domingo, janeiro 28, 2018

Os crimes da resistência anticomunista polaca são revelados na Polónia

Em fevereiro de 2018, na Polónia, será publicado o livro histórico Skazy na Pancerzach: czarne karty epopei Zolnierzy Wykletych (Crostas na Armadura. Páginas negras da epopeia dos soldados amaldiçoados), dedicado aos crimes de guerra, cometidos pela resistência anticomunista polaca contra as populações civis belarusas, judias e ucranianas.

Na historiografia polaca, as forças nacionalistas polacas, que lutaram contra o regime comunista, tais como: Narodowe Siły Zbrojne (NSZ), Armia Krajowa Obywatelska (AKO), Wolność i Niezawisłość (WIN), receberam a designação geral de “soldados amaldiçoados”.

Como escreve no seu Facebook o autor do livro, historiador polaco/polonês Piotr Zychowicz: “Não há dúvida de que os “soldados amaldiçoados” lutaram corajosamente por uma causa certa. No entanto, isso não significa que todos eram heróis, como nos querem convencer os “bronzeadores” da nossa história”. Além disso, o jovem historiador exorta os seus concidadãos: “Não somos comunistas – não mentiremos sobre a nossa própria história”.

O livro conta a verdade histórica sobre os vários crimes de guerra cometidos por diversos comandantes conhecidos e destacados da resistência anticomunista polaca, ativos durante e após a II G.M.: Romuald Rajs “Bury”; Józef Kuraś “Orzeł” (desde junho de 1943 “Ogień”);  Zygmunt Szendzielarz “Łupaszka”; Mieczysław Pazderski “Szary”; Józef Zadzierski “Wołyniak”; Józef Biss “Wacław” e diversos outros “soldados amaldiçoados”.

Zygmunt Szendzielarz “Łupaszka” cometia os crimes contra populações civis belarusas e lituanas. Romuald Rajs “Bury” queimava e destruía as aldeias belarusas, juntamente com os seus moradores na região de Podlachia. Józef Kuraś “Ogień” é conhecido pelos pogroms e perseguição das comunidades judaicas, sobreviventes do Holocausto nazi (por exemplo, assassinato, à sangue fria, das 13 pessoas de etnia judaica nos arredores da aldeia de Krościenko nad Dunajcem em 2 de maio de 1946).

Mieczysław Pazderski “Szary” participou no ataque do grupo armado polaco Narodowe Siły Zbrojne (NSZ) contra a a aldeia ucraniana de Verhovyny, em 6 de junho de 1945, que resultou em assassinato bárbaro de entre 240 à 196 ucranianos – 45 homens adultos e 149 mulheres e crianças de todas as idades. Os nacionalistas polacos usavam as armas de fogo, machados, pás, enxadas, os assassinatos eram acompanhados pelas violações em massa (ler mais Zbrodnia w Wierzchowinach).
Combatente anticomunista polaco pousando sob os corpos dos ucranianos assassinados.
Aldeia de Verhovyny, 1945.
Józef Zadzierski “Wołyniak” é conhecido por comandar a unidade de NSZ que na noite de 17 à 18 de abril de 1945 queimou e destruiu a aldeia ucraniana Piskorowice, assassinando, de forma violenta, entre 160 à 400 ucranianos étnicos (ler mais). No total, entre 1944 e 1947 as diversas unidades da resistência anticomunista polaca/polonesa mataram na região de Piskorowice e nos seus arredores cerca de 700 civis ucranianos.
O comandante Józef Biss “Wacław” dirigia a unidade da Armia Krajowa (AK) que queimou entre os dias 2 e 3 de março de 1945 a aldeia ucraniana de Pavlokoma (Pawłokoma), resultante no assassinato de 365/6 ucranianos (entre eles 157 mulheres e 59 crianças menores de 14 anos, apenas os meninos até 5/7 anos e as meninas até 7/10 anos foram poupados neste massacre perpetuado pelos nacionalistas polacos). 
Monumento estatal polaco aos ucranianos assassinados pelos polacos em Pavlokoma/Pawłokoma:
"Memória eterna às 366 vítimas que morreram tragicamente na aldeia de Pavlokoma em 1-3 de março de 1945"
Não se menciona a etnicidade das vítimas, nem dos seus assassinos, nem se diz que os ucranianos foram assassinados.  
Monumento estatal polaco aos polacos assassinados e deportados pela URSS (Sic!) em Pavlokoma/Pawłokoma:
"Em memória dos polacos, moradores da aldeia de Pawłokoma que nos anos 1939-1945 foram mortos, das mãos dos nacionalistas ucranianos ou morreram na "terra desumana" 
(termo usado na Polónia para se referir ao GULAG ou Sibéria).
Já se menciona a etnicidade das vítimas, dos seus supostos assassinos, se diz que os polacos foram assassinados. 
“Os factos dramáticos descritos podem chocar muitos leitores. A verdadeira história, no entanto, foi mais complicada do que os livros de leitura patriótica, brancos e vermelhos [as cores da bandeira polaca/polonesa], adverte o historiador.

Notas sobre o autor:

Piotr Zychowicz (1980), nasceu em Varsóvia, é jornalista e historiador polaco/polonês. Desde 2013 é vice-editor do semanário Do Rzeczy e editor-chefe da revista mensal Historia Do Rzeczy.
Foto @FB do Piotr Zychowicz
É autor dos livros Pakt Ribbentrop-Beck. Czyli jak Polacy mogli u boku Trzeciej Rzeszy pokonać Związek Sowiecki (Pacto Ribbentrop-Beck. Ou como os polacos podiam vencer a União Soviética ao lado do 3º Reich), Obłęd '44. Czyli jak Polacy zrobili prezent Stalinowi, wywołując Powstanie Warszawskie (Loucura'44. Ou como os polacos fizeram oferta ao Estaline, começando a revolta da Varsóvia), Pakt Piłsudski-Lenin. Czyli jak Polacy uratowali bolszewizm i zmarnowali szansę na budowę imperium (Pacto do Piłsudski-Lenine. Ou como os polacos salvaram o bolchevismo e perderam o chance de criar o império), etc.
Os restos da igreja ucraniana na aldeia de Pavlokoma/Pawłokoma,
destruídos pelos populares polacos/poloneses em 1963
Blogueiro: o nosso blogue, durante uma década, se abstinha em “meter a lenha na fogueira” das relações polaco-ucranianos. Mas quando hoje, a Polónia definitivamente tenta ditar aos ucranianos quem pode e quem não deve ser o herói nacional da Ucrânia, chegou a hora de rever o passado e divulgar, com mais pormenor e de forma desapaixonada, os crimes cometidos pela Polónia e pelos polacos contra Ucrânia e contra os ucranianos. Para que estes crimes não sejam esquecidos ou repetidos... 

Sem comentários: