A jornalista russa Elena
Racheva investigou a vida e a morte do Anton Tumanov (20), o para-quedista com
a formação especial, um dos invasores russos, abatidos recentemente na Ucrânia.
A sua história, típica, tanto quando possível, explica como e porque os jovens
russos participam na tentativa de aniquilar a Ucrânia.
Conta a sua mãe, Elena Petrovna Tumanova (versão portuguesa curta)...
Anton Tumanov foi trazido num caixão fechado.
— Lá (existe) a janelinha – bem, pelo menos se pode identificar a cara. Os
rapazes me disseram, que na sua unidade, há alguns que são apenas os pedaços de
carne, os (análises de) ADN estão ser feitos agora. Os pais ainda não receberam os seus filhos.
Elena Petrovna já tem o Certidão de óbito do filho, sempre o carrega
consigo. Os pertences, passaporte e a caderneta militar do sargento júnior,
Anton Tumanov, ainda não foi lhe entregue. No dia 20 de agosto ela recebeu
apenas o caixão e a cópia do Certidão de óbito de um morgue da cidade de
Rostov. O certidão contém a data da morte: 13 de agosto de 2014, o lugar: “Local
da deslocação temporária da unidade militar № 27777”; momento: “Durante o
exercício das funções militares” e a razão (da morte): “Lesão combinada. Vários
ferimentos dos membros inferiores causados por estilhaços com danos em
grandes vasos sanguíneos. A perda de sangue aguda”.
— As suas pernas foram arrancadas, é claro. Os rapazes me disseram. Mas eu mesmo
assim senti que ele não estava inteiro no caixão...
Anton foi à tropa da sua Kozmodemiansk nativa (21.000
habitantes, república Mari El)
em 2012. Passou o curso preparatório em Penza, serviu na Ossétia do Sul.
— Quando veio do exército – queria encontrar um trabalho, mas não deu certo,
– diz calmamente Elena Petrovna. – Na cadeia de prisão preventiva não foi aceite
porque tinha anemia. Serviu para o exército e não para o trabalho. Anton foi
para Nizhny Novgorod, uns três meses trabalhou na fábrica de automóveis. Não tinha
lugar para viver, o aluguer era caro... Voltou. Foi algumas fezes ao Moscovo, trabalhou
nas obras, com os rapazes. Não lhes pagaram, eu lhe mandei o dinheiro para o
bilhete de volta. E em Kozmodemiansk trabalhar aonde? Apenas duas fábricas
ficaram, uma faz uns plásticos, outra – eu não me lembro. Em maio (ele) disse: “Eu,
mãe, vou para o exército, sob o contrato. Eu o tentei dissuadir: “Espere, veja
como está a situação... Deus me livre, serás metido na Ucrânia, já tivemos Chechénia,
Afeganistão...” — “Mãe, as nossas tropas não serão enviadas para lá. É tudo, eu
decidi, eu vou. Eu preciso de dinheiro. Eu não vou para a guerra – eu vou para
o trabalho. Não há nenhum outro trabalho”.
No dia 21 de junho de 2014 Anton foi para a 18ª Brigada motorizada de
atiradores, a unidade militar № 27777, situada na aldeia Kalinovskaia na
Chechénia. O local escolheu ele próprio, disse que (na tropa) apaixonou-se
pelas montanhas. Já no local soube que durante os primeiros três meses do
período probatório não irá receber o salário. Mãe lhe mandou 3.000 rublos (80.34
USD), pois o seu próprio salário de enfermeira era 5.500 rublos. Já sob o
contrato lhe prometiam 40.000-50.000 rublos por mês (1.071 – 1.339 USD), os
colegas da unidade explicaram que o mais provável, Anton foi enganado, eles
próprios recebem não mais que 30.000 rublos (803 USD). Os salário de 1,5 meses
do serviço militar também não foi pago...
“Vamos à guerra”
No início de julho Anton ligou para mãe e contou que na sua unidade
perguntam, quem quer ir para Ucrânia como voluntário. Prometiam que caso o
militar sobreviver na Ucrânia durante uns tantos dias, irá receber 400.000
rublos (10.712 USD). Mas ninguém concordava, mesmo se ficarem vivos, sabiam que
seriam enganados, nunca receberiam este dinheiro.
Depois, Anton informou que a sua unidade é mandada para Rostov. Na
fronteira russo-ucraniana os militares da unidade № 27777, estavam no dia 11 de
julho. Perguntei: “O que vocês comeram?” — (A massa instantânea chinesa) “Doshirak”
— “E a cozinha de campo?” — “Não. Ração de combate”.
[...]
Nastia Chernova (17), a noiva do Anton conta sobre os acontecimentos na
província de Rostov de forma diferente. [...] No dia 23 ou 25 de julho Anton
disse pela primeira vez: “Vamos à guerra”. Assustada, Nastia perguntou apenas: “Mas
na Ucrânia não há russos?” – “Nos vamos na qualidade dos insurgentes”.
Segunda vez, como contou Anton à Nastia, eles foram enviados à Ucrânia no dia
3 de agosto, por dois dias. As cidades, datas, objetivos da viagem não disse:
Nastia pensa que nem ele sabia.
— Parece que eles foram enviados apenas para controlar a situação, para irem,
para verem – raciocina ela. – Deram (lhe) o dinheiro ucraniano, Anton contou que
entrou na loja, rindo: “Não há lembranças, pelo menos lhe trago o dinheiro
ucraniano”.
“Tudo será fixe!”
No dia 10 de agosto Anton ligou para casa: “Mãe, nós mandam para Donetsk”. [...]
Apenas disse: “enviaram (nós) para ajudar às milícias. Não se preocupe, tudo
vai ficar fixe!”. À Nastia Anton acrescentou que estará na Ucrânia por dois ou
três meses, talvez até novembro, sem a comunicação.
No dia 11 de agosto Anton recebeu duas granadas e 150 balas para espingarda
automática. Às 15h00 mandou à mãe a mensagem através da rede VK: “Entreguei o
telefone, foi à Ucrânia”. É tudo.
O que se passou depois é sabido apenas nas palavras dos companheiros do
Anton da unidade militar № 27777. Um deles, deixou à Elena Petrovna “Explicação”
legalizada no notário com os pormenores da morte do Anton (o nome do militar e
a cópia do documento está na posse dos jornalistas da “Novaya Gazeta”).
De acordo com colegas, a ordem de atravessar a fronteira com a Ucrânia veio
em 11 de agosto. Aqueles que se recusaram, o comandantes ofendiam, humilhavam,
ameaçavam com os processos criminais. Tiveram a ordem de entrega de todos os
documentos e telefones, retiraram os fardamentos (todos vestiram as fardas de
camuflagem simples), apagaram as marcas de identificação e os números dos
equipamentos militares. Nas mãos e nos pés amarraram as faixas brancas [...]: “São
marcas de identificação do tipo “amigo ou inimigo”. Hoje no pé, amanha na mão
direita, e assim por diante. Tudo o que se move sem as faixas é destruído”.
Na noite de 12 de agosto, uma coluna de 1200 pessoas entrou na Ucrânia e na
tarde do dia 13 parou no território de uma fábrica na cidade de Snizhne na
região de Donetsk, à 15 quilómetros da fronteira. Os camiões com as munições e
armamento foram colocados muito próximos. No dia 13 de agosto contra a coluna dispararam
os (mísseis) “Grad” (ucranianos).
— Os meninos (colegas militares) disseram que das 1200 pessoas – 120 morreram;
450 foram feridos, – diz Tumanova. — Eles próprios estavam algures atrás, e o
meu Anton na frente. Sem trincheiras, sem proteção... Pânico, quem (entra) nas
máquinas, (outros) em todas as direções. Fugiam como podiam...
[...]
A informação sobre a morte (do Anton) trouxe o funcionário do Comissariado
militar de Kozmodemiansk, Budaev. [...] Eu apenas perguntei: “Onde é que isso
aconteceu?” – “Nos arredores de Luhansk” – “Mas eles iam para Donetsk.” – “Não chegaram.”
[...]
— Por que isso aconteceu? Onde? Que me digam e não mentem. Muito mais, é
claro, eu quero saber por que, quem deu essa ordem?! Porque essa ordem só
poderia vir de Moscovo. Se estaria na minha frente Putin – eu teria perguntado:
“Você deu a ordem? Responde honestamente”. [...]
Chora.
— Quando a Crimeia foi anexada, eu estava assistindo a TV e pensei: “Para
que raio precisamos dela? Nós estamos aqui como lixo – e ainda querem nos
anexar alguns”. Antoninho, ao que parece, nem pensou nisso. Ele não ia para a guerra – ia trabalhar.
[...]
— Você quer que pela morte de Anton alguém seja punido? — pergunto eu.
— Eu, sinceramente, não me importo: será despedido alguém, não será. Já não
me importo mais. Eu quero entender por que ele foi enviado para lá, quem fez
isso? Puramente por me. Só que é muito difícil que alguém diga.
[...]
— Para que eles lutam? – simplesmente, não retoricamente me pergunta Elena
Petrovna, tropeça na calçada quebrada. — Por causa do território, hein? Quem
precisa disso? Patavina eu não entendo nessa política... Antes disso, por
vezes, pensava: “Quem, afinal luta lá?” Se permanentemente dizem que tantos milícias
foram mortos – quantos mais lá ficaram? Anton já estava nos arredores de Rostov
– eu ainda pensava assim. Aqui como alguns pensam? A II Guerra Mundial cá não chegou,
e essa não chegará. E que vão levar os homens – não entendem.
[...]
Os militares da unidade № 27777 disseram à Elena Petrovna que nessa missão trouxeram os documentos às três famílias dos mortos: em Kozmodemyansk, Kazan e Mariinsky Posad.
— Ele não era de muitos estudos. Quando terminou a escola – ele não tinha vontade
de ir além. Fui à escola técnica, não terminou. Disse, se trabalhar numa
fábrica, é possível sem a escola técnica. Não há institutos na nossa cidade. O
que ele queria? Um trabalho, um carro, um apartamento, casar-se. Apenas não
funcionou de outra forma com o trabalho... Embora você sabe ... Eu sempre queria
vê-lo de uniforme. E ele mesmo gostava de servir. [...]
Fonte:
Os esquadrões anti-Maydan
Na Crimeia são formados os “esquadrões anti-Maydan”, à fim de “abortar”,
com a polícia, as tentativas da oposição
às autoridades russas de mostrar a sua posição. O fuhrer do “Conselho de anti-Maydan”
e o presidente da fundação do apoio dos veteranos “Otrada” (Alegria), dirigiram
ao presidente auto-proclamado do Conselho de Ministros da Crimeia as cartas pedindo auxílio no seu trabalhinho, isso é trabalho, escreve Newsru.ua
Ajudar financeiramente ao batalhão “Donbas”:
Cartão do PrivatBank: 4405885822253933
Pagamento com qualquer
cartão bancário: http://goo.gl/rhVQ6h
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