São,
na maior parte, crias das centenas de cães que foram deixados para trás após o
acidente nuclear de Chornobyl. Vivem na zona de exclusão, aguentam o frio
ucraniano, e poucos passam dos seis anos.
O
desastre nuclear de Chornobyl, em abril de 1986, deixou a cidade fantasma de
Pripyat e as vilas circundantes desertas. Quando as populações residentes
tiveram de abandonar a zona, devido à radiação, foram impedidos de levar
consigo os animais de estimação. Segundo conta o jornal britânico The
Guardian, na altura muitos foram os cães que ainda perseguiram os
autocarros a ladrar, numa tentativa de fugirem também com os donos. Mas sem
hipótese. Equipas de militares foram inclusive enviadas ao local para matar os
animais: mas alguns sobreviveram e são os descendentes desses cães que ainda
hoje habitam a floresta que circunda Pripyat.
São
cerca de 300 cães numa zona de 2.600 quilómetros quadrados, entre a zona de
exclusão de Chornobyl, que circunda o local do desastre nuclear, e a floresta
envolvente, naquela cidade norte da Ucrânia, junto à fronteira com Belarus.
Vivem no meio de linces, lebres, lobos e ursos, que entretanto se instalaram
naquele habitat, mas são os cães os animais nativos. Segundo descreve o The
Guardian, que visitou o local, vivem como uma comunidade quase autónoma,
ajudando-se uns aos outros e tendo já aprendido que é junto ao café local, onde
se reúnem os visitantes, que há mais pessoas, logo, mais comida.
Muitos
não têm abrigo e têm de aguentar os invernos frios da floresta ucraniana, têm
níveis elevados de radiação no pêlo e uma esperança média de vida muito
reduzida: segundo aquele jornal, são poucos os que vivem mais do que seis anos.
“A maior parte das vezes as pessoas, os visitantes, acham-nos queridos, mas
muitas vezes acham que podem estar contaminados e por isso evitam tocar-lhes”,
diz Nadia Starodub, uma das guias da [agência de turismo] Solo East Travel que organiza visitas guiadas à cidade fantasma, citada pelo The Guardian. Não há, na
verdade, regras que proíbam os visitantes de tocar naqueles animais, sendo que
o único conselho que os guias dão é para os visitantes usarem o mesmo “bom
senso” que usam quando se aproximam de qualquer cão rafeiro.
Certo
é que uma organização norte-americana sem fins lucrativos que se dedica a
ajudar comunidades afetadas por acidentes industriais, a Clean Futures Fund, instalou três clínicas
veterinárias, uma delas dentro da planta de Chornobyl. A ideia é apenas assistir
os cães em caso de emergências, castrá-los e vaciná-los contra doenças como a
raiva ou a hepatite. O objetivo é diminuir o mais possível a população de cães
na zona de exclusão, mas o controlo é difícil de fazer. “Acho difícil que algum
dia venhamos a conseguir acabar totalmente com os cães na zona de exclusão mas
queremos reduzir a população a um ponto em que seja possível tratarmos deles,
alimentá-los e providenciar-lhes uma vida longa e feliz”, diz um dos fundadores
do Clean Futures Fund, citado pelo The Guardian.
Todas as fotos @Solo East Travel |
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