O acidente nuclear de Сhornobyl,
a 26 de abril de 1986, ficará, sem dúvida, marcado para sempre como uma das
páginas mais trágicas da história do nosso planeta.
por: Rodrigo Barbosa |
Com KATERYNA KHINKULOVA
A zona de exclusão de
30 quilómetros criada há 29 anos continua em vigor, deixando a céu aberto uma
região fantasma e a cúpula de cimento – supostamente temporária – que esconde
um reator que concentra ainda elevados níveis de radioactividade. A
complexidade da estrutura que deverá selar definitivamente o local levou a
inúmeros atrasos e, hoje, os trabalhos estão ainda em curso.
A euronews falou com três
ucranianos, nascidos em Chornobyl ou nos arredores, no fatídico mês abril de
1986. A questão colocada foi: como é ser um “filho de Chornobyl?”
Olha Zakrevska (nas
fotos do início deste artigo) é fotógrafa profissional e gere o seu próprio
estúdio na capital ucraniana, Kyiv. Nasceu a 11 de abril de 1986 em Pripyat, a
localidade mais próxima da central de Chornobyl. O pai era um jovem perito em
energia nuclear.
“…alguns pais proibiam
os filhos de brincarem com o meu irmão e comigo, dizendo que eramos
radioactivos e contagiosos.”
“Vivi em Pripyat nos
primeiros 15 dias de vida. Saímos a 26 de abril de 1986 e passámos um ano com
amigos e família em Kyiv. Um ano mais tarde, deram-nos um apartamento. O meu
pai continuou a deslocar-se a Chornobyl e a trabalhar ali.
Chornobyl sempre fez
parte da história da minha família. Os nossos vizinhos também trabalhavam na
central, fazia parte do nosso quotidiano, dos controlos de rotina que tínhamos
de fazer no médico ou dos documentos que tínhamos de preencher para receber
ajudas.
Atualmente, tento ainda
compreender completamente o que Chornobyl significa para mim. Quando completei
25 anos, apercebi-me, de repente, que cresci na sombra deste acontecimento,
deste fenómeno. É por isso que procuro agora outras famílias de Chornobyl e as
convido ao meu estúdio, para fotografá-las e falar com elas. Muitos têm agora
as próprias famílias e filhos e todos se preocupam com a saúde, como é óbvio.
Quando era nova, os médicos diziam sempre: ‘Não temos ideia em que medida a
radioactividade poderá afetá-la’. Algumas coisas previsíveis, mas muitas
outras, não.
Acho que muitas
pessoas, incluíndo as que nasceram em Pripyat, ainda não estão prontas para
pensar e analisar o que significou Chornobyl para nós. Alguns preferiam
esquecer. Eu acredito que, já que aconteceu, é melhor tentar percebê-lo. Chornobyl
traumatizou-nos e, ao lidarmos com este trauma, penso que podemos viver uma
vida melhor.
Penso que algumas
feridas podem tornar-nos mais fortes e mais preparados para lidar com as
dificuldades da vida. Um dia os meus país tiveram de partir, sabendo que não
regressariam. Depois, tivemos de lidar com os preconceitos: depois de mudarmos
para longe, alguns pais proibiam os filhos de brincarem com o meu irmão e
comigo, dizendo que eramos radioactivos e contagiosos.
Fotografo famílias de
Chornobyl há algum tempo e gostava de, um dia, transformar esta coleção num
projeto propriamente dito. O que é mais importante para mim, no entanto, é
encontrar os amigos e colegas dos meus pais, os que trabalhavam em Chornobyl em
1986, e reatar relações.”
Olexiy Starynets nasceu a 26 de abril de 1986, o próprio dia da tragédia, numa pequena localidade alguns quilómetros a sul da capital ucraniana. Hoje em dia é um jornalista de desporto e vive em Kyiv. Apesar da data de aniversário sempre ter sido fonte de comentários acerca de ser um “bebé de Chornobyl”, mostra-se otimista acerca do futuro.
Olexiy Starynets nasceu a 26 de abril de 1986, o próprio dia da tragédia, numa pequena localidade alguns quilómetros a sul da capital ucraniana. Hoje em dia é um jornalista de desporto e vive em Kyiv. Apesar da data de aniversário sempre ter sido fonte de comentários acerca de ser um “bebé de Chornobyl”, mostra-se otimista acerca do futuro.
“Quando era pequeno,
mudámos várias vezes e, em cada nova escola, passava por exames médicos. Era
sempre o mais saudável!”
“A minha primeira
memória de Chornobyl? Será certamente a minha primeira memória de um
aniversário, claro! As pessoas falavam sempre nisso, na escola, porque nasci no
mesmo dia da explosão. A minha mãe e o meu avô disseram-me que ouviram falar no
desastre desde o primeiro dia. Na maternidade onde a minha mãe deu à luz, eles fechavam
as janelas para tentar impedir a entrada da radioactividade e lavavam o chão
com mais frequência. A explosão ocorreu nas primeiras horas do dia 26 de abril;
eu nasci às 6 da tarde.
Quando era pequeno,
mudámos várias vezes e, em cada nova escola, passava por exames médicos. Era
sempre o mais saudável! É claro que os meus pais nunca pararam de se preocupar
com os efeitos de Chornobyl, porque viviamos apenas a 250 quilómetros e,
algumas vezes, viajávamos mesmo a sítios mais perto.
Não penso em mim como
um filho de Chornobyl. Não afetou a minha saúde, de nenhuma forma. Nunca fui a
Pripyat ou ao local da central. Tenho a certeza de que irei um dia, só para ver
como é. Mas sou bastante positivo acerca da energia nuclear. Se for lidada da
forma correta, é segura e amiga do ambiente. Tanto quanto percebi, o acidente
de Chornobyl foi provocado por um erro humano.
Claro que Chornobyl faz
parte da nossa história, mas não penso muito nisso. Mas os meus amigos
lembram-se sempre do meu aniversário!”
Yuri Vyshnevsky também
é um jornalista de Kyiv. Nasceu a 1 de abril de 1986. O pai trabalhou na zona
de exclusão, durante os meses que se seguiram ao acidente.
“Este enorme desastre
ambiental feriu não só a Ucrânia, como outros países europeus.”
“A minha mãe foi comigo
e com a minha avó para a Moldova depois do acidente e o meu pai vinha visitar
quando podia. Falavamos de Chornobyl de vez em quando mas, felizmente, não
afetou muito a nossa família. Estamos todos bastante saudáveis, apesar do ambiente,
na Ucrânia, ser bastante poluído.
Chornobyl é uma grande
pedaço da nossa história. A Ucrânia tornou-se conhecida na Europa da pior
forma, não podemos esquecê-lo. Houve um grande número de outros acontecimentos
que, no entanto, me tornam orgulhoso de ser ucraniano: a declaração da
independência ou vitórias desportivas de alguns dos meus compatriotas, como os
futebolistas do FC Dynamo Kyiv, os irmãos Klitschko no mundo do boxe ou os
campeões olímpicos ucranianos. Todas estas coisas positivas não fazem, no
entanto, esquecer este enorme desastre ambiental, que feriu não só a Ucrânia,
como outros países europeus.
Não penso em mim como
um filho de Chornobyl. Felizmente, não afetou a minha saúde. Mas, através do
meu trabalho, vejo crianças cujos pais tem estado doentes ou que estão, elas
próprias, doentes. Isso é muito triste.
Nunca estive na zona de
exclusão, mas muitos dos meus amigos estiveram. Hoje em dia é muito fácil ir
até lá, numa visita guiada, por isso a ‘exclusão’ é muito limitada.
Será o nuclear uma boa
ideia? Penso que a energia nuclear é necessária, porque muitos países não tem
recursos naturais suficientes. Mas é importante ser responsável na sua
utilização, para evitar desastre que prejudicam os humanos e a natureza.”
Fonte:
http://pt.euronews.com/2015/04/27/filhos-de-chernobyl-o-que-torna-diferentes-os-ucranianos-nascidos-em-1986
Showbiz e Ucrânia
A atriz americana Blake Lively, mais
conhecida pelo seu papel na série «Gossip girl», apoiou o novo trend de moda, aparecendo
no público às cores da bandeira da Ucrânia (fonte
& fotos).
Ucrânia agradece!
1 comentário:
http://pt.euronews.com/2015/04/28/ha-criminosos-no-leste-da-ucrania-a-ser-exibidos-em-publico-amarrados-a-postes/
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