Após a II G.M., entre 8.000 à 10.000 cidadãos franceses de origem russa ou casados com russos responderam ao apelo de Estaline e retornaram à União Soviética. Quase todos eles morreram atrás da Cortina de Ferro, nunca tendo visto a França novamente.
Em 1946-48, após o fim da II G.M., as autoridades soviéticas lançaram em França o apelo à emigração russa de retornar à URSS, oferecendo a atribuição da cidadania soviética e garantindo a amnistia ampla à emigração “branca”. Os cidadãos do império russo, de diversas origens étnicas, genericamente conhecidos na Europa como “russos brancos”, membros dos diversos exércitos russos que lutaram contra o bolchevismo, seus familiares e descendentes ficaram radiantes. As embaixadas e consulados soviéticos passaram à recebê-los de braços abertos, abrindo as cantinas e bibliotecas, mostrando filmes sobre as maravilhas da vida na União Soviética, país que participou decisivamente na luta e na vitória contra o nazismo alemão, aliando-se às mais proeminentes democracias ocidentais: Grã-Bretanha, EUA, França…
Uma parte da emigração russa na França olhava para Estaline como o grande líder que reabriu as igrejas e parou/abrandou as repressões contra a Igreja Ortodoxa Russa (IOR), devolveu as alças aos oficiais do exército, fechou o Internacional Comunista Komintern, fez o famoso brinde público “ao grande povo russo” e usou publicamente o termo “irmãos e irmãs” em vez de “camaradas” em Junho de 1941, quando o 3º Reich atacou a URSS.
A IOR, radiante com o seu novo papel na URSS ajudava, consciente ou não, à enganar os cidadãos, que simplesmente confundiram a luta soviética contra o nazismo com a chegada da democracia à URSS.
As pessoas que acreditavam em toda essa propaganda entregavam os seus passaportes franceses ou “apátridas” nos consulados soviéticos, recebendo em troca, a cidadania da URSS. Depois disso, pegando os filhos, haveres e esposas francesas viajavam à União Soviética. À partir de 1948-49, com uma nova onda de repressões de larga escala, muitos deles foram fuzilados ou condenados às pesadas penas no GULAG soviético, onde acabaram por desaparecer para sempre. Outros foram deportados às partes longínquas do império, os seus filhos foram enviados aos orfanatos. Mesmo querendo, a França nada poderia fazer por eles, no momento da sua detenção na URSS todos eles já eram cidadãos soviéticos.
Pouquíssimos conseguiram voltar à Europa Ocidental. Milhares desapareceram no GULAG sem deixar rastos. Centenas conseguiram sobreviver sem nunca mais sair da URSS. As vezes, eles até entendiam, que foram enganados, quando logo na entrada da URSS, eram retirados das carruagens ferroviárias ocidentais, colocados nos vagões de gado, que os soviéticos usavam para transportar os prisioneiros. As pessoas, que na sua massa geral eram bastante positivos em relação à URSS, nem sequer chegaram à perceber por que razão a sua pátria histórica os castigou tão pesadamente, por alegados crimes, que eles nem sequer cometeram. Possivelmente foi uma simples vingança do poder comunista às pessoas que ousaram abandonar a “pátria socialista”, o “crime” mais pesado no Código Penal soviético, “crime” que na era Estaline era punido com a pena capital. Quem é que pensavam que eram todos estes russo-gauleses para se recusar à se empenhar na construção das “amanhãs cantantes”?
Parcialmente a tragédia dos reemigrantes foi contada no filme franco-russo-ucraniano Est-Quest (1999), mas sem mostrar nem a envergadura da tragédia e se socorrer de um final semiaberto e meio-feliz. Na realidade, milhares de pessoas cavaram as suas próprias covas, colocando lá os seus filhos absolutamente inocentes.
O
realizador francês Nicolas Jallot conseguiu encontrar e conversar com os
últimos sobreviventes dessa história comovente que abrange quase todo o século XX.
Cinquenta anos após a morte, em março de 1953, do “grande pai dos povos”, que
foi um dos maiores ditadores sanguinários que o século XX produziu, eles contam
pela primeira vez a pungente história de um retorno impossível.
Ver o filme Pièges par Staline: L'impossible retour:
Faça click para ver o filme (será preciso fazer um registo)
O
mesmo realizador também publicou na França o livro documental baseado na sua
pesquisa, chamado Piegés par Staline (2004).
Ler, em
russo, as memórias de uma das retornadas, que consegui se repatriar a França
somente em Abril de 1974 (!)Comprar o livro na FNAC
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