segunda-feira, abril 14, 2008

Ucrânia a uma garfada

Uma pousada em Roncador, no interior do Paraná, Brasil, serve iguarias tradicionais da Ucrânia, “encurtando” a viagem à Europa


Foi na pequena vila de Peabiru, a 480 quilómetros da capital paranaense, que Marlene de Abreu nasceu e se criou. Mas o destino a levaria a estreitar laços com uma cultura vinda de muito, muito longe. No final da década de 1970, ela se casou com um filho de imigrantes ucranianos, que, saudoso da comida materna, cobrava que a jovem esposa também aprendesse as delícias da culinária daquele país.
Os primeiros contactos com as receitas ucranianas aconteceram através das mãos da sogra e da comunidade de origem ucraniana no município de Roncador, também no Paraná, onde o casal foi viver. "Na Festa de Santos Reis, por exemplo, eles fazem um jantar comemorativo e só há pratos típicos. Eu aproveitava para experimentar um pouco de cada coisa e ver o que eu gostava", lembra. Foi assim que se encantou pelo kutiá, uma sobremesa feita com grãos de trigo e frutas cristalizadas, consumida em diversas festas da comunidade.
Há seis anos, Marlene se separou do marido, mas não abriu mão das tradições da Ucrânia. "Meus três filhos passaram a apreciar a comida dos antepassados, e eu continuei a prepará-las", diz. Divorciada, lançou-se ao mercado de trabalho e acabou na cozinha da pousada Parque das Gabirobas, também em Roncador.
À época, os proprietários da pousada, dona Diva e seu Mariano, compravam de uma fornecedora da cidade o também ucraniano perohê (varenyky), uma espécie de pastel cozido. Mas logo Marlene tomou para si a responsabilidade de produzi-los. "Eu costumava fazer uns 60 deles por vez na minha casa, mas aqui preciso fazer 400", espanta-se.
Não foi apenas a quantidade que mudou. Como é preciso agradar ao paladar variado dos hóspedes, Marlene substituiu no perohê a ricota - que, por ser meio azedinha, não é uma unanimidade – pelo requeijão cremoso. Já nas primeiras investidas, o prato conquistou admiradores, que se deleitaram com seu sabor suave, geralmente acompanhado de polenta e frango caipira. "Quem fica dois, três dias hospedado aqui engorda mesmo", adverte, aos risos, a cozinheira.
A princípio, Marlene chegou à pousada apenas para auxiliar dona Diva nas lidas da cozinha. Aos poucos, entretanto, conquistou o reinado absoluto entre as panelas - ou quase. De vez em quando ela recebe um "puxão de orelhas" dos patrões, por carregar no sal. Nada que a desencoraje. "Aos pouquinhos, e com algumas broncas, vou aprendendo. Daqui a algum tempo, talvez eu possa me tornar uma cozinheira de verdade". Modéstia, Marlene.

Fonte:
http://revistagloborural.globo.com/GloboRural/0,6993,EEC1671263-1488-1,00.html
http://www.pessoal.cefetpr.br/ucrania

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