quinta-feira, dezembro 04, 2014

“A Guarda”: a série patriótica ucraniana

Desde a independência em 1991, durante mais de duas décadas, Ucrânia permitiu que o seu espaço televisivo seja invadido pelas produções cinematográficas russas. As televisões públicas e privadas estavam ocupar os horários nobres com os filmes e séries onde os bravos” da CheKa, NKVD, Smersh, MGB-KGB, FSB; dia e noite protegiam a “pátria” contra os maus, geralmente, representados pelas forças estrangeiras.

Cerca de ¾ destas produções possuíam as personagens ucranianas que genericamente se dividiam em 2 categorias principais: inimigos (“nacionalistas sangrentos”); soviéticos tacanhos (semi-idiotas primários com apelidos que terminavam em –ko). Ainda existia o sub-género soviético dos “quase russos”, representado pelos cidadãos de origem remotamente ucraniana, comprovada pelo uso das camisas bordadas ucranianas, que falavam o russo com o sotaque “regional” e que, por sua vez, ocupavam um dos nichos: ou eram sempre bons rapazes ou, no fim, se revelavam traidores da classe ou do coletivo...

A recente guerra russo-ucraniana mostrou a necessidade urgente de criar o produto patriótico cinematográfico ucraniano à promover Ucrânia, os valores e heróis ucranianos. Assim, o canal ucraniano 2+2.ua e o estúdio President Film Ucrânia começaram a produção da série patriótica “A Guarda”, dedicada aos voluntários da Guarda Nacional da Ucrânia.
Local de filmagens: a Brigada rádio-técnica de Vasylkiv 
As filmagens decorrem na base do exército ucraniano na cidade de Vasylkiv, perto de Kyiv, onde apesar dos primeiros frios ucranianos, a equipa de filmagens começou o trabalho. A série deveria arrancar no mês de agosto, mas a própria vida corrigiu o calendário cinematográfico.

A produtora executiva, Oleksandra Moskalyuk, explica a ideia da série:

Está na hora de falar dos acontecimentos que tiveram lugar no país e continuam a ocorrer. A exibição da série é planeada para coincidir com o aniversário de criação da Guarda Nacional da Ucrânia (12 de março de 2015). A série irá falar da honra, da dignidade, do patriotismo, do amor à pátria. Este é um projeto sobre os nossos heróis ucranianos – queremos falar sobre eles em primeiro lugar”.

A trama da estória

Após a Maydan e ocupação da Crimeia, foi declarada a mobilização dos voluntários à Guarda Nacional da Ucrânia. Os heróis da “A Guarda” são os patriotas que responderam essa chamada. Cada um deles têm a sua própria motivação para ir à guerra. Eles têm as diferentes idades, provêm dos meios sociais diversos e até divergem nos seus raízes étnicos.
ex-polícia "Tenente"
O voluntário “Tártaro” vem da Crimeia (o ator, realizador e apresentador ucraniano Ahtem Seytablayev); “Duque” (o ator Dmytro Stupka) é de Odessa; “Vuyko” (o ator Dmytro Tuboltsev) é de Transcarpátia; o empresário “tio Guram” (o ator georgiano Vano Yantabelidze) é de Kyiv. Entre os voluntários também teremos o “Tenente”, o ex-polícia do destacamento “Berkut” (o estreante Bohdan Yusypchuk) e a jovem franco-atiradora (a atriz Anna Topchiy). O papel principal cabe ao “Ded” (Velhote), o ator teatral e do cinema, DJ e músico Alexey Gorbunov (que desde 1984 já entrou em 116 filmes).
"Vuyko" ("tio" na fala regional da Transcarpátia ucraniana)
Depois de um breve curso de preparação, os voluntários formam o pelotão de reconhecimento que após o juramento à bandeira é enviado à sua primeira missão de combate.

O ator Bohdan Yusypchuk, que faz papel de um ex-polícia “Berkut” se queixa: “A minha personagem já é odiada por todos!” Anna Topchiy irá manejar uma espingarda real, para encarar melhor o papel da franco-atiradora. O roteiro foi escrito pelo Mykola Rybalka (roteirista do Haytarma), o realizador é Oleksiy Shaparev e homem por trás das câmaras é Anatoliy Khymych.

a franco-atiradora: bela e mortal
Oleksandra Moskalyuk fala sobre o elenco da série com um carinho especial: “Filmamos, principalmente, os atores ucranianos. Todos eles são grandes patriotas. Nós escolhemos atores que não só correspondem às suas personagens em aparência física, mas também mantêm o espírito do tempo e seriam capazes de levar a contribuição máxima para o nosso projeto.

Os atores não apenas concordaram à participar no projeto – tivemos uma fila para interpretar cada personagem! Eles próprios nos telefonavam e se ofereciam: “Pessoal, sabemos que vocês vão filmar este projeto – nós aceitem. Se não têm os papéis principais, levem nós para um episódio. Estamos prontos!

A série se baseia nos acontecimentos reais, todas as personagens são baseadas nas pessoas reais. A série, claro, terá alguma ação: perseguições, tiroteios, helicópteros, duplos, pirotecnia...

As personagens “Ded” e “tio Guram”

O ator Alexey Gorbunov, que faz papel do “Ded”, é supersticioso como todos os atores, no primeiro dia de filmagens deu o “voto de silêncio” e não falou com a imprensa.
Aleksey (Oleksiy) Gorbunov "Ded"
Pelo cenário, um dos voluntários é acompanhado ao campo de treino pela sua esposa e filha. A cena comovente é observada por “Ded”. Nas vésperas, ele teve uma discussão séria com o comandante da unidade, chamado “Combate”, decidindo deixar a unidade. No entanto, quando ele vê o jovem à deixar a sua família, a fim de protegê-la, assim como a sua pátria – volta ao pelotão.

O ator Vano Yantabelidze falou sobre o seu herói:
"o tio Guram"
É um georgiano, é o dono de alguns restaurantes em Kyiv, por causa dos acontecimentos na Maydan fechou os seus estabelecimentos e foi dar comer aos manifestantes. Durante o massacre (policial) na praça da Independência muitos dos companheiros do tio Guram morreram. Ele não aceitou o sucedido e se tornou voluntário. (No pelotão) ele também irá alimentar os rapazes, ajudá-los à serem fortes e resistentes. Vou tentar (fazer) que todos gostem do meu tio Guram”.

O próprio Vano Yantabelidze não serviu no exército. Mas no cinema fazia parte da tripulação do blindado, era um piloto e soldado raso de infantaria. Não fez a tropa porque após a graduação no instituto teatral foi para a cidade georgiana de Telavi trabalhar no teatro local e em todas as peças teve os papéis principais. Por isso lhe disseram: “Se você for chamado ao exército, teremos que fechar o teatro”.

O realizador Oleksiy Shaparev conta sobre o projeto:
o realizador Oleksiy Shaparev
A proposta de trabalhar no projeto recebi em abril. No começo, simplesmente não queria fazê-lo. Estava preocupado que os eventos da Maydan ainda eram muito frescos. As minhas emoções naquele momento simplesmente subiam além da escala. Mas os produtores foram capazes de convencer-me à começar este trabalho, e nós fomos refinar o guião. Propositadamente, não fizemos a cópia literal dos eventos da Maydan, embora iremos usar um pouco de filmagens de arquivo. O nosso filme irá centrar-se na relação entre as personagens, nos seus destinos dramáticos, no confronto entre os heróis”.
os adereços usados pelos heróis
Os trabalhos estão apenas começando. Foram filmados dois episódios e eles são bastante simples – os cineastas preferem não “acelerar” com as cenas mais complexas. Se sabe que a maior parte das filmagens planeia-se concluir em meados de janeiro de 2015, e os quatro primeiros episódios da série “A Guarda”, serão vistos pelos espectadores ucranianos já em março. De seguida, se planeia filmar a 2ª temporada da primeira série sobre os heróis da Guarda Nacional da Ucrânia.

Fonte:


No dia 30 de novembro último Volodymyr Rybak faria 43 anos. Mas não fará. Ex-polícia, o deputado da Câmara municipal de Horlivka, ele foi raptado pelos terroristas russos por içar a bandeira ucraniana. Após as torturas, juntamente com o estudante Yuriy Popravko, ele tive a morte dolorosa na cidade de Sloviansk. Volodymyr e Yuriy foram as primeiras vítimas mortais dos terroristas russos (os mandantes do crime são Igor “Bes” Bezler e Igor “Strelkov” Girkin).

Essas mortes não podem ficar esquecidas, não devem ser perdoadas! 

3 comentários:

Anónimo disse...

Ola! Eu acho que o que vc nao esclarece aos seus leitores e que a Russia e quem deve territorios a Ucrania e nao o contrario. Conforme esses mapas:

http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/6f/Ethnic-Ukrainians.jpg

http://i.tyzhden.ua/content/digest/week/march/shid_zahid_en.jpg

Com certeza vc deve ter mapas mais detalhados a esse respeito. Por favor, publique-os! Pelo que se ve as cidades Rostov-on-Don, Krasnodar e Novorossiysk seriam ucranianas? Bem, vc poderia explicar esse fato historico. Se for verdadeira minha suposicao, os partidos nacionalistas ucranianos deveriam desde ja reivindicar uma Grande Ucrania. Essa seria a melhor resposta a Putin!

Anónimo disse...

Outro mapa:

http://i.imgur.com/oSmCDjC.jpg

Jest nas Wielu disse...

Estimado, Leitor Anónimo,
aqui temos duas situações distintas:
1) a região de Kuban, onde até hoje vivem os descendentes dos ucranianos;
http://en.wikipedia.org/wiki/Kuban
2) cidade de Taganrog (http://en.wikipedia.org/wiki/Taganrog), que entre 17 de dezembro de 1920 e 1 de outubro de 1924 pertencia à Rep. Soc. Sov. da Ucrânia. O censo soviético de 1926 apurou que 34,6% da população da cidade eram ucranianos; na região os ucranianos eram 71,5%, os russos apenas 21,9%:
http://en.wikipedia.org/wiki/Taganrog

De qualquer maneira, após décadas de russificação e assimilação as populações locais, na sua grande maioria não se sentem ucranianas, como tal, a sua inclusão na Ucrânia não trará os benefícios à Ucrânia, pelo menos à curto-médio prazo...