sexta-feira, junho 29, 2012

O KGB da Ucrânia em 1970


O KGB da Ucrânia Soviética (UKGB), era um dos braços mais ativos do KGB soviético. Segunda república mais populosa da URSS, Ucrânia possuía fronteiras terrestres e marítimas com alguns países estrangeiros, as aspirações independentistas não foram totalmente extintas e a considerável minoria judaica era vista pelas autoridades como “alvo potencial do inimigo sionista”. O arquivo Mitrokhin permite saber até que ponto UKGB penetrava na sociedade e controlava todos os aspetos da vida quotidiana dos cidadãos da Ucrânia.

Em fevereiro de 1971 em Kyiv se reuniu a chefia do UKGB para discutir os resultados do trabalho dos ckekistas ucranianos no ano anterior, o chefe do KGB republicano, Vitaly Fedorchuk*, apresentou o resumo das suas atividades.


Em Kyiv, Kharkiv e Odessa foram descobertas os grupos judaicos clandestinos de inspiração sionista, que procuravam ajudar as pessoas a emigrar para Israel.


Entre 40.000 ucranianos que visitaram os países estrangeiros, 33 cidadãos da Ucrânia soviética tiveram os contatos com os estrangeiros (quaisquer contatos informais entres os cidadãos da URSS e os estrangeiros eram fortemente “desaconselhados” pelo KGB).


A tripulação do navio cargueiro “Bashkiria”, incluindo os agentes (informadores à tempo integral) do KGB e os seus “contatos de confiança” se dedicavam ao contrabando, como castigo pela “deslealdade” KGB deteve algumas pessoas, dissolveu a tripulação, privando-a de permissão para navegar no estrangeiro (enquanto os cidadãos ocidentais colaboravam com KGB por dinheiro, vingança, afinidade ideológica com comunismo, os cidadãos da URSS muitas vezes encaravam KGB apenas como uma alavanca prática para prosseguir na carreira ou visitar os países estrangeiros).   


UKGB controlava 800 empresas, institutos, ministérios e departamentos, os sistemas de transporte ferroviário, rodoviário e aéreo, nenhum agente secreto estrangeiro foi descoberto naquele ano. Em contrapartida, em 1970, UKGB descobriu na Ucrânia 153 grupos “ideologicamente perigosos”, que contavam com 637 membros e 13 grupos nacionalistas com 60 membros. Entre eles, 313 pessoas foram perseguidos judicialmente, cerca de 3.000 se ficaram pelas “conversas profiláticas”. UKGB detetou 12 linhas de contato da Organização dos Nacionalistas Ucranianos (OUN) com Ucrânia, na cidade de Mykolaiv foi descoberta a unidade clandestina que “tentava” divulgar os panfletos da OUN. Chekistas notavam a disseminação do nacionalismo no Leste da Ucrânia, nas províncias de Dnipropetrovsk, Odessa, Mykolaiv, Khmelnitsky, cidade de Kyiv.

O Serviço operativo e técnico do UKGB confiscou mais de 20.000 documentos considerados “ideologicamente perigosos” (violando o segredo da correspondência privada dos cidadãos sem nenhuma permissão do judiciário). Apenas duas cartas (na Crimeia e Lviv) continham “indícios da correspondência clandestina dos agentes”.


O 2° Serviço efetuou mais de 8.500 ações de escutas (também ilegais) nos hotéis, apartamentos, etc. UGKB tinha em andamento 163 casos judiciais contra 183 cidadãos, efetuou 6 julgamentos públicos, mas lamentava conseguir condenar judicialmente apenas cerca de 34% dos detidos. Cada funcionário do UKGB em média trabalhava com 7 – 9 agentes, considerando ter poucos informadores entre “sionistas, nacionalistas, intelectuais, instituições superiores do ensino”. Na cidade de Kharkiv o 5° serviço possuía 14 residenturas (núcleos permanentes que juntavam os agentes do KGB e os seus informadores), reforçados com mais de 80 agentes.


Em 1970 UKGB recrutou 4 cidadãos estrangeiros, em 1969 – três (provavelmente ucranianos étnicos, eles eram mais vulneráveis à chantagem por causa dos laços familiares na Ucrânia).


Os 133 especialistas ucranianos da cidade de Zaporizhia foram designados para trabalharem na construção de uma fábrica metalúrgica na Índia, entre eles 12 agentes e 15 “contatos de confiança” (ou seja, a taxa de penetração do KGB é de 21,05%).


UKGB manifestava a preocupação com a cidade de Chernivtsi, onde cerca de ¼ da população eram judeus e a fronteira próxima com a Roménia não era “suficientemente guarnecida”. Para reforçar a tropa de guarda – fronteira (subordinada ao KGB), UKGB usava os seus funcionários operativos e até 67 grupos de “voluntários populares”, cerca de 2.000 pessoas, considerando, no entanto, que isso “não era a resolução da questão”.


Mas a preocupação maior eram os estrangeiros, cidadãos da Romênia, Polônia e Checoslováquia, que visitando a URSS particularmente, nos períodos de 30-40 dias, por vezes permaneciam no país até 2 anos e “tendo a vontade, podiam ficar para sempre”. Nos comboios internacionais Varsóvia – Bucareste e Varsóvia – Bucareste – Varna, os passageiros em trânsito tinham a possibilidade de conviver com os cidadãos soviéticos, permanecer no território da URSS durante alguns dias. Os automobilistas da Roménia e da Bulgária, em trânsito para RFA e os Países Nórdicos não eram controlados, mudavam as rotas pré-definidas, aproveitavam as paragens prolongadas para fazer os negócios com os cidadãos soviéticos.


Blogueiro


Como podemos ver, o legado do Estaline, que após a II G.M., tinha proibido os casamentos entre os cidadãos soviéticos e os estrangeiros era bem presente no pensamento do KGB ainda nos anos 1970. Olhando para qualquer estrangeiro como para o espião potencial, mesmo se este estrangeiro provinha do bloco dito socialista.


* Parece que o próprio destino castigou Fedorchuk, nos últimos anos da sua vida general vivia absolutamente sozinho, o seu filho suicidou-se, a esposa e filha morreram, a neta vivia separadamente.  

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