quarta-feira, junho 13, 2012

O medo da Ucrânia “racista” é xenófobo


No momento em que vivemos uma nova campanha de demonização da Ucrânia e dos ucranianos, proponho um olhar britânico independente sobre a raiz do medo que o Ocidente, supostamente esclarecido, sente em relação da “bárbara” Europa Central e do Leste.

por: Brendan O'Neill *

A ironia da campanha para boicotar o campeonato de futebol Euro-2012 na Ucrânia é tão enorme, que é difícil de descrever. Aqui temos um lobby que se apresenta como antirracista, existente apenas para proteger os jogadores de futebol e os fãs ingleses de serem abusados racialmente na Ucrânia, simultaneamente descreve a nação inteira do Leste Europeu como um burgo estranho de atitudes retrógradas. Aqui está um movimento que franze a testa publicamente contra as expressões de racismo, tratando a Ucrânia de uma maneira semelhante aos colonialistas vitorianos chegados ao interior africano e olhando com espanto aos nativos que se comunicam nas suas estranhas línguas locais. A campanha de boicote confirma que o moderno antirracismo é, na ironia das ironias, é mais sobre expressar a sua superioridade sobre a gente não educada do que assegurar a verdadeira igualdade.

Sob a bandeira do “antirracismo”, algumas declarações surpreendentemente radicais estão sendo feitas sobre a Ucrânia por parte daqueles que acham que os fãs de futebol devem ficar longe da Euro-2012 que acontecerá (na Ucrânia) no mês que vem. Aparentemente, o racismo é um “problema endêmico social” na Ucrânia, um país “notório pelos seus jovens extremistas”, diz o jornal The Sun. Se você acredita no The Sun, os britânicos decentes podem em breve ser obrigados a refazer a Segunda Guerra Mundial nos estádios na Ucrânia – aparentemente os “neonazis paramilitares” treinam os “bandidos em artes marciais, uso de facas, espingardas e pistolas” a fim de “criar o caos” durante o Euro-2012. O artigo do The Sun é acompanhado por uma foto de quatro homens ucranianos de aparência triste, na floresta, usando os uniformes pseudomilitares. Quatro putos não fazem o Quarto Reich.

Quando a família do jogador inglês negro, Theo Walcott, disse que não ia assistir Euro-2012, porque temia o ataque racista, a imprensa entrou em frenesim anti – ucraniano. Como qualquer outro país no mundo, a Ucrânia, sem dúvida, tem alguns racistas desagradáveis, mas a imprensa britânica continuamente descreve toda a nação como uma fossa de atitudes xenófobas. “Bandos nazis estão a espera dos torcedores ingleses”, diz outro jornal histericamente, dizendo-nos, mais uma vez, que o racismo é “endêmico”" na Ucrânia. O Foreign Office emitiu uma declaração que normalmente só é feita em relação dos países não europeus, aconselhando aos viajantes de “descendência asiática ou afro-caribenha” de tomar “os cuidados extra”. O ex-jogador do Arsenal, Sol Campbell, levou este medo da estranha Ucrânia à sua conclusão lógica, quando advertiu os fãs ingleses a não irem à Euro-2012, porque “você pode acabar voltando em um caixão”. Ele diz que à Ucrânia nunca deveria ter sido concedido Euro-2012, em primeiro lugar, porque se você for um país racista, “você não merece esses torneios de prestígio”.

Resumindo, os torneios só devem ser realizados apenas nos países civilizados, talvez aqui na Inglaterra, em vez de nos territórios da antiga União Soviética, onde as pessoas são estúpidas e preconceituosas e que estão à distância de uma saudação nazi para recriar o fascismo. A imprensa nos diz que alguns fãs de futebol ucraniano olham aos jogadores negros como “selvagens”, e eu tenho certeza que é verdade. Mas nos nossos fóruns de discussão online, ucranianos são frequentemente referidos por nós como “selvagens”, que vivem em um “país muito atrasado”. O que realmente estamos presenciando na histeria sobre as atitudes da Ucrânia é a expressão de um preconceito contra as estranhas pessoas do Leste, disfarçado de um sentimento antirracista iluminado. Se é estúpido que um pequeno número de seguidores ucranianos do futebol zombe dos negros e asiáticos, é também estúpido para a comunicação social britânica de zombar da Ucrânia inteira. Na verdade, a tentativa de demonstrar os credenciais antirracistas, sendo claramente xenófobos contra os do Leste, supostamente racistas, é a mais estúpida atitude de todas as possíveis.

* Brendan O'Neill é o editor de spiked, um fenômeno online independente, dedicado a elevação dos horizontes da humanidade, recorrendo à guerra de palavras contra a misantropia, pedantismo, preconceito, ludismo, iliberalismo e o irracionalismo em todas as suas formas antigas e modernas.

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