O jornalista Rory
Challands da Al Jazeera English desvenda as estórias dos militares russos que
desmentem a narrativa oficial do Kremlin sobre a “não participação” dos
militares russos no ativo na guerra da Ucrânia ao lado e no lugar de “separatistas”,
ditos pró-russos.
A reportagem
foi feita na cidade russa de Maikop, o local de aquartelamento da 33ª
Brigada especial de infantaria motorizada de Maikop (a unidade militar №
22179).
Versão russa dos
acontecimentos
O jornal oficial russo,
Gazeta.ru investigou as notícias de deserção em massa dos militares russos e
chegou às conclusões absolutamente semelhantes às de Al Jazeera: dezenas de
militares russos abandonaram o exército para não participar na invasão do seu
país do leste da Ucrânia. Eles são detidos, presos e acusados judicialmente de abandono
das suas unidade e de deserção, e correm o perigo de serem condenados até 10
anos de prisão efetiva.
Soldado russo Amatoliy Kudrin, condenado |
O soldado Anatoliy
Kudrin (23 anos, na foto em cima), já foi julgado e condenado aos 6 meses de prisão, em regime semiaberto.
Mais dois militares estão detidos, a investigação dos outros casos – prossegue.
Todos são acusados pela justiça militar russa ao abrigo do artigo 337º do Código
Penal da federação russa: “abandono não autorizado da unidade militar” (sancionado
até 5 anos de cadeia) e artigo 338º – deserção (até 10 anos de cadeia).
O soldado Ivan Shevkunov
(1994), operador do morteiro, escreveu três pedidos de desmobilização voluntária,
não recebendo nenhuma resposta das chefias militares. Em 10 de junho de 2015 o
soldado foi oficialmente acusado pela justiça militar russa de deserção.
Acusação formal contra o soldado russo Ivan N. Shevkunov |
O sargento (de origem
ucraniana) Pavel Tynchenko (27) tem a estória semelhante, que difere apenas no
artigo mais leve do Código Penal. Pavel foi detido e acusado de “abandono não
autorizado da unidade militar”. O pedido prévio de desmobilização também foi
ignorado pelas chefias militares imediatas.
Contestação oficial do sargento Pavel P. Tynchenko |
Na contestação oficial
que Pavel Tynchenko escreveu ao juiz da guarnição militar de Maikop, Margolin A. V., o militar russo diz: «Eu não acatei uma ordem criminosa, pois não
queria violar o juramento militar que prestei e não queria participar em ações
militares no território da Ucrânia».
A vice-diretora geral da
“1ª União conjunta dos juristas de Kuban”, a advogada Tatiana Chernetskaya, que
representa os interesses dos cinco militares russos, diz que já foram abertos dezenas
de casos criminais contra os militares que abandonaram as instalações do
exército.
Segundo a estatística
oficial do tribunal da guarnição militar de Maikop, na 1ª metade de 2015 já foram tomadas 62 deliberações, baseadas no artigo 337º, parte 4ª (“abandono não
autorizado da unidade militar”). Nos últimos 5 anos, de 2010 à 2014, o mesmo
artigo foi evocado apenas 35 vezes.
A Dra. Chernetskaia explica que as razões da deserção
/ abandono são as mesmas: péssimas condições no aquartelamento e propostas
abusivas de se tornar “voluntário” ao serviço das organizações terroristas de “lnr-dnr”.
O 2º sargento Aleksandr Enenko (de 22 anos, também de origem ucraniana) conta que os militares russos no
ativo eram constantemente visitados nas instalações oficiais do exército russo pelos
propagandistas fardados, com galões de oficiais, mas sem insígnias
identificativas, com as propostas de combater na Ucrânia. Estes não falavam da
necessidade de defender os “russófonos”, simplesmente ofereciam a recompensa diária
de 8.000 rublos (125 dólares) e prometiam quase o estatuto de veterano, que por sua vez
oferece diversas regalias e direitos sociais, garantidas pelo estado russo.
O 2º sargento Aleksandr Yenenko |
Nenhuma tentativa dos
jornalistas da Gazeta.ru de obter o comentário oficial dos oficiais ligados à 33ª
Brigada especial de infantaria motorizada de Maikop foi frutífera. O Ministério
da Defesa russo apenas confirmou a posição oficial: “informação sobre a presença
dos militares russos no território da Ucrânia é uma mentira, os rumores sobre a
propaganda mantida nas unidades militares russas para se alistar como
voluntários no Donbas não corresponde à verdade”.
Fonte
(em russo):
http://www.gazeta.ru/politics/2015/07/10_a_7633125.shtml
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