terça-feira, novembro 25, 2014

Voluntário do “Aydar”: judeu israelita, punk e anarquista

O israelita Gregory “Olen” Pivovarov nasceu na Rússia, mais tarde emigrou para Israel. O anarquista e punk bem conhecido da praça Dizengoff  em Telavive, Gregory viajou por toda a Europa à boleia, participou na defesa paramilitar da Maydan, depois se tornou o voluntário do batalhão “Aydar”.
Gregory Pivovarov da época punk: último à direita, com o dedinho médio esticado
por: Edward Doks (versão curta)

(O jornalista Edward Doks encontrou Gregory Pivovarov em Kyiv, à onde este veio para se despedir do seu comandante e amigo Oleksandr “Italiano” Piskizhov, que morreu defendendo o 32º posto de controlo das FAU, na região de Luhansk).

Gregory nasceu em Leninegrado em 1981. Na década de 1990 a sua família se repatriou para Israel. Viviam em várias cidades, tiveram a experiência de kibbutz. Em 1999 ele serviu o SMO na brigada Golani. Depois começou a vida adulta: trabalhou, passeou, viajou muito por todo o Israel e velho continente, era um punk...
Gregory Pivovarov punk: último à direita com uma tatuagem e colete jeans azul
No início de 2014 cheguei à Ucrânia (quando Maydan começou a fase de resistência mais activa). Os meus amigos ucranianos – médicos, ativistas dos serviços de emergência, estudantes me disseram: “Venha, precisamos da sua ajuda, aqui (em Kyiv) acontecem as coisas terríveis, precisamos de gente forte”. Sendo anarquista pela natureza, anti-sistema, eu sem pensar duas vezes decidi ir e ajudar os amigos. Depois, nos dias 18-19 de fevereiro começaram os verdadeiros combates. Eu, na realidade vi o terror e as selvajarias (governamentais) que até ai me contavam. Não presenciei os (acontecimentos) no parque Mariinsky (carga do “Berkut” aos manifestantes), mas presenciei o BTR na rua Khreshatyk que nos incendiamos.
 
ED: Vocês atiravam os «cocktail Molotoff»?

GP: Em geral, usávamos escudos, eu era o «escudeiro», com os «cocktail» não acertávamos, até que a barricada foi rompida pelo blindado. Ficamos — não sei como aguentamos. Na manha do dia 19 recebi a contusão, foi acompanhar um amigo até o apartamento onde estavam os rapazes feridos. Após a vitória da Maydan me juntei aos estudantes que tomaram o controlo do Ministério de Educação e Ciência. Como o combatente mais experiente me pediram ajudar à sua guarda. Me orgulho do que era único ministério onde não houve nenhuma nomeação política à partir de cima e onde o ministro foi a pessoa ligada à educação. Depois a Rússia meteu as suas tropas na Crimeia e eu me inscrevi na centena da auto-defesa da Maydan. Pois temos que continuar no mesmo espírito de liberdade. Isso é aquilo que queria o povo ucraniano. Eu não posso esquecer os olhos das pessoas que vinham de todos os lados. Não havia nenhuma diferença quem te és: georgiano, judeu... Nos todos juntos atirávamos as pedras e gritávamos: «Não por nós! Pelo futuro sem a corrupção!» [...] Somos livres. Não precisamos nem dos EUA, nem da Rússia, não somos inimigos de ninguém…
Gregory no batalhão "Aydar"
[...]

E num belo dia, 19 de maio me ligam os meus camaradas, que naquele momento estavam no (batalhão) “Aydar” e dizem “Venha!”. Desde ai estou desempenhar as tarefas de combate no batalhão “Aydar”. Estas férias (estadia em Kyiv) estão ligadas à morte do meu amigo e comandante do “Pelotão de Ouro”. Ele morreu em combate pelo 32º posto de controlo, salvando com a própria vida os combatentes de um outro batalhão. Era uma pessoa inesquecível, todo o seu tempo ele entregava aos seus companheiros, mesmo de férias não nós deixava.
Gregory (1º à esquerda) com Oleksandr «Italiano» Piskizhov (no meio)
ED: Gregory, és da Rússia, em combate podes encontrar os seus amigos da infância…

GP: E daí, sou o globalista, acho que o mundo é sem as fronteiras. Não há más nações ou países, existem apenas más pessoas. Todos somos criaturas de Deus, todos somos paridos por uma mãe e todos seremos sepultados na terra. A questão é, onde cada um encontra o seu lugar, o meu lugar é aqui. Na Ucrânia eu achei o meu lugar, embora estive em muitos países. [...] Quando nós estávamos com os escudos na Maydan e contra nós eram atiradas as granadas (do “Berkut”) e todos estávamos à arder, um jovem que estava ao lado disse me: «Eu sou do “Setor da Direita”, e me indiferente que és judeu, antifa e anarquista, diz me o seu nome, se nos iremos  morrer, pelo menos os nossos corpos serão reconhecidos». Eu estava à arder, os companheiros conseguiram apagar o fogo.

[...] Vendo o terror que acontece do outro lado, eu entendi, os ucranianos são simplesmente anjos. Eu soube que os (mercenários) do Kadyrov e sérvios violam e matam as pessoas. Ou por exemplo, a unidade que opera morteiro AGS, dispara contra as posições ucranianas do território do hospital, depois foge de lá, espera 20 minutos e depois dispara contra o hospital, acusando do sucedido o exército ucraniano. Exemplos destes são muitos. «Aydar» sempre vem à frente, não sem ajuda do Deus, pois como, então, explicar que com as pistolas automáticas nos paramos os blindados.
Gregory em Kyiv com a foto do seu avô, oficial do exército soviético
ED: Qual é a idade média dos combatentes do “Aydar”?

GP: De 17 à 60 anos. Temos dois muçulmanos que combateram no Afeganistão, nos diferentes lados das barricadas. Um é tártaro, outro é afegão, hoje ambos combatem pela Ucrânia. [...] Geralmente no exército cada um tem a sua especialidade, mas no nosso batalhão todos sabem fazer tudo. Eu era operador do RPG, artilheiro do BTR, batedor e guarda. Quando os mísseis “Uragan” (russos) bombardearam as nossas bases Pobeda e Dmytrivka e deles não restou absolutamente nada, os nossos rapazes estavam recolher as coisas. Eles acharam lá a quipá e me trouxeram. «És judeu, fica com isso», — disseram eles. [...] O mais importante que nós sabemos que nós temos a razão, a vitória será nossa, a verdade vencerá. Se não teríamos a razão será que o Deus nos ajudaria? Quer ao nosso batalhão, quer aos outros militares ucranianos. E se Ele nos ama, significa que nós temos a razão.

Quando o gravador já foi desligado e no escritório, onde decorria a entrevista, entraram os companheiros do Gregory, ele com um sentimento e fortíssimo sotaque russo recitou um poema patriótico bonito e longo em ucraniano. «O verdadeiro ucraniano», — sorriu em aprovação um camarada bigodudo.

Fonte:
http://www.lechaim.ru/2732

Defendendo Ucrânia desde 2014, Gregory visivelmente envelheceu. Nascido em 1981, ele já aparenta ter uns 10 anos à mais. Nas FAU Gregory subiu do posto de simples voluntário estrangeiro até a posição de comandante do pelotão do 24º Batalhão Especial de Assalto «Aydar». Nessa entrevista de 2023 ele fala sobre os combates, a sua experiência militar e outros acontecimentos da guerra: 

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