Acto em memória do Holodomor em Curitiba, Paraná, Brasil
Filme: Holodomor 1932 – 1933 – (com legendas em português)
Sábado – dia 19 de Abril – às 19:30 Horas – Curitiba
Local: Pavilhão da Igreja São João Baptista
Rua Maranhão com Goiás.
Associação Poltava
Representação Central Ucraniano Brasileira
Lembrando o Holodomor
Por: Presidente da Ucrânia Viktor A. Yushchenko
Setenta e cinco anos atrás, o povo ucraniano foi vítima de um crime bárbaro. No Ocidente, foi denominado de "A Grande Fome". Em nosso país, a Ucrânia, é conhecido como Holodomor. Trata-se de uma campanha organizada de fome colectiva que, nos anos de 1932 e 1933, exterminou, de acordo com diversas estimativas, entre sete e dez milhões de cidadãos, incluindo um terço de todas as crianças da Ucrânia. Através de uma forma hedionda de mitigar a dimensão do acontecimento, o Estado soviético denominou o facto como uma mera “frustração de safra”. Dirigentes soviéticos pretendiam evitar responsabilidade e esconder a real intencionalidade, as causas e as consequências dessa tragédia humana. Apenas isso seria o bastante para fazer uma pausa e honrar a memória das vítimas.
Durante as longas décadas de Estado soviético, para os ucranianos era perigoso discutir seu maior trauma nacional. Qualquer comentário sobre Holodomor era considerado um crime contra o Estado. As memórias das testemunhas e artigos de historiadores como Robert Conquest e James Mayes (já falecido), foram proibidos, pois eram considerados propaganda anti – soviética. No entanto, cada família ucraniana, através de suas memórias, sabia sobre a magnitude do acontecido. Os ucranianos sabiam que tudo isso foi perpetrado intencionalmente para punir a Ucrânia e destruir a sua base nacional. Em memória das vítimas e para restabelecer a verdade histórica, a Ucrânia independente luta actualmente por uma melhor compreensão e reconhecimento do Holodomor, tanto dentro do país como em todo o mundo.
As nossas acções não são ditadas por um desejo de vingança ou tendenciosas opiniões políticas. Sabemos que os próprios russos foram as principais vítimas de Stalin. A última coisa que passa por nossa cabeça é atribuir culpa aos actuais herdeiros do Estado Soviético. Nosso único desejo é, apenas, conseguir compreender o que realmente aconteceu. É por isso que o parlamento ucraniano aprovou no ano passado uma lei sobre o reconhecimento do Holodomor como acto de genocídio. Por isso, peço a nossos amigos e aliados para apoiar este ponto de vista. Quando o mundo é indiferente por causa da amnésia histórica, ou da falsificação da história, está condenado a repetir seus piores erros.
"Genocídio" é um termo muito pesado e alguns ainda contestam sua aplicabilidade para o que aconteceu na Ucrânia. Por isso, deve-se voltar à definição legal desse crime, consagrada na Convenção das Nações Unidas sobre Prevenção e Punição do Crime de Genocídio, datada de 1948. Assim, considera-se como genocídio “quaisquer actos cometidos com a intenção de destruir, no todo ou em parte, a nível nacional, étnico, racial ou religioso”, qualquer desses grupos, incluindo “ deliberadamente infligir sobre o grupo condições de vida calculadas para trazer a sua destruição física, total ou parcial”. Holodomor é inteiramente coerente com esta definição. É digno de nota que isso se enquadra ao pensamento de Raphael Lemkin, um advogado cientista, que detém a autoria da Convenção sobre Genocídio.
Hoje em dia, existem muitos materiais históricos especificando os pormenores da política de colectivização forçada de Stalin e do terror de fome dirigido contra a Ucrânia. Outras regiões da União Soviética também foram fortemente afectadas. Mas a liderança soviética tinha uma finalidade velada para a perseguição e tortura de fome contra o campesinato ucraniano. Isto foi parte de uma campanha para reprimir a identidade nacional ucraniana e o desejo de soberania nacional. Como comentou alguns anos antes o próprio Stalin “não se tem um movimento nacional poderoso sem o exército camponês <...> essencialmente, a questão nacional é a questão camponesa”. Na tentativa de reverter a política de “ucrainização”, o que contribuiu para a limitada autonomia cultural e política, ao longo da década de 1920, Stalin decidiu derrubar o campesinato, que compunha 80% da nação. A resolução para a questão nacional da Ucrânia foi realizar um massacre por meio da fome.
Os métodos de Stalin incluíam uma determinação astronómica de recolhimento de produção agrícola para os estoques do Estado, que eram impossíveis de cumprir e que não deixava nada para alimentar a população local. Quando o plano não se concretizava, tropas eram enviadas à região. Até ao final de 1932, aldeias e regiões inteiras foram isoladas, transformadas em guetos de fome, cujos nomes foram registrados nas listas negras do Regime. Todo esse tempo, a União Soviética continuou a exportação de cereais para o Ocidente e até mesmo a produzir álcool. No início 1933, a liderança soviética decidiu reforçar radicalmente o bloqueio das aldeias ucranianas. Como resultado, todo o território da Ucrânia foi cercado por tropas e todo o país se transformou em um enorme campo da morte.
Um claro direccionamento anti – nacional de Stalin estava em curso de acção e percebia-se nitidamente uma campanha contra as instituições e os indivíduos que tinham contribuído para o desenvolvimento da vida cultural e social do povo ucraniano. Entre as vítimas destacamos: a Academia de Ciências da Ucrânia, a Editora da Enciclopédia Ucraniano – Soviética, a Igreja Ortodoxa Ucraniana e, no fim, o próprio Partido Comunista da Ucrânia. Foi uma campanha sistemática contra o povo ucraniano, a sua história, cultura, linguagem e estilo de vida.
O Holodomor foi um acto de genocídio, que foi concebido para esmagar o povo ucraniano. O facto de que a tentativa fracassou e agora a Ucrânia vive como uma nação independente e soberana, não dá o direito de diminuir a gravidade do crime. Também não nos isenta da responsabilidade moral de reconhecer o que ocorreu. No septuagésimo quinto aniversário, devemos, perante as vítimas do Holodomor e de outros genocídios ser justos em relação ao nosso passado.
Tradução: WSJ, 26.11.2007