No
dia 2 de março de 1992 começou oficialmente a Guerra da Transnístria,
a fase militar do conflito político e territorial entre Moldova e os
separatistas locais, primeiras hostilidades do qual se iniciaram em novembro de
1990. Exemplo de um dos desastres político-militares, herdados do comunismo
soviético.
Blindado improvisado dos separatistas em Dubăsari |
A
fase mais quente da guerra começou 27 anos atrás, na noite de 1 à 2 de março, quando
um grupo de polícias de Transnístria da cidade de Dubăsari foi mortalmente
metralhado, caindo numa emboscada. Até hoje não são conhecidos os responsáveis do sucedido.
O
grupo nacionalista ucraniano UNA-UNSO
participou nas hostilidades militares que se seguiram do lado dos separatistas
da Transnístria. A decisão da UNA-UNSO foi defendida pela liderança do grupo como
a necessidade de defender os ucranianos étnicos residentes no enclave, abrindo
a possibilidade teórica de futura adesão do território à Ucrânia.
Um
dos principais líderes e fundadores de UNSO, Dmytro Korchynsky
(expulso do grupo em 1997), explicou essa decisão da seguinte forma:
“Sempre
consideramos a Transnístria como nosso território. Foi levantada claramente a
questão da unificação da Moldova e da Roménia num estado único. Na Roménia, a
minoria ucraniana tem sido tradicionalmente discriminada [na realidade, até
1989 o estado comunista romeno discriminava todas as suas minorias étnicas, sem
excepção], pelo que nos apresentámos do lado da “república Moldova de
Transnístria” (PMR). Em 1992, a União dos Ucranianos da Transnístria “Povernennia”
(literalmente Regresso) dirigiu-se a nós com um pedido de assistência militar e
enviamos as nossas unidades para lá”.
Dessa
forma, os ucranianos da UNA-UNSO acabaram por apoiar os separatistas da
Transnístria contra o governo legítimo da Moldova. Mais de 50 membros da organização
foram condecorados com a “Ordem de Defesa da Transnístria”, uma das distinções
da república autoproclamada e não reconhecida internacionalmente.
A
permanência nas mesmas trincheiras juntamente com as forças russas e
pró-russas, não poderia ficar sem consequências práticas. Nas eleições de 2004,
Dmytro Korchynsky apoiou o candidato pró-russo Viktor Yanukovych. Mais tarde, Korchynsky
e seu novo grupo “Bratstvo” (literalmente Irmandade) se aliou ao Partido Socialista
Progressivo da Ucrânia (PSPU) da Natália Vitrenko, na base da rejeição da escolha
euro-atlântica da Ucrânia (aproximação à NATO, à União Europeia e aos EUA).
Juntamente
com o neofascista Aleksandr Dugin e “socialista progressista” Natália Vitrenko,
Korchynsky fez parte do Conselho Supremo do “Movimento Eurasiano
Internacional”, grupo agudamente anti-ucraniano. Devido às atividades e ações
notoriamente anti-ucranianas dessa organização, “Bratstvo” e Korchynsky anunciaram,
em outubro de 2007, a sua desvinculação deste movimento duginista.
Dmytro Korchynsky e a liderança do movimento euro-asiático duginista russo |
Desde
início da atual guerra russo-ucraniana, Dmytro Korchynsky e outros membros do
“Bratstvo”, participam na defesa da Ucrânia, principalmente inseridos nas
atividades da unidade voluntária, conhecida como “batalhão Santa Maria”.
Possivelmente,
uma das melhores caraterísticas do Dmytro Korchynsky foi dada pelo seu ex-companheiro
de UNA-UNSO, Andriy Shkil:
“Korchinsky possui a indisposição de trabalhar na política. Ele sempre foi
atraído pelo show”.
Fotos: os membros da UNA-UNSO (vestindo fardamento de padrão camuflado) no
decorrer do conflito militar na Transnístria em 1992. @Vijsjkovaistorija
Mapa da Moldova e da Transnístria | Wikipédia |
Blogueiro:
a diferença óbvia entre os voluntários ucranianos em Transnístria em 1992 e as
forças mercenárias e estatais russas na ocupação da Ucrânia desde 2014 reside
no fa(c)to do apoio (ou oposição) às suas ações pelos respetivos estados. Os
membros da UNA-UNSO não recebiam nenhum apoio do Estado ucraniano, pelo
contrário, eram seguidos e até perseguidos pelo SBU. Seguindo a postura da
Ucrânia, decorrente da sua decisão oficial de ser neutra no conflito da
Transnístria. Uma postura absolutamente diferente do estado russo, que apoia,
arma, financia, compõe e comanda as unidades ditas “separatistas”, ativas na
região de Donbas no leste da Ucrânia.
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