A editora polaca
“Ośrodеk Karta” publicou em 2010 o livro das memórias do Stefan Dąmbski chamado “Egzekutor” (O Carrasco). O seu autor nasceu em Lviv, em 1942 juntou-se à Armia Krajowa (AK), pertencendo ao Direcção de Sabotagem (Kierownictwo dywersjami) que se especializava em assassinatos dos alemães e dos colaboracionistas polacos.
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Após o fim da II G. M., AK começou assassinar os activistas comunistas e os ucranianos étnicos. Os ucranianos eram exterminados pela guerrilha polaca única e exclusivamente por serem ucranianos, sem nenhuma culpa adicional...
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O livro provocou a indignação no país, pois na Polónia actual a brutalidade e a violência da Armia Krajowa fazem parte do tabu largamente aceite pela sociedade polaca.
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O autor reconhece que gostou do papel do carrasco que desempenhou durante a guerra: “Eu não precisava de ir à escola, que não gostava desde novo, não precisava de trabalhar fisicamente, não tinha nenhumas obrigações, não me preocupava com aquilo que amanha terei na cozinha”. Resumindo a sua história, Dąmbski escreve: “Os meus sonhos se tornaram a realidade: eu me tornei a pessoa sem duvidas sobre a minha própria justeza. Era pior que o animal mais vil. Me encontrava no mais profundo lamaçal humano. Mas eu era um típico combatente da AK. Era um herói que ostentava no peito a Cruz dos Combatentes...”
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Stefan Dąmbski se suicidou no dia 13 de Janeiro de 1993 em Miami nos EUA...
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Contra os ucranianos
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[...] O meu colega “Twardy” [Wilhelm Ćwiokowy] que possuía o segundo pseudónimo de “Wiluśko” [...] depois da minha chegada à Laskówka foi designado pelo próprio “Drażę” juntamente comigo, com “Słowik” e “Luis”, ao Departamento de Castigos (Oddział Karny), criado para o extermínio dos ucranianos. Era o nosso trabalho regular. Para os trabalhos grandes também eram chamados “Szofer” e “Muszka”.
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[...] Nós escolhíamos as aldeias onde a predominava a população polaca, porque eles nos ajudavam exterminar os ucranianos.
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Não houve nestas acções nenhuma piedade, nenhumas desculpas. Eu não podia reclamar com os meus camaradas de armas. Apenas “Twardy” que tinha contas pessoais com ucranianos se superava a si mesmo.
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Quando entravamos nas casas dos ucranianos, o nosso “Wiluśko” literalmente se tornava raivoso. Com a estatura do gorila bem desenvolvido quando ele via os ucranianos, os seus olhos saíam das órbitas, a sua saliva escorria da boca aberta e ele começava fazer a forte impressão de que era louco.
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Eu e “Louis” ficávamos nas portas e janelas, mas o semi-lúcido “Twardy”, antigo faqueiro de Lviv, corria aos ucranianos petrificados e os cortava em pedaços. Com mestria sem precedentes, ele abria as barrigas ou cortava as gargantas, a sangue jorrava às paredes. Incrivelmente forte, muitas vezes em vez da faca usava os bancos da madeira rachando os crânios (das vítimas) como as cabeças de papoilas.
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Uma vez reunindo três famílias ucranianas em uma única casa “Twardy” decidiu os matar na “diversão”. Colocou um chapéu, tocou o violino e obrigou os ucranianos, divididos em quatro grupos, a cantar “Aqui as colinas, lá os vales, na bunda ficará a Ucrânia...” Sob a ameaça da minha pistola os pobres cantavam. Foi a sua última canção. Após o concerto “Twardy” teve tanta vontade de “trabalhar”, que eu e “Luis” tínhamos fugir para a varanda, para que ele não nos matasse por engano [...]
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A polícia civil (da Polónia socialista) nós ajudava a exterminar os ucranianos. Tivemos uma unidade “nossa” situada nos arredores de Dynow mas margens do rio Sjan, que após a prisão dos ucranianos suspeitos de incendiar as aldeias polacas, os entregava à nós.
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Em vez de os transportar aos tribunais ou até ao comandante da cidade, éramos avisados através dos informantes que o ucraniano tal e tal nos espera na polícia e pode ser levado. Então este era o trabalho apenas para mim e para “Twardy”.
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Chegávamos lá principalmente à noite e em seguida se dirigíamos às margens do rio. Colocávamos a pessoa no local alto e para ter a certeza o furávamos com as balas de metralhadora, assim já o cadáver caia na água [...] Estes corpos apareciam à superfície após uma semana. Flutuando rio abaixo, inchados, como se estivessem grávidos, azuis, cheios de buracos [...]
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[...] Um dia, caminhando pela vila com “Twardy” e “Luis”, entramos na casa onde viviam três moças. Durante a conversa, ficou claro que uma deles era ucraniana. Como ela era jovem e muito bonita, “Twardy” decidiu que a melhor punição pela sua origem ucraniana seria o seu estupro por nós três.
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Eu estava desagradavelmente surpreendido com esta ideia, mas fez uma cara de pedra, porque não há nada pior para um garoto de 19 anos de idade do que a confessar que tem “o medo do rabo”. Ninguém protestou. Mulher foi levado para um quarto separado, o primeiro, na qualidade de iniciador, ficou com ela o corporal “Twardy”. Saiu após dez minutos todo suado e “Luis” tomou o seu lugar. Finalmente chegou a minha vez.
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Entrando no quarto, encontrei a pobre garota deitada nua na cama a se sacudir histericamente. Senti-me estupidamente, comecei me arrepender e não sabia o que fazer. Finalmente, eu me sentei na beira da cama e comecei acariciar delicadamente os seus cabelos longos e pretos como veludo. Eu comecei pedir que ela pare de chorar, e até tentei convencê-la do que tudo ainda podia acabar bem, embora no fundo do coração conhecendo bem “Twardy” sabia que fim ela terá. No entanto, eu estava muito triste.
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Ela era tão linda e ainda tão jovem, provavelmente não prejudicou ninguém e tinha o mesmo direito à vida, tal como cada um de nós. O único azar é nascer ucraniana – por isso o seu destino já estava determinado.
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Eu estava demasiadamente preocupado com a minha carreira “insurgente” e com meu “patriotismo” para logo sair e dizer ao “Twardy” directamente nos olhos que nós fizemos uma grande bestialidade e que a moça deve ser poupada. Eu tinha o mesmo patente (militar) que “Twardy”, por isso não se tratava de possibilidade de lhe dar uma ordem.
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[...] Eu não a estuprei em terceiro, mas na realidade, principalmente porque o estupro não me excitava emocionante e o choro histérico da menina me deprimia bastante. Mexi o meu cabelo, limpando o “suor seco” da testa, entrei no quarto onde os colegas se divertiam com duas polacas.
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Confirmei que tudo foi feito e estou a entregar à menina ao critério do “Twardy”, porém com a ligeira dica para poupar a sua vida. “Twardy”, embora olhou para mim como para um louco, de repente, concordou facilmente, mas disse: “Você, “Zsbik” sempre tem as ideias idiotas.”
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No entanto, o caso não acabou com estupro, embora “Twardy” poupou a sua vida, mas antes ele puxou a menina para a cozinha, aqueceu um ferro até este ficar vermelho, o colocou no corpo da menina, até que apareceram as listras vermelhas. E neste estado, completamente nua, jogou a pobre moça lá fora. Salvando a vida, com a neve que chegava até os joelhos, no frio de rachar, ela correu aos vizinhos.
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Depois do caso com a garota eu mais uma vez fiquei convencido do de que “Twardy” tem um faro excepcional para com os ucranianos. Ele reconheceu imediatamente a jovem, embora ela vivia com duas polacas. Mais uma vez fiquei convencido do seu talento em uma ocasião que aconteceu dois dias depois.
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Quando voltávamos à noite para nossa casa em Laskówka, [“Twardy”] agarrou um estranho que caminhava calmamente e o perguntou se ele por acaso não era ucraniano. Embora ele tinha uma pronúncia (da língua polaca) algo estranha, disse com absoluta confiança: “Eu, meus senhores, sou grego – católico, eu não sou ucraniano”.
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“Twardy”, no entanto, pediu-me para lhe apontar a pistola, ele pegou o cinto da calça e começou a espancá-lo impiedosamente no rosto. Primeiramente, o pobre homem protestou e gritou que ordens são estes, porque nós o atacamos, quando ele não era ucraniano, mas apenas grego – católico. Mas “Twardy” batia-lhe cada vez mais fortemente.
A dor de resto era insuportável, até que o transeunte concordou com a gente em tudo: “Sim, eu sou ucraniano...” Neste ponto, o interrogatório terminou e o veredicto foi executado pelo “Twardy” que com um movimento habitual cortou garganta ao condenado [...]
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egzekutor
Blogueiro
Também não podemos esquecer o caso da aldeia ucraniana de Pawlokoma (actual território da Polónia) onde nos dias 1 – 3 de Março de 1945 a unidade da Armia Krajowa assassinou 365 (!) ucranianos (apenas os rapazes até 5 anos e as meninas até 7 anos eram poupados). O massacre, alegadamente, aconteceu em retaliação contra o desaparecimento de 8 (ou 11) polacos, levados, alegadamente, pela unidade do Exército Insurgente Ucraniano (UPA). Embora o historiador contemporâneo polaco Eugeniusz Misiło argumenta que os polacos foram raptados pelo grupo de extermínio do NKVD soviético, exactamente para provocar uma série de ataques retaliatórios entre os polacos e ucranianos. Em 2006, quando na aldeia de Pawlokoma finalmente foi construído o monumento em memória dos ucranianos assassinados, o texto da pedra memorial a) não mencionava que as vítimas eram ucranianas; b) texto dizia que eles “morreram tragicamente” e não menciona nem os autores, nem os motivos do assassinato colectivo.