domingo, julho 10, 2016

Os terroristas russos nas cadeias ucranianas

A posição russa na questão da presença dos seus cidadãos na guerra russo-ucraniana mudou bastante nos últimos dois anos. De negação total em 2014 até a confirmação da presença dos “voluntários” e dos “ex-militares nas férias” em 2016. Mas quantos são, onde estão e quem são continua sendo questão pouco conhecida. O advogado ucraniano dos terroristas russos, Valentin Rybin, conta à Gazeta.ru sobre os seus clientes.

O advogado Valentim Rybin é conhecido por defender o sargento do GRU Alekandr Aleksandrov, capturado em combate na Ucrânia em 2015. No entanto, ele defende diversos mercenários e terroristas russos “perdidos” na guerra russo-ucraniana, assim como defende os separatistas ucranianos, membros dos grupos terroristas de “dnr” e “lnr”.
Valentim Rybin: «Os russos que lutaram pela dnr não são apreciados por outros presos das cadeias ucranianas, são maltratados por eles».

No total, pelos dados do representante do MNE russo, Konstantin Dolgov, Ucrânia acusou formalmente mais de 130 cidadãos russos pela sua participação na guerra no leste do país. «De acordo com nossos dados, mais de 100 cidadãos russos estão agora nas prisões. Mais de 130 cidadãos russos são acusados ... no âmbito do conflito armado na [região de] Donbass», — disse Dolgov.

Os primeiros clientes em 2014
Rybin começou por defender Roman Bannych (1985), preso em 5 de abril de 2014 na região de Luhansk. O sujeito tinha como endereço registado a unidade militar № 13204 que pertence ao GRU do Estado Maior General das Forças Armadas da Federação Russa. Em 15 de setembro de 2014 ao pedido da contraparte russa foi trocado juntamente com outros sabotadores russos pelos POW ucranianos.
Depois veio o caso da terrorista Mariya Koleda (1991), cidadã russa muito ativa nos movimentos separatistas nas regiões Kherson e Mykolaiv, foi detida em 8 de abril de 2014 durante a tentativa dos separatistas pró-russos de ocupar a Administração Estatal na cidade de Mykolayiv. Em 16 de setembro de 2014 foi libertada numa troca de prisioneiros.
Uma outra “cliente” famosa era Olga Kulygina (1972), agente dos serviços secretos russos e próxima aos terroristas Girkin e Bezler, em setembro de 2014 foi trocada por 14 (17) militares ucranianos.
O advogado defendia o terrorista Fedor Ustinov (1983), cidadão russo, morador da cidade de Novorossiysk, preso em combate pelas forças ucranianas no fim de 2014 na cidade de Debaltseve. No momento da sua detenção possuía o documento de identificação da organização terrorista “dnr”, a metralhadora RPK-74 com munições e lança-granadas RPG-18 «Mukha». O sujeito era tão fortemente zumbificado que durante os primeiros 40 dias na cadeia se recusava a comer a comida ucraniana. Libertado na troca de prisioneiros em 26 de dezembro de 2014.

Os clientes atuais
O criminoso russo do delito comum,  Ruslan Gadzhiev (1973), era mecânico condutor do blindado T-64 do bando terrorista “Avgust”, foi preso na batalha de Debaltseve, no combate pela colina 307,5 (o ponto de controlo ucraniano “Valera”), conhecido como “Estalinegrado sob Sanzharivka”. Na batalha de 25 de janeiro de 2015 os terroristas russos avançaram com 5 blindados, apoiados pelos blindados ligeiros BTR e infantaria. Até a colina chegaram apenas três blindados, um T-72 e dois T-64. No decorrer do combate os blindados terroristas esmagavam os defensores ucranianos com as suas lagartas. No final, as forças ucranianas liquidaram todos os terroristas, Gadzhiev foi único sobrevivente. De momento no tribunal ucraniano decorre o processo contra Gadzhiev, acusado de participação na “guerra agressiva contra Ucrânia”. O terrorista é acusado na participação ativa na morte dos 9 e ferimentos dos 12 militares ucranianos e enfrenta entre 15 anos de cadeia e prisão perpétua.

Os outros clientes são Oleg Khlyupin (1985), colaborador do GRU, deportado da Ucrânia em 25 de março de 2016 e Ogor Kimakovskij (1972) detido pelo SBU em 2015 pela espionagem à favor da Rússia e grupo terrorista “dnr”, colocado na lista para a possível troca de prisioneiros.
Valentim Rybin conta que nas cadeias ucranianas estão detidos pelo menos 20 cidadãos russos, acusados de participação nos atos de separatismo e terrorismo, este número figura nas listas mais recentes elaboradas pelo consulado russo em Kyiv. Possivelmente mais cidadãos russos estão detidos por cometerem diversos crimes configurados nos artigos do Código Penal da Ucrânia.

Ajuda à investigação

Como conta o advogado, o sargento do GRU Aleksandrov, estava na Ucrânia na posse do telemóvel pessoal que continha as fotos dos seus documentos militares russos, as ordens militares da sua unidade militar em Togliatti, um monte de correspondência pessoal, etc., tudo isso facilitou sobremaneira o trabalho dos investigadores ucranianos.

As tarefas do advogado do diabo

O advogado conta que foi contactado pelos familiares dos pelo menos quatro cidadãos russos que desapareceram nos territórios ocupados pelos terroristas da “dnr” e “lnr” em 2014-15. Numa situação normal, os “desaparecidos” poderiam ser procurados pelo sinal dos seus telefones celulares. Mas sendo terroristas russos, eles entraram na Ucrânia ilegalmente, ou seja, “eles não estão lá”. Em dois anos da guerra diversos russos terroristas russos foram liquidados ou simplesmente desapareceram na Ucrânia, sem deixar o rasto. O advogado pretende procurar estas pessoas ou as suas campas...

Bónus
Os ucranianos que lutaram pela dnr e lnr são deportados da Rússia. Os milicianos [de nacionalidade (oficial) ucraniana] que lutaram no Donbas são detidos no território da Federação Russa. Já existem às dezenas. Aqui [na Rússia] eles apenas violaram o regime de permanência de 90 dias. E estão sujeitas à expulsão imediata pelos serviços de migração. Tudo, segundo a lei.

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