiva. Perguntando a quase qualquer um – e todos dirão que tudo está mau. Ucranianos, como é claro, dizem mal do qualquer poder, e Poroshenko não é uma exceção. Quase todos vão dizer que tudo é mau/ruim, nada muda, e assim por diante.

OAT, Europa e sanções

OAT. Não sei. E parece-me que ninguém realmente sabe. Todos os dias, nos dois últimos anos é a mesma coisa – eles dispararam contra nós, nós respondemos. Do nosso lado, foram feridas 3-5 pessoas. Aborrecida guerra posicional. De acordo com os dados das Forças Armadas da Ucrânia (FAU), em 2017, foram mortos 198 soldados ucranianos. Com estes números, a imprensa tem preguiça de discutir o tema, não há eventos marcantes.
A foto é do fim de 2015, nas vésperas da batalha de Debaltseve
Parece-me que a gripe matou mais [em 2017] do que essa guerra.

Alguém dos militares me disse em Kyiv que as forças ucranianas minaram tanto espaço em torno de Donbas (em caso de um ataque forte) que se eles [separatistas] se renderem, provavelmente teremos que limpar o território das nossas próprias minas durante anos. [Oleksandr] Turchinov se gabou que no ano passado [2017] apenas recuperamos o território, e não perdemos nem um único metro quadrado.

Europa? Também nada. Concederam o regime de isenção de vistos, e foi tudo. Talvez eu não estou atento, trabalho muito, e não sigo muito [as notícias]. Mas sinceramente, não vejo nada marcante, ou pelo menos eventos importantes. Um evento importante é que os EUA finalmente forneceram as armas. Não tanto por causa das próprias armas, quanto pelo facto. A Rússia é gradualmente estrangulada com sanções e continuará sufocada por muitos anos. A mesma política é usada pela Ucrânia – ganhar não através de um blitzkrieg, perdendo milhões de soldados, mas devagar e corretamente. A perda de 198 soldados em todo ano de 2017 – acho que são números muito pequenos.
Mikheil Saakashvili numa manif dos seus apoiantes
Nos últimos seis meses, o Kremlin, como se poderia ter observado, tentou abanar Ucrânia por dentro. Não funcionou. Eu estava na Maydan, quando decorriam os eventos com Mikheil [Saakashvili] – na verdade, quase ninguém o apoia. E aqueles que estavam lá, provavelmente, era a maior [parte da] espinha dorsal de todos os seus apoiantes.

Coisas boas e coisas más

Coisas más – recentemente visitei a província: Zaporizhia e Dnipro. Como se eu entrasse em uma outra dimensão – tudo é preenchido com anúncios publicitários sobre a oferta do trabalho na Polónia. Com todos com quem falei, acreditam que todos roubam, tudo é mau/ruim e não acreditam em nenhuma autoridade.
Coisas boas – duas vezes usei [o sistema de viagens à UE] sem o visto. Na primeira viagem, eles perguntaram apenas o propósito da visita e carimbaram [o passaporte]. Na segunda viagem, até tinham a preguiça de fazer qualquer perguntada, apenas levaram/pegaram o passaporte, carimbaram e disseram Next!

Aqui em geral ... creio que está tudo na mesma. Penso que os resultados devem ser contabilizados daqui à um ano, mais próximos ao fim da presidência do Poroshenko.

«Por dois lados de barricada»

Honestamente, há mais um contraste – entre aquilo que os ucranianos consideram realmente importante e o que os nossos vizinhos acham que é importante. Fora da Ucrânia dão atenção especial aos “problemas de língua”. Os ucranianos nunca pensaram nisso – porque o problema nunca existiu na realidade. Os de fora dão muita atenção à todos os [movimentos] “anti-Maydan”, ou aos outros “Maydanes que derrubarão Poroshenko”. Em Kyiv, o que parece, ninguém se importa com isso.
O que é realmente importante é a sujidade de transporte público na cidade, “as marshrutkas”, e a resposta à questão: quem finalmente irá limpar a estação de metro “Kharkivska” – por algum motivo, os “vizinhos” não estão interessados nisso =))

Nacionalismo e pensões

As boas notícias foram aumentos significativos das pensões (não apenas um pequeno aumento, mas provavelmente o mais notável em todo o período da pós-Independência), salários dos trabalhadores do estado, e assim por diante. E o mais importante, estão mudando globalmente os princípios internos de funcionamento [do Estado]. Estou certo de que daqui aos 5-10 anos Ucrânia será completamente diferente.
Creio que há menos nacionalismo. Na minha opinião, o nacionalismo florescente, no bom sentido – era a defensiva reação natural das pessoas à agressão externa, eu me lembro claramente em 2013-2014. Agora ... de alguma forma, as manifestações externas [do nacionalismo] diminuíram. Eu acho que isso se deve à uma prolongada guerra posicional e muito trabalho feito dentro do país. No entanto, nada passou sem deixar rasto: as pessoas começaram a amar muito mais o seu próprio país.

O que aconteceu com os emigrantes económicos

A orientação ao Ocidente apenas se intensificou. Quando recentemente os meus amigos procuravam por uma coisa grande e rara, então, além do OLX ucraniano, de uma forma natural procuram no OLX polaco/polonês e em outros locais. Se lá é mais barato – o que impede viajar, levar/pegar, trazer para Kyiv? Até recentemente, parece-me, que os seus cérebros não funcionavam dessa maneira.
Continuo a observar os amigos emigrantes económicos, que até o ano de 2013, todos os anos, iam para Moscovo no período de verão para trabalhar nas obras. Todos são do interior da Ucrânia ocidental. Até o momento, de todos eles, apenas alguns viajaram [para Rússia] neste ano e, voltando, disseram que viajaram pela última vez – simplesmente deixou de ser lucrativo. O resto, como eu vejo, quase todos, se reorientaram para trabalhar na Ucrânia – um deles abriu uma oficina/produtora, outros investiram no setor de serviços, outros simplesmente trabalham nos empregos formais.

Outra observação: à Rússia, muitas vezes, viajavam de forma sazonal – ganhavam dinheiro – voltavam para casa, em família – investiram aqui. Ou seja, a grande maioria não ia para lá ficar. Da mesma forma, agora eles falam sobre “o senhor polacos/polonês”. Se em 2014 muitos conhecidos tinham a mentalidade de “temos que ir embora” – agora, parece-me, isso já não existe. É claro, sempre há pessoas que se mudam para algum outro lugar, estou falar do “comportamento médio”.
À Polónia, mesmo quando vão, é para o trabalho sazonal e depois voltam para casa.

Hábitos e cultura

Sim! O que aconteceu exatamente no decorrer do ano passado é um aumento notável da [produção] da música, da cultura e dos livros ucranianos em língua ucraniana (até recentemente, quase não havia livros infantis normais em ucraniano, tinha que comprar em língua russa), pela primeira vez começamos produzir os filmes e cartoons em ucraniano. Até recentemente, todas as máquinas / electrodomésticos eram vendidos com manuais e todas as instruções em russo (para que o fabricante gastaria dinheiro em localização, se “eles entenderão”? Assim podiam vender os bens criados para o mercado russo) – agora, novamente, de forma subjetiva, a quantidade de bens localizados aumentou visivelmente. Além disso, os itens são fabricados para o mercado da UE, e localizados para Ucrânia, e não para a CEI, como era dantes.
A cultura ucraniana floresce. Este é um facto que este ano se tornou notável para muitos. Estamos aguardando alguns anos para ver os primeiros resultados.

É incrível ver como mudam os hábitos das pessoas em pouco tempo. Muitos amigos neste ano celebraram o Natal em 25 de dezembro, em grande escala. Parece-me que não haverá mais forças para o dia 7 de janeiro. Usando a minha bola de cristal prevejo que na próxima década, o Natal principal na Ucrânia será 25 de dezembro e o dia 7 de janeiro será algo como o dia 13 de janeiro (“o velho ano novo”). Uma espécie de anacronismo.

Hoje, alguns não concordarão comigo, mas estou pronto para apostar e voltar à essa questão daqui à 10 anos)). Agora tenho certeza: se introduzir o alfabeto latino paralelamente com o alfabeto cirílico, então, no máximo de uma geração, Ucrânia mudará suavemente e naturalmente ao alfabeto latino.

Eleições e Rússia

É muito interessante que haverá daqui à um ano nas eleições. Eu quero acreditar que Poroshenko vencerá (apesar de haver muitas reclamações/reivindicações), mas parece que o populismo está muito presente no nosso povo e pode vencer um populista voraz que promete formas supostamente simples de resolver os problemas complexos.

Além disso, parece-me que o resultado das novas eleições pode determinar a dita “província”, onde não há “nenhuma mudança, tudo é mau/ruim, devolvem nos a mortadela [ao preço soviético de] 2,50 [rublos]”.

Bem, acho que já disse que aos ucranianos se tornou profundamente indiferente o que está se passando na Rússia. Se não disse, então digo novamente – profundamente indiferente.

Eu nem sei quais músicas são lá populares, e nem quero saber. E apenas alguns anos atrás, todos vivíamos na mesma lixeira cultural. Se algo acontecesse, todos sabiam. Você se lembra de como [Alexey] Navalny era convidado para a TV ucraniana? Agora é profundamente indiferente. E isso, na minha opinião, é ótimo)))
Ganhamos a guerra na Donbas — é apenas uma questão de tempo. A integração europeia da Ucrânia também é uma questão de futuro próximo. Além de outras questões.

Tudo ficará bem))

Fotos: GettyImages | Texto: Ihor Radysyuk | Original: blogue do Maxim Mirovich

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