27 anos após o fim da União Soviética as pessoas ainda são marcadas pelo seu “sistema
especial de valores”, que na realidade não passa de simples regras de sobrevivência
numa sociedade autoritária. Regras, mais prejudiciais do que benéficos.
Hoje
abordaremos 10 temas, explicando como e para que temos que vencer a “União
Soviética interior” e começar, realmente, viver no século XXI.
1.
Se vestir bem e cuidar da sua aparência
Na
URSS, as pessoas vestiam-se muito mal, o típico guarda-roupa de um homem
soviético era composto por 1-2 fatos/tenros cor de cinza de rato e castanho/marrom,
um par de camisolas esticadas nos cotovelos, várias camisas de tons
indistintos, para o inverno – um casaco velho da pele de carneiro.
Opcionalmente, poderia existir um gorro de pele caro (às vezes amarrado debaixo
de queixo para não ser roubado) e um par de jeans “Montana”, que custavam um
salário e meio e eram comprados através da fartsovka.
Em casa, os cidadãos andavam com calças azuis de fato de treino, esticadas nos
joelhos. Sobre a roupa interior é melhor não dizer nada – as meias eram remendadas
até o fim da sua vida útil e, parece, nunca deitadas fora.
Modelos da casa Dior nas ruas de Moscovo, 1959 |
O
mesmo se aplica à aparência – colocar em ordem os dentes e os cabelos hoje em
dia não custa muito dinheiro, mas a aparência e a percepção do mundo se mudam
drasticamente.
2.
Tentar viver nos interiores bonitos
Os
interiores bonitos e elegantes (tal como a aparência física) tem uma forte
influência sobre atitudes da pessoa. Existem os camaradas que até hoje usam os
sofás comprados em 1970, argumentando: “na União Soviética esse sofá era novo, quero
a URSS de volta!”
Um
bom interior não precisa ser muito caro. Primeiro, tirem para o lixo ou mercado
de pulgas o tapete da parede, o velho sofá, aparador polido, cadeiras
esfarrapadas. Também se livrem dos livros soviéticos, cristais e figurinhas de porcelana
– estes nunca serão lhe úteis.
Pintem
as paredes de cores pastel ou colem o papel de parede monofónico de alta
qualidade. As paredes ficarão ótimas com as pinturas modernas ou fotos antigas de
família, nas prateleiras – lembranças de viagens ou coisas familiares valiosas.
Criando um interior moderno em casa – menos o cidadão irá querer “voltar para a
URSS”.
3. O futuro começa hoje
O
poder soviético prometia às pessoas: “vamos viver bem, mas amanhã” – um dia
virá o comunismo, e hoje é necessário “sofrer um bocado”. Esta visão de mundo
migrou para a vida quotidiana das pessoas comuns – para que reparar a entrada
do seu prédio, se amanhã virá o comunismo, e todos se mudarão aos palácios? Para
que poupar dinheiro para a velhice, se amanhã tudo será de graça? Como
resultado, o futuro veio – mas pessoas que não pensaram nisso, não tiveram um
lugar decente nesse mesmo futuro.
Precisamos
pensar sobre o futuro aqui e agora – e não apenas pensar, mas também fazer algo
para tornar a sua vida no futuro melhor do que hoje.
4.
Pensar e falar sobre o dinheiro
Na
URSS ensinavam às pessoas que o dinheiro é muito mau/ruim e dele provem todos
os infortúnios. A tese que formou a percepção de diversas gerações de pessoas.
De facto, o dinheiro em si não é bom nem mau/ruim, é apenas um recurso, usando qual
uma pessoa pode resolver certos problemas, e somente dele depende o que ele
fará com o seu dinheiro.
No
mundo moderno, o dinheiro, em primeiro lugar, é a sua independência, a
capacidade de não trabalhar para os “outros” e ser o dono da própria vida. Os
pró-soviéticos de todos os tipos e nacionalidades não gostam disso, na sua
opinião, as pessoas devem ser pobres, dependentes e pedir “borsas” ao poder
político, comer nas suas mãos e permanecer em silêncio. Quem não quiser viver
assim – deve pensar e falar sobre dinheiro e sobre como e onde o irá ganhar.
5.
Educação é um processo constante
Na
URSS, uma pessoa era formada no ensino superior e logo considerada um “trabalhador
especializado”. Existia um registo especial de profissões em que não eram
admitidas, por exemplo, as profissões do futuro – tudo estava estritamente
predeterminado. Existiam ainda os “cursos de melhoria de qualificação”, mas
mais frequentemente um especialista soviético típico, após a sua formação já
não aprendia mais nada, fazendo o mesmo tipo de trabalho durante toda a sua vida
profissional.
No
mundo moderno, tudo funciona de forma diferente – quem quer vingar, terá que
aprender algo novo toda a sua vida – um processo extremamente fascinante, que
não tem o fim. Vivemos no século XXI, e agora, uma pessoa pode obter várias formações
e mudar 2, 3 ou mesmo 4 profissões, atingindo certos patamares em cada uma
delas, vivendo não uma, mas várias vidas, o que é muito bom/legal e interessante.
6.
Viajam, conheçam outros países
A
União Soviética era um país fechado – para viajar ao exterior, o cidadão soviético
tinha que passar por muitas barreiras internas, como verificações familiares e
conversas com o KGB. Por causa de seu isolamento, muitos soviéticos tinham a certeza
de que eles viviam no país mais bonito, amável e honesto, e ainda o mais rico,
para eles a visita ao qualquer país mais ou menos civilizado, muitas vezes se
transformava em um verdadeiro choque cultural.
Agora,
quando graças ao Deus a URSS já não existe mais, as fronteiras estão abertas, e
todos podem ir aonde quiserem. Quanto mais pessoa viaja ao redor do mundo –
mais plenamente pode imaginar o funcionamento da civilização moderna e o lugar em
que nela ocupa o seu país. É claro, melhor é conhecer as novas cidades, e não
apenas escolher o descanso vegetativo na praia – as impressões serão mais
completas.
7.
Respeitem outros e o seu espaço privado
Na
URSS acreditava-se que todos os que viviam “não como soviéticos” eram, no mínimo pessoas
indoutrinadas ou, no máximo, inimigas. Isso se deveu à natureza agressiva e
expansionista do marxismo-leninismo soviético – a doutrina se declarava como “a
única ordem mundial verdadeira”, todos os que discordaram eram declarados loucos
ou inimigos – milhões de cidadãos da URSS foram mortos sob este pretexto.
Quem
não quer parecer um soviético – não diga às pessoas de outros países como eles
devem viver e não venha por cima dos estrangeiros com observações do tipo: “O
meu professor de história me contou tudo sobre o seu país / eu li tudo sobre o
seu país, eu sei melhor como deveria viver Ucrânia!” Não se intrometa com a sua
opinião onde você não foi convidado – apenas ouça, é mais interessante. O mesmo
se aplica ao respeito pelo espaço pessoal – respeite o direito de outras
pessoas ao seu espaço pessoal e liberdade.
8.
Cria os planos da velhice
Na
URSS, aqueles que se aposentaram acabaram por ficar inúteis, que só podiam
jogar dominó no parque, cuidar dos netos e, na melhor das hipóteses, falar
sobre a sua “juventude revolucionária” no palácio local dos Pioneiros. No
século XXI, o sistema de emprego mudou, surgiram muitas profissões novas, a
esperança da vida ativa está aumentando constantemente – portanto, é preciso
pensar já hoje, sobre o que você fará aos 60, 70, ou mesmo aos 80 anos.
9.
Seja dono da sua via, não procure pelos inimigos
Muitas
vezes, na URSS, acreditava-se que em todos os problemas são culpados os míticos
sabotadores, inimigos do povo e espiões. Uma porca na máquina está desaparafusada?
É obra dos sabotadores da NATO/OTAN! Na sopa tem apenas ossos, em vez de carne?
Os kurkuls/kulaks comeram a comida do povo! Alguém cagou nas suas botas? Estaline
está certo, os inimigos estão em todos os lugares! O governo soviético, de
todas as formas possíveis, implantava a ideia de “influência externa” para
desviar as suspeitas da sua próprias falência e disfarçar os seus próprios
erros, de modo que, mesmo em pensamentos, os cidadãos não duvidassem de sua
legitimidade. A imagem do mundo externo como algo hostil e maligno se estendeu
à vida quotidiana – as suas próprias falhas os cidadãos começaram justificar
pelas “intrigas dos inimigos”.
Para
não sermos soviéticos, temos que olhar no espelho e dizer a si mesmo que em
tudo o que temos na vida – temos que repreender ou agradecer apenas a si mesmos.
10.
Considerem o mundo em redor como a casa comum
É
um mundo que temos. E não podemos obter um novo e diferente.
Fotos:
GettyImages | Texto: Maxim
Mirovich e Ucrânia em África
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