sábado, julho 31, 2021

Stakhanov: a personagem esquecida do comunismo soviético

Em 1977, num hospital psiquiátrico da região ucraniana de Donbas morreu, vítima do alcoolismo, o líder do movimento stakhanovista – Alexey Stakhanov. A sua campa esquecida foi achada 30 anos depois, obra do acaso.

Na manhã do dia 30 de Agosto de 1935 o próprio Stakhanov, acompanhado por dois mineiros auxiliares, responsáveis pela segurança técnica da obra (Gavrila Shiholev e Tikhon Borysenko), mais o mestre do campo Mykola Mashurov, chefe da cédula comunista da mina Kostiantyn Petrov e o chefe da redação do jornal local, Mikhaylov, desceram até a mina. Marcaram o relógio e começaram à assistir o mineiro Alexey (não se sabe se Alexey é o seu nome real, existem versões que Stakhanov realmente se chamava Alexander ou Andrey, mas depois de jornal “Pravda” publicar a sua história, as autoridades lhe emitiram um novo passaporte, já que “Pravda” não podia errar) Stakhanov na sua jornada laboral. Durante 5h45 ele conseguiu extrair 102 toneladas de carvão, 14,5 vezes acima da norma até ai vigente. 

A União Soviética se apostava no movimento stakhanovista. Que em termos práticos significava o aumento das normas de produção, sem a respectiva recompensa ou aumento salarial. Os mineiros e a classe operária em geral tentaram repostar, sabotando as ordens, roubando ou estragando as ferramentas, perseguindo os líderes stakhanovistas. Estado soviético respondia com as repressália e repressões via NKVD, prendendo e fuzilando os trabalhadores insubmissos. 

Em 1936 Stakhanov aderiu ao PCUS, sem passar por período probatório, um ano depois assinava o livro intitulado “A história da minha vida”. Pelo “seu” feitio laboral Stakhanov recebeu o bónus de 200 rublos, um apartamento estatal mobilado e dois lugares cativos no cinema local. Estando em Moscovo conhece o filho preferido do Estaline – Vassily, na companhia do qual participa nas bebedeiras. Se casa com uma mocinha de 14 anos, para o efeito foi aumentada a sua idade, registada dois anos mais velha. 

Em 1945 Stakhanov escreve diretamente ao Estaline, pedindo a atribuição de uma viatura “Chevrolet” e as obras de melhoramento e mobilamento no seu apartamento estatal. Depois disso, ele foi visitado por uma comissão de controlo que constatou que ex-mineiro gasta a sua subvenção estatal em bebedeiras. Apesar disso, ele recebeu a viatura e o seu apartamento beneficiou de obras de restauração. No entanto, a comissão “apontou-lhe severamente da necessidade de mudar, deixar de ser visto nos restaurantes, abdicar das folias”. Constatando que “Stakhanov praticamente não lê e fica culturalmente atrasado”, a mesma comissão decidiu atribuir-lhe uma espécie de “bónus em forma de literatura”... 

Na época de Khrushev, o ex-mineiro foi mandado de volta à Donbas. Desta vez Stakhanov foi colocado num lar operário, a sua família não quis o seguir. Rapidamente vendeu todos os seus bens, para alimentar o vício da bebida... 

Em 1970, no 35º aniversário do início do movimento stakhanovista o líder comunista soviético Brejnev atribuiu-lhe a ordem civil da “Estrela do Lavouro Socialista” e foi-lhe alocado um pequeno apartamento pessoal. Stakhanov continuava à beber, se tornou polígamo e acabou no hospital psiquiátrico de Donetsk, com diagnóstico de “esclerose dispersa, com perda parcial de memória e linguagem”, morrendo após disso...

Foi sepultado no cemitério municipal da actual cidade de Chistyakove. A sua campa foi engolida pelas ervas daninhas e até mesmo os funcionários do cemitério desconheciam o local do enterro do antigo “mineiro soviético № 1” No fim da década de 1990 um jovem que visitava os familiares sepultados no cemitério da cidade reparou num espaço abandonado. Após limpar o terreno viu era a campa do Stakhanov: “o herói esquecido da época de construção do comunismo”.

sexta-feira, julho 23, 2021

Sukhoy Su-75 Chequemate: a cópia inédita do Northrop MRF-54E

O bastante publicitado avião russo Sukhoy Su-75 Chequemate, possivelmente é apenas uma cópia lowcost do projecto americano de baixo custo Northrop MRF-54E, desenvolvido na década de 1990, escreve a publicação militar Defence-blog.

Os especialistas em aviação observaram que o novo design de caça russo é bastante familiar, parecendo com o conceito de caça de baixo custo Northrop (cerca de 1990), um precursor do YF-23 Twin-Engine Stealth Fighter.

Na verdade, o avião russo é bastante semelhante à uma configuração de MRF-54e Northrop lançada pela Nortrop no Dayton Air Show em 1991.

Suas semelhanças com os conceitos MRF-54E não significam, no entanto, que a máquina russa é uma cópia direta ou fruto do plágio. Ainda assim, o novo caça russo do motor único claramente ecoa projetos de volta à competição americana de combate furtivo de baixo custo da década de 1990.

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Ler mais: hT-14-Armata: a cópia inédita do –abrams Tank Test Bed

segunda-feira, julho 19, 2021

Armadilhas de Estaline: entre o retorno impossível e a morte

Após a II G.M., entre 8.000 à 10.000 cidadãos franceses de origem russa ou casados ​​com russos responderam ao apelo de Estaline e retornaram à União Soviética. Quase todos eles morreram atrás da Cortina de Ferro, nunca tendo visto a França novamente.

Em 1946-48, após o fim da II G.M., as autoridades soviéticas lançaram em França o apelo à emigração russa de retornar à URSS, oferecendo a atribuição da cidadania soviética e garantindo a amnistia ampla à emigração “branca”. Os cidadãos do império russo, de diversas origens étnicas, genericamente conhecidos na Europa como “russos brancos”, membros dos diversos exércitos russos que lutaram contra o bolchevismo, seus familiares e descendentes ficaram radiantes. As embaixadas e consulados soviéticos passaram à recebê-los de braços abertos, abrindo as cantinas e bibliotecas, mostrando filmes sobre as maravilhas da vida na União Soviética, país que participou decisivamente na luta e na vitória contra o nazismo alemão, aliando-se às mais proeminentes democracias ocidentais: Grã-Bretanha, EUA, França…

Uma parte da emigração russa na França olhava para Estaline como o grande líder que reabriu as igrejas e parou/abrandou as repressões contra a Igreja Ortodoxa Russa (IOR), devolveu as alças aos oficiais do exército, fechou o Internacional Comunista Komintern, fez o famoso brinde público “ao grande povo russo” e usou publicamente o termo “irmãos e irmãs” em vez de “camaradas” em Junho de 1941, quando o 3º Reich atacou a URSS.

A IOR, radiante com o seu novo papel na URSS ajudava, consciente ou não, à enganar os cidadãos, que simplesmente confundiram a luta soviética contra o nazismo com a chegada da democracia à URSS.

As pessoas que acreditavam em toda essa propaganda entregavam os seus passaportes franceses ou “apátridas” nos consulados soviéticos, recebendo em troca, a cidadania da URSS. Depois disso, pegando os filhos, haveres e esposas francesas viajavam à União Soviética. À partir de 1948-49, com uma nova onda de repressões de larga escala, muitos deles foram fuzilados ou condenados às pesadas penas no GULAG soviético, onde acabaram por desaparecer para sempre. Outros foram deportados às partes longínquas do império, os seus filhos foram enviados aos orfanatos. Mesmo querendo, a França nada poderia fazer por eles, no momento da sua detenção na URSS todos eles já eram cidadãos soviéticos.

Pouquíssimos conseguiram voltar à Europa Ocidental. Milhares desapareceram no GULAG sem deixar rastos. Centenas conseguiram sobreviver sem nunca mais sair da URSS. As vezes, eles até entendiam, que foram enganados, quando logo na entrada da URSS, eram retirados das carruagens ferroviárias ocidentais, colocados nos vagões de gado, que os soviéticos usavam para transportar os prisioneiros. As pessoas, que na sua massa geral eram bastante positivos em relação à URSS, nem sequer chegaram à perceber por que razão a sua pátria histórica os castigou tão pesadamente, por alegados crimes, que eles nem sequer cometeram. Possivelmente foi uma simples vingança do poder comunista às pessoas que ousaram abandonar a “pátria socialista”, o “crime” mais pesado no Código Penal soviético, “crime” que na era Estaline era punido com a pena capital. Quem é que pensavam que eram todos estes russo-gauleses para se recusar à se empenhar na construção das “amanhãs cantantes”?

Parcialmente a tragédia dos reemigrantes foi contada no filme franco-russo-ucraniano Est-Quest (1999), mas sem mostrar nem a envergadura da tragédia e se socorrer de um final semiaberto e meio-feliz. Na realidade, milhares de pessoas cavaram as suas próprias covas, colocando lá os seus filhos absolutamente inocentes.

 

O realizador francês Nicolas Jallot conseguiu encontrar e conversar com os últimos sobreviventes dessa história comovente que abrange quase todo o século XX. Cinquenta anos após a morte, em março de 1953, do “grande pai dos povos”, que foi um dos maiores ditadores sanguinários que o século XX produziu, eles contam pela primeira vez a pungente história de um retorno impossível.

Ver o filme Pièges par Staline: L'impossible retour:

Faça click para ver o filme (será preciso fazer um registo)

O mesmo realizador também publicou na França o livro documental baseado na sua pesquisa, chamado Piegés par Staline (2004).

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Ler, em russo, as memórias de uma das retornadas, que consegui se repatriar a França somente em Abril de 1974 (!)

segunda-feira, julho 12, 2021

Putin escreve sobre Ucrânia apoiando agressão territorial e fascismo

A página oficial do Kremlin publicou um artigo assinado pelo Vladimir Putin sobre Ucrânia e em língua ucraniana. O texto tenta justificar, indirectamente, a ocupação da Crimeia, mas não passa de apologia à pura agressão territorial e do fascismo.

Putin começa a ficar confuso quase imediatamente. O presidente russo escreve que “russos e ucranianos são um só povo, um todo”, o que naturalmente não é a verdade. Mas olhando para o exemplo coreano, onde realmente um povo se dividiu/foi dividido em dois países, a reunificação hipotética num único país sob a liderança comunista do norte apenas criaria mais desgraças, tragédias e mortes em larga escala. Ou seja, qualquer proximidade hipotética não pode servir de pretexto para a destruição de uma nação e a sua subjugação por nações vizinhas na base da sua crença de ser “o mesmo povo”. 

O resto do artigo basicamente é uma recontagem chata e cinzenta do livro de história soviética, cheia de mentiras e manipulação, mas há nele uma parte à assinalar: 

Querem criar seu próprio Estado? Sejam bem-vindos! Mas em que termos? Quero recordar aqui a avaliação feita por uma das mais brilhantes figuras políticas da nova Rússia, o primeiro prefeito de São Petersburgo, A. Sobchak. Advogado de grande profissionalismo, acreditava que qualquer decisão devia ser legítima, pelo que em 1992 exprimiu a seguinte opinião: as repúblicas fundadoras da União, depois de terem elas próprias anulado o Tratado de 1922, deviam regressar aos limites em que aderiram à União. Todas as demais aquisições territoriais são assunto de discussão, de negociação, porque a base foi cancelada”. 

É claro que, desta forma, Putin está tentando justificar a anexação e ocupação da Crimeia. Existe apenas uma pequena nuance. Realmente, em 1922, Ucrânia fazia parte da URSS sem a Crimeia (fruto de uma anexação e ocupação via força militar pela Rússia bolchevique), mas com Taganrog, Kamensk, Gukovo e uma parte significativa da atual região de Rostov (ver no mapa). Esse território fazia parte da província de Donetsk do Ucrânia Soviética e foi transferido para a Rússia Soviética apenas em 1924. 

E se o “grande historiador” decidiu recordar as fronteiras de 1922, então que ele devolvesse à Ucrânia a região de Taganrog (a cidade natal do escritor Mikhail Chekov) com cidades de Shakhty e Novoshakhtinsk. 

Bem, em geral, é claro, todo esse resmungo senil e ofendido sobre o fa(c)to de que há 30 anos algo “não foi dividido corretamente”, hoje não faz nenhum sentido. Ucrânia possui o reconhecimento internacional dentro das suas fronteiras com traço de 1991. E quaisquer reivindicações territoriais apresentadas a Ucrânia hoje não passam de pura agressão e fascismo (por Denis Kazansky).

Independentemente da autenticidade ou inventividade da atribuída ao Anatoly Sobchak, o passado histórico dos séculos passados não pode servir de base para exigências territoriais aos países vizinhos. Afinal, a Rússia assinou todos os tratados de reconhecimento das fronteiras ucranianas após o colapso da URSS.

sábado, julho 10, 2021

A saga histórica ucraniana “E haverá gente”

A mini série histórica ucraniana está disponível no YouTube, com 12 episódios, que contam as histórias dramáticas da Ucrânia e dos ucranianos que se passam na região de Poltava, entre 1901 e 1932.

Não recomendamos aos menores de 18 anos, porque tem muitas cenas de violência, mostra desde o período czarista, passando pelo golpe bolchevique de 1917 e as ondas do terror comunista, até o Holodomor de 1932-33. 

Foi um período extremamente conturbado e dramático da história da Ucrânia, a situação mostrada na série explica os motivos da saída em massa dos imigrantes e, possivelmente, a tristeza sentida por todos os que deixaram o seu país natal, para nunca mais o ver. E a tragédia dos que optaram por ficar, passando por repressões comunistas, expurgos, Holodomor e todos os outros horrores que se abateram sobre Ucrânia. Vale a pena para quem gosta de história e cultura ucraniana e das tradições que a emigração ucraniana trouxe ao Brasil e ao Paraná. 

A série está em ucraniano e só tem a opção de legenda em inglês, mas dá para colocar a tradução da legenda de cada episódio para português. 

Ver a série no YouTube: