sexta-feira, agosto 14, 2015

Os militares russos desertam da guerra na Ucrânia

O jornalista Rory Challands da Al Jazeera English desvenda as estórias dos militares russos que desmentem a narrativa oficial do Kremlin sobre a “não participação” dos militares russos no ativo na guerra da Ucrânia ao lado e no lugar de “separatistas”, ditos pró-russos.

A reportagem foi feita na cidade russa de Maikop, o local de aquartelamento da 33ª Brigada especial de infantaria motorizada de Maikop (a unidade militar № 22179).

Versão russa dos acontecimentos

O jornal oficial russo, Gazeta.ru investigou as notícias de deserção em massa dos militares russos e chegou às conclusões absolutamente semelhantes às de Al Jazeera: dezenas de militares russos abandonaram o exército para não participar na invasão do seu país do leste da Ucrânia. Eles são detidos, presos e acusados judicialmente de abandono das suas unidade e de deserção, e correm o perigo de serem condenados até 10 anos de prisão efetiva.
Soldado russo Amatoliy Kudrin, condenado
O soldado Anatoliy Kudrin (23 anos, na foto em cima), já foi julgado e condenado aos 6 meses de prisão, em regime semiaberto. Mais dois militares estão detidos, a investigação dos outros casos – prossegue. Todos são acusados pela justiça militar russa ao abrigo do artigo 337º do Código Penal da federação russa: “abandono não autorizado da unidade militar” (sancionado até 5 anos de cadeia) e artigo 338º – deserção (até 10 anos de cadeia).

O soldado Ivan Shevkunov (1994), operador do morteiro, escreveu três pedidos de desmobilização voluntária, não recebendo nenhuma resposta das chefias militares. Em 10 de junho de 2015 o soldado foi oficialmente acusado pela justiça militar russa de deserção.
Acusação formal contra o soldado russo Ivan N. Shevkunov
O sargento (de origem ucraniana) Pavel Tynchenko (27) tem a estória semelhante, que difere apenas no artigo mais leve do Código Penal. Pavel foi detido e acusado de “abandono não autorizado da unidade militar”. O pedido prévio de desmobilização também foi ignorado pelas chefias militares imediatas.
Contestação oficial do sargento Pavel P. Tynchenko
Na contestação oficial que Pavel Tynchenko escreveu ao juiz da guarnição militar de Maikop, Margolin A. V., o militar russo diz: «Eu não acatei uma ordem criminosa, pois não queria violar o juramento militar que prestei e não queria participar em ações militares no território da Ucrânia».

A vice-diretora geral da “1ª União conjunta dos juristas de Kuban”, a advogada Tatiana Chernetskaya, que representa os interesses dos cinco militares russos, diz que já foram abertos dezenas de casos criminais contra os militares que abandonaram as instalações do exército.
Segundo a estatística oficial do tribunal da guarnição militar de Maikop, na 1ª metade de 2015 já foram tomadas 62 deliberações, baseadas no artigo 337º, parte 4ª (“abandono não autorizado da unidade militar”). Nos últimos 5 anos, de 2010 à 2014, o mesmo artigo foi evocado apenas 35 vezes.

A Dra. Chernetskaia explica que as razões da deserção / abandono são as mesmas: péssimas condições no aquartelamento e propostas abusivas de se tornar “voluntário” ao serviço das organizações terroristas de “lnr-dnr”.

O 2º sargento Aleksandr Enenko (de 22 anos, também de origem ucraniana) conta que os militares russos no ativo eram constantemente visitados nas instalações oficiais do exército russo pelos propagandistas fardados, com galões de oficiais, mas sem insígnias identificativas, com as propostas de combater na Ucrânia. Estes não falavam da necessidade de defender os “russófonos”, simplesmente ofereciam a recompensa diária de 8.000 rublos (125 dólares) e prometiam quase o estatuto de veterano, que por sua vez oferece diversas regalias e direitos sociais, garantidas pelo estado russo.
O 2º sargento Aleksandr Yenenko
Já os militares russos que se encontravam na Ucrânia telefonavam aos camaradas e contavam a realidade: ninguém recebeu os valores prometidos, no caso da morte, os “voluntários” russos eram imediatamente classificados como pessoas “sem nenhuma ligação ao exército russo”, ou até “desertores”. [...]   

Nenhuma tentativa dos jornalistas da Gazeta.ru de obter o comentário oficial dos oficiais ligados à 33ª Brigada especial de infantaria motorizada de Maikop foi frutífera. O Ministério da Defesa russo apenas confirmou a posição oficial: “informação sobre a presença dos militares russos no território da Ucrânia é uma mentira, os rumores sobre a propaganda mantida nas unidades militares russas para se alistar como voluntários no Donbas não corresponde à verdade”.

Fonte (em russo):
http://www.gazeta.ru/politics/2015/07/10_a_7633125.shtml

Sem comentários: