No
fim do dia 16 de julho é possível constatar que o governo legítimo da Turquia e
o presidente Recep Erdoğan conseguiram esmagar o golpe do estado apoiado por cerca de
3.000 militares e efetivos de gendarmeria (no universo total de cerca de 800.000 efetivos). A
última bolsa de resistência golpista de Ancara se rendeu no fim desta tarde.
A face do golpe
O coronel Muharrem Kose, hoje em parte incerta |
Agência de informação turca “Anadolu” aponta como o líder do golpe o coronel Muharrem Kose, jurisconsulto do exército, expulso das forças armadas em março de 2016 por causa das suas ligações com o político emigrante Fethullah Gulen. Entre outros “padrinhos” do golpe “Anadolu” aponta o chefe do Exército de infantaria tenente-general Metin Lidil e ex-chefe da Força Aérea Akin Ozturk, ora detido, que tinha
deixado as forças armadas em 2015. Na manha do dia 16 no edifício do Estado-maior das FA da Turquia foram detidos 13 oficiais de altas atentes, os seus nomes não foram divulgados. Além disso, o Presidente Erdogan
acusou diretamente Fethullah
Gulen na organização do golpe, embora este negou o seu envolvimento e disse que «categoricamente contra a tentativa do golpe militar na Turquia».
O general Akin Ozturk, ora detido |
As suas vítimas
Os militares mortos em Istambul |
O
golpe resultou em pelo menos 265 pessoas mortas e 1440 feridos. 19 polícias morreram
vítimas do fogo de helicópteros dos golpistas. 12 pessoas morreram na explosão
no edifício do parlamento (fotos em baixo). Cerca de 100 vítimas pertenciam às forças golpistas.
Os blindados do exército turco esmagavam as viaturas civis nas ruas de Istambul e Ancara, os populares criavam as barricadas, para impedir o avanços dos golpistas.
As
detençõesOs populares protegem um militar golpista contra o linchamento |
Cerca
de 2839 pessoas foram detidas pelas forças governamentais (no universo de cerca
de 3.000 militares golpistas), entre os detidos são 5 generais e 29 coronéis da
Força Aérea turca. O primeiro-ministro turco Binali Yıldırım não descarta a
hipótese de Turquia a reinstalar a pena capital. Akguns militares golpistas
foram espancados pela população com auxílio dos cintos, alguma imprensa
sensacionalista (nomeadamente britânica) falou em “decapitações”. O jornal “Hurrieyt
Daily News” reporta que aos soldados foi dito pelos oficiais golpistas que eles
participam nos exercícios militares e só quando os populares começaram a
invadir os seus blindados eles entenderam que estavam participar no golpe do
estado. Agência “Anadolu” escreve que os golpistas usavam o serviço “WhatsApp”
para as suas comunicações.
Foram
detidos 10 membros do Conselho do Estado (Tribunal Superior Administrativo); contra
48 membros do mesmo conselho foram emitidos os mandatos da captura, assim como
são procurados, pelo seu envolvimento no golpe os 140 representantes do
Tribunal Supremo da Turquia (The Guardian). De acordo agência Anadolu e a
televisão NTV, em toda Turquia foram despedidos 2745 juízes, entre eles o juiz
do Tribunal Constitucional Alparslan Altan.
O juiz Alparslan Altan |
Fim
da resistência
A
agência turca “Anadolu” informou que os últimos cerca de 150 golpistas que controlavam
o edifício de Estado-maior e da gendarmeria em Ancara se entregaram às
autoridades, entre eles 13 oficiais superiores da marinha turca (que, na sua
absoluta maioria ficou fiel ao governo do país).
Os
golpistas de altos patentes foram levados em dois autocarros separadamente do
resto dos militares que se renderam. Os restantes, muitos dos quais foram despidos
até a roupa interior foram colocados em outros três autocarros e enviados para
o estádio desportivo “Başkent” no oeste da capital da Turquia.
Fuga
à Grécia
Sete
militares turcos e um civil se refugiaram na Grécia, na cidade de Alexandrópolis, voando
até lá num helicóptero militar. Pela informação da TV estatal grega, ERT, eles pediram
o asilo político. O representante do governo grego, Olga Gerovasili, informou
que as autoridades gregas pretendem devolver o helicóptero à Turquia e analisar
o pedido de asilo dos cidadãos turcos, ora detidos.
O escritório da CNN em Istambul |
O
povo e os partidos
A
maioria do povo, aquele mesmo que mais ordena, de forma instrumentalizada ou nem
por isso, apoiou o governo legítimo, o governo do Recep Tayyip Erdoğan. Tal
como o fizeram todos os partidos políticos, desde os nacionalistas até os
curdos. A democracia islâmica saiu vencedora, mostrando a sua força. Muita boa
gente não gostou, mas como se diz em um ditado “não temos para vocês nenhum
outro povo turco”. E este apoiou os que estão no poder.
Blogueiro:
no conflito de dois alfa-machos, Putin e Erdogan, Ucrânia claramente sai
favorecida com a vitória da democracia turca e a derrota dos militares. Ferido no
seu alfa machismo, Erdogan nunca mais será fiel à narrativa russa em relação
à Crimeia, por exemplo, que o fará quase automaticamente aliado da Ucrânia. A
nossa equipa vê Erdogan e os seus como “democratas travestidos de ditadores”,
pois é única maneira de governar um país islâmico, afetado ainda com problemas
de separatismo e violência quase diária de extrema-esquerda e menos diária da extrema-direita.
Precisamos de entender uma coisa, gerir um país assim, não é mesma coisa que
gerir a Suíça, não devemos esperar que esquemas que servem na Europa Ocidental,
ainda letárgica no seu sono do bem-estar social, podem funcionar no resto do
mundo, já bastante em chamas.
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