Putin começa a ficar confuso quase imediatamente. O presidente russo escreve que “russos e ucranianos são um só povo, um todo”, o que naturalmente não é a verdade. Mas olhando para o exemplo coreano, onde realmente um povo se dividiu/foi dividido em dois países, a reunificação hipotética num único país sob a liderança comunista do norte apenas criaria mais desgraças, tragédias e mortes em larga escala. Ou seja, qualquer proximidade hipotética não pode servir de pretexto para a destruição de uma nação e a sua subjugação por nações vizinhas na base da sua crença de ser “o mesmo povo”.
O resto do artigo basicamente é uma recontagem chata e cinzenta do livro de história soviética, cheia de mentiras e manipulação, mas há nele uma parte à assinalar:
“Querem criar seu próprio Estado? Sejam bem-vindos! Mas em que termos? Quero recordar aqui a avaliação feita por uma das mais brilhantes figuras políticas da nova Rússia, o primeiro prefeito de São Petersburgo, A. Sobchak. Advogado de grande profissionalismo, acreditava que qualquer decisão devia ser legítima, pelo que em 1992 exprimiu a seguinte opinião: as repúblicas fundadoras da União, depois de terem elas próprias anulado o Tratado de 1922, deviam regressar aos limites em que aderiram à União. Todas as demais aquisições territoriais são assunto de discussão, de negociação, porque a base foi cancelada”.
É claro que, desta forma, Putin está tentando justificar a anexação e ocupação da Crimeia. Existe apenas uma pequena nuance. Realmente, em 1922, Ucrânia fazia parte da URSS sem a Crimeia (fruto de uma anexação e ocupação via força militar pela Rússia bolchevique), mas com Taganrog, Kamensk, Gukovo e uma parte significativa da atual região de Rostov (ver no mapa). Esse território fazia parte da província de Donetsk do Ucrânia Soviética e foi transferido para a Rússia Soviética apenas em 1924.
E se o “grande historiador” decidiu recordar as fronteiras de 1922, então que ele devolvesse à Ucrânia a região de Taganrog (a cidade natal do escritor Mikhail Chekov) com cidades de Shakhty e Novoshakhtinsk.
Bem, em geral, é claro, todo esse resmungo senil e ofendido sobre o fa(c)to de que há 30 anos algo “não foi dividido corretamente”, hoje não faz nenhum sentido. Ucrânia possui o reconhecimento internacional dentro das suas fronteiras com traço de 1991. E quaisquer reivindicações territoriais apresentadas a Ucrânia hoje não passam de pura agressão e fascismo (por Denis Kazansky).
Independentemente da autenticidade ou inventividade da atribuída ao Anatoly Sobchak, o passado histórico dos séculos passados não pode servir de base para exigências territoriais aos países vizinhos. Afinal, a Rússia assinou todos os tratados de reconhecimento das fronteiras ucranianas após o colapso da URSS.
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