Atamane Zeleniy sentado no meio |
Uma das lendas
familiares dos meus antepassados reza, que uma vez, algures nos anos 1920, os
homens do atamane Zeleniy, foram procurar o meu bisavô, apoiante ativo do poder
soviético na Ucrânia. Desde ai, sempre imaginava o chefe Zeleniy como um velho
corpulento, um pouco à imagem dos coronéis cossacos, vindos do “Taras Bulba” do
Mykola Gogol.
O socialista –
revolucionário ucraniano, Danylo
Terpylo, mais conhecido como atamane Zeleniy, que deu a vida pela Ucrânia morrendo
em combate aos 33 anos era tudo menos um coronel corpulento…
Nasceu em 1886 na
aldeia de Trypillia
(a mesma que deu o nome à cultura Cucuteni-Trypillia),
na província de Kyiv, terminou a escola paroquial, estudou na escola dos
alferes de Zhytomyr. Durante a revolução russa de 1905 – 1907 tornou-se o membro
de um grupo socialista-revolucionário, que encabeçou em 1906. Pela primeira vez
foi detido pela polícia czarista em 1907, em 1908 é novamente detido e
deportado para a Rússia. Participa na I G.M.
Em 1917 volta para
Ucrânia, onde reconhece o governo ucraniano da Rada Central. Já em 1918 não
reconhece o pró-germânico Hetman Pavlo Skoropadskyi.
A sua unidade insurgente conta com cerca de 4000 camponeses armados. Em
novembro de 1918 reconhece a Diretória da República Popular da Ucrânia, cria 1ª
Divisão Insurgente de Dnipró, que juntamente com as forças do Symon Petliura
e os Atiradores de Sich
em dezembro de 1918 tomam a cidade de Kyiv.
Em janeiro de 1919
colabora com o exército vermelho, formando a 1ª Divisão Soviética de Kyiv. A
agressão da Rússia bolchevique contra Ucrânia e as sangrentas repressões
chauvinistas em Kyiv, quando os cidadãos eram fuzilados pelo uso da língua ou
as roupas ucranianas, fizeram Zeleniy mudar de opinião. Em abril de 1919 ele inicia
a revolta anti – bolchevique, estes, por sua vez o anunciam fora da lei.
Danylo Terpylo adere ao
Comité Revolucionário clandestino, que dizia no seu manifesto “Aos camponeses e
operários da Ucrânia”: “Nós exigimos: Ucrânia deve ser independente…” As unidades
do Zeleniy recebem o nome da “1ª Divisão de Kyiv”; juntamente com a “2ª Divisão
Insurgente de Kyiv” (atamane Marko Shliakhoviy), eles formam o “1° Regimento
Insurgente”, comandado pelo Zeleniy, controlando no verão de 1919 toda a margem
direita da província de Kyiv.
Em maio de 1919 o Exército
Vermelho lançou a ofensiva conjunta contra os insurgentes do Zeleniy, contando
com cerca de 21.000 homens e a flotilha naval do rio Dnipro. Atamane Zeleniy
retirou-se, passando para a margem esquerda do rio Dnipro. Zeleniy combatia os
bolcheviques em todo o território da província de Kyiv, mas também nas
províncias de Chernihiv, Poltava e Podilya.
Na cidade de
Pereyaslav, em um ambiente solene, na presença da população e do seu exército,
Danylo Terpylo denunciou o acordo de Pereyaslav, que em 1654 uniu Ucrânia à
Moscóvia. Naquele momento ele tinha sob o seu comando cerca de 30.000 homens.
Em setembro de 1919 ele novamente reconhecia o governo ucraniano da Diretória,
encabeçado pelo Symon Patliura.
Todo o outono de 1919
atamane Zeleniy combate as tropas monárquicas russas, comandadas pelo general
Denikin, conhecido pela sua xenofobia e chauvinismo anti ucraniano. No dia 11
de outubro de 1919, as suas tropas libertam Kyiv, desalojando os monárquicos
russos. No mesmo mês, atamane Zeleniy foi gravemente ferido em combate contra as
tropas do Denikin e morre no caminho da sua aldeia natal. Foi sepultado em
Trypilya, a sua campa original não ficou preservada.
Em 2008 o historiador
ucraniano Roman
Koval publicou o livro “Atamane Zeleniy”, que em 2011 teve a segunda edição
aumentada e corrigida.
O livro conta com as
memórias dos moradores da aldeia de Trypilya, reunidas nos anos 1980 pelo
historiador Mykhaylo Karasiov, todos dados sob anonimato, pois mesmo naquela época
aos ucranianos parecia perigoso falar sobre atamane. O livro também conta com
duas entrevistas inéditas do Zeleniy, que ele deu em 1919, encontradas pelo
Kostianyn Zavalnyuk.
Os companheiros
recordavam atamane Zeleniy como a pessoa “extremamente forte espiritualmente”,
que tinha “amor esclarecido pela vida, sempre ativo, sempre preparado”. Atamane
Marko Shliakhoviy, que após o fracasso do levantamento na região de Vasylkiv
caiu no desespero, ficou fortalecido “apenas olhando [para Zeleniy], pois viu que
nos seus olhos vivia a esperança absoluta de algo bom” e era isso que ele
precisava. Atamane Zeleniy combatia com o sorriso, transmitindo à confiança aos
seus combatentes mesmo nas situações de maior perigo.
O coronel do exército
da UNR, Vsevold Petriv, recorda que a disciplina da Divisão de Dnipro era
exemplar: “— Eu via estas bem-dispostas e ameaçadoras massas… via a Divisão de
Dnipro, formado sem um único oficial de carreira, mas tão disciplinada como os
Atiradores de Sich…”
Ler o livro on-line:
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