No momento em que
vivemos uma nova campanha de demonização da Ucrânia e dos ucranianos, proponho um
olhar britânico independente sobre a raiz do medo que o Ocidente, supostamente esclarecido,
sente em relação da “bárbara” Europa Central e do Leste.
por: Brendan O'Neill *
A ironia da campanha
para boicotar o campeonato de futebol Euro-2012 na Ucrânia é tão enorme, que é
difícil de descrever. Aqui temos um lobby que se apresenta como antirracista, existente
apenas para proteger os jogadores de futebol e os fãs ingleses de serem abusados
racialmente na Ucrânia, simultaneamente descreve a nação inteira do Leste
Europeu como um burgo estranho de atitudes retrógradas. Aqui está um movimento
que franze a testa publicamente contra as expressões de racismo, tratando a
Ucrânia de uma maneira semelhante aos colonialistas vitorianos chegados ao
interior africano e olhando com espanto aos nativos que se comunicam nas suas
estranhas línguas locais. A campanha de boicote confirma que o moderno antirracismo
é, na ironia das ironias, é mais sobre expressar a sua superioridade sobre a
gente não educada do que assegurar a verdadeira igualdade.
Sob a bandeira do “antirracismo”,
algumas declarações surpreendentemente radicais estão sendo feitas sobre a
Ucrânia por parte daqueles que acham que os fãs de futebol devem ficar longe da
Euro-2012 que acontecerá (na Ucrânia) no mês que vem. Aparentemente, o racismo
é um “problema endêmico social” na Ucrânia, um país “notório pelos seus jovens extremistas”,
diz o jornal The Sun. Se você acredita no The Sun, os britânicos decentes podem
em breve ser obrigados a refazer a Segunda Guerra Mundial nos estádios na
Ucrânia – aparentemente os “neonazis paramilitares” treinam os “bandidos em artes
marciais, uso de facas, espingardas e pistolas” a fim de “criar o caos” durante
o Euro-2012. O artigo do The Sun é acompanhado por uma foto de quatro homens ucranianos
de aparência triste, na floresta, usando os uniformes pseudomilitares. Quatro putos
não fazem o Quarto Reich.
Quando a família do
jogador inglês negro, Theo Walcott, disse que não ia assistir Euro-2012, porque
temia o ataque racista, a imprensa entrou em frenesim anti – ucraniano. Como
qualquer outro país no mundo, a Ucrânia, sem dúvida, tem alguns racistas
desagradáveis, mas a imprensa britânica continuamente descreve toda a nação
como uma fossa de atitudes xenófobas. “Bandos nazis estão a espera dos
torcedores ingleses”, diz outro jornal histericamente, dizendo-nos, mais uma
vez, que o racismo é “endêmico”" na Ucrânia. O Foreign Office emitiu uma declaração
que normalmente só é feita em relação dos países não europeus, aconselhando aos
viajantes de “descendência asiática ou afro-caribenha” de tomar “os cuidados
extra”. O ex-jogador do Arsenal, Sol Campbell, levou este medo da estranha Ucrânia
à sua conclusão lógica, quando advertiu os fãs ingleses a não irem à Euro-2012,
porque “você pode acabar voltando em um caixão”. Ele diz que à Ucrânia nunca
deveria ter sido concedido Euro-2012, em primeiro lugar, porque se você for um
país racista, “você não merece esses torneios de prestígio”.
Resumindo, os torneios
só devem ser realizados apenas nos países civilizados, talvez aqui na
Inglaterra, em vez de nos territórios da antiga União Soviética, onde as
pessoas são estúpidas e preconceituosas e que estão à distância de uma saudação
nazi para recriar o fascismo. A imprensa nos diz que alguns fãs de futebol
ucraniano olham aos jogadores negros como “selvagens”, e eu tenho certeza que é
verdade. Mas nos nossos fóruns de discussão online, ucranianos são frequentemente
referidos por nós como “selvagens”, que vivem em um “país muito atrasado”. O
que realmente estamos presenciando na histeria sobre as atitudes da Ucrânia é a
expressão de um preconceito contra as estranhas pessoas do Leste, disfarçado de
um sentimento antirracista iluminado. Se é estúpido que um pequeno número de
seguidores ucranianos do futebol zombe dos negros e asiáticos, é também
estúpido para a comunicação social britânica de zombar da Ucrânia inteira. Na
verdade, a tentativa de demonstrar os credenciais antirracistas, sendo claramente
xenófobos contra os do Leste, supostamente racistas, é a mais estúpida atitude
de todas as possíveis.
* Brendan O'Neill é o
editor de spiked, um fenômeno online
independente, dedicado a elevação dos horizontes da humanidade, recorrendo à guerra
de palavras contra a misantropia, pedantismo, preconceito, ludismo,
iliberalismo e o irracionalismo em todas as suas formas antigas e modernas.
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