73 anos atrás, em julho de 1943, no decorrer da
II G.M. começou a batalha de Kursk. O historiador alemão, coronel na reserva Karl-Heinz Frieser (1949) que durante muitos
anos trabalhou no departamento da história militar do Bundeswehr é tido como um
dos melhores especialistas em história da Frente leste. Ele estuda profundamente os documentos
dos arquivos alemães e russos.
– A
parte mais conhecida de operação «Zitadelle»
foi
a batalha de blindados nos arredores de Prokhorovka em 12 de julho de 1943. Será verdade que naquela batalha se
enfrentaram duas “avalanche de aço”?
– Há
quem diga que na batalha participaram 850 blindados
soviéticos
e 800 tanques alemães. Aldeia de Prokhorovka, onde foram alegadamente
destruídos 400 tanques da Wehrmacht, é considerada como “cemitério das forças blindadas alemãs”. Mas na verdade, nesta batalha participaram 186 tanques
alemães e
672 soviéticos. O Exército Vermelho perdeu 235 tanques e as
tropas alemãs – apenas três!
O blindado PzKpfw IV (T-IV) alemão destruído |
– Como isso pode ser possível?
– Os generais soviéticos fizeram tudo de errado que poderia ser feito, porque Estaline cometeu um erro nos seus cálculos, estava apressa-los no
tempo-limite da operação. Assim, o ataque Kamikaze,
efetuado pelo 29º
Corpo de blindados do RKKA
terminou em armadilha despercebida [uma vala de 4,5 metros
de profundidade] feita nas vésperas pelos próprios soviéticos, atras da qual estavam os tanques alemães. Os soviéticos perderam 172 dos 219 tanques. 118 destes blindados foram completamente destruídos. Na tarde
do mesmo dia, os soldados alemães rebocaram
os seus tanques danificados para
a reparação e explodiram
todos os tanques danificados soviéticos.
– A
batalha de Prokhorovka terminou com a vitória das forças soviéticas ou alemães?
– Tudo
depende do ponto de vista. Do ponto de vista tático venceram as tropas alemãs,
e para os soviéticos a batalha se transformou no inferno. De ponto de vista
operacional, foi o sucesso soviético, porque o avanço alemão foi parado por um
tempo. Mas, em geral, o Exército Vermelho inicialmente previa a destruição de
dois Corpos blindados do inimigo. Portanto, estrategicamente este foi também o
fracasso soviético, uma vez que foi planeado implantar em Prokhorovka o 5º Exército
blindado da Guarda, que posteriormente teria que desempenhar um papel
importante na ofensiva do verão.
O
historiador britânico Richard J. Evans,
na sua trilogia The Third Reich
descreve a mesma batalha de seguinte maneira:
Deixando uma parte dos blindados na reserva, [o general Pavel] Rotmistrov
levou
400 tanques da direção nordeste. Outros 200 tanques vieram do leste, para
enfrentar cara-a-cara as tropas alemães, endurecidas nas batalhas, mas que não
estavam preparados para este adversário. Aos alemães, à disposição dos quais estavam
186 veículos blindados, dos quais apenas 117 eram tanques, se destinava uma
derrota inevitável e absoluta.
O blindado alemão Tiger V, junho de 1943 |
No
entanto, se fez sentir a fadiga da marcha de três dias e, possivelmente, a vodca
distribuída generosamente nestes casos (pecado habitual do Exército Vermelho).
Os condutores mecânicos soviéticos não repararam na vala antitanque com a
profundidade de até 4,5 m; pouco antes disso, escavada pelos seus próprios sapadores,
que preparavam as fortificações por ordem de Zhukov. Os primeiros tanques T-34 caíram
directamente na vala. Vendo o perigo, os blindados que os seguiam quebraram as
fileiras, colidindo, em pânico, uns com os outros. Uma parte deles pegou o fogo
em resultado de serem atingidos pelos obuses alemães. Até o meio-dia, os alemães
relatavam os resultados: no campo de batalha ficaram 190 tanques soviéticos destruídos
e abandonados. Alguns tanques continuavam a arder. Os dados pareciam tão
incríveis que para a verificação no local, chegou pessoalmente o comandante
alemão.
A
perda de um número tão grande de tanques irritou Estaline que ameaçou julgar Rotmistrov
na corte marcial. Salvando-se, o general combinou com o seu comandante, bem
como com o membro do Conselho Militar da Frente, Nikita Khrushchev, que
declararam que os tanques foram perdidos no decorrer da maior batalha, na qual as
forças heróicas soviéticas destruíram mais de 400 tanques alemães. Estaline,
ele próprio que sugeriu o uso do exército em Rotmistrov no contra-ataque foi
forçado a aceitar o relatório. Em resultado, nasceu a lenda de longa duração de
que a batalha em Prokhorovka foi a “maior batalha de tanques da história”. Na
verdade, esta batalha representa um dos maiores desastres na história de
derrotas militares. As tropas soviéticas perderam um total de 235 tanques; as
tropas alemãs – 3 tanques. Apesar de tudo isso, Rotmistrov se tornou um herói,
e agora no local dos acontecimentos está erguido um enorme monumento.
As
mesmas conclusões são suportadas pelo historiador russo Valeri Zamulin
(1968), natural da região de Prokhorovka e maior especialista russo em batalha
de Kursk. No seu livro, conhecido ao leitor ocidental pelo título Demolishing
the Myth: The Tank Battle at Prokhorovka, Kursk, July 1943: an Operational Narrative
(2011), autor conta, baseando-se nos documentos de arquivos, de duas partes de
conflito, sem omissões, nem embelezamentos, a verdade sobre aquele
acontecimento histórico.
No
dia 12 de julho de 1943, na parte sul do arco de Kursk, não ocorreu nenhuma “batalha frontal de
tanques”, tal como era reivindicado pelos historiadores soviéticos e livros de memórias
dos marechais, desde 1953, mas um ataque frontal suicida contra as defesas
preparadas. Os tanques soviéticos fluíram pelo riacho estreito, o local muito mal
escolhido para o ataque, contra as defesas poderosas antitanque, preparadas em profundidade
(os blindados “Tigre” enterrados e canhões antiaéreos de 88 mm). Os blindados
soviéticos eram aniquilados como na carreira do tiro. Os blindados que conseguiam
alcançar a vala, entrando lá inteiros, eram alvejados pela artilharia de calibres
menores, já na sua saída. Os blindados soviéticos tiveram na batalha de Kursk as
perdas monstruosas (perdendo 5 blindados por cada blindado alemão).
Bónus
O blindado soviético T-34, capturado e usado pelo Wehrmacht |
Algo
parecido aconteceu na Batalha de Raseiniai
(23-27 de junho de 1941) na Lituânia, à 75 km à nordeste da cidade de Kaunas. Os
elementos do 4º Grupo blindado alemão, comandado pelo General Erich Hoepner entraram em combate
contra o 3º
Corpo mecanizado do Major General
Kurkin e 12º Corpo mecanizado comandado pelo Major General Shestapolov. Os alemães tinham 245 blindados, os soviéticos 749. Em
resultado da batalha os alemães destruíram 704 blindados soviéticos,
aniquilando o 3º Corpo de blindados. As perdas dos alemães eram da infantaria e
dos veículos da logística. Todos os blindados alemães ficaram operacionais.
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