A
bandeira nacional ucraniana, azul e amarela era vista na URSS como um símbolo “nacionalista”
e como tal, foi ferozmente perseguida
e proibida pelo regime soviético até 1989-90, quando alguns municípios ucranianos,
principalmente na Ucrânia Ocidental, mas não só, à hastearam nos edifícios
municipais.
No
entanto, em 27 de julho de 1976, na partida semi-final dos Jogos Olímpicos,
entre as seleções da RDA e da União Soviética (2:1), à decorrer em Montreal no
Canadá, o campo foi “invadido” pelo jovem ucraniano trajado de camisa bordada
(vyshyvanka) que dançou hopak, agitou a bandeira ucraniana e gritou “Liberdade
à Ucrânia!”.
O
maior, mais antigo e prestigiante jornal da Diáspora ucraniana nos EUA, “Svoboda” (Liberdade) contou aos seus leitores sobre o
sucedido na 1ª página
da edição № 142 de 10 de agosto de 1976.
Jornal "Svoboda", 1976, Nr. 142, 1ª página |
Entre
os espectadores estavam cerca de 150 jovens ucranianos que colocaram uma grande
bandeira ucraniana, cerca de 30 pés (9,1 m), vestiam as camisas bordadas com o
slogan: “Liberdade à Ucrânia”. O jovem que correu pelo estádio era Danylo Myhal
(20), membro da União da Juventude Ucraniana (SUM) de Thunder Bay (Ontário), ele dançou,
agitou a bandeira ucraniana e gritou “Liberdade à Ucrânia!”. Uma hora após a
detenção pela polícia canadense ele foi libertado sem nenhuma acusação.
Após
o jogo, Danylo contou que um dos polícias, vestido ao civil, tentava o
persuadir que o seu protesto não ajudará aos ucranianos e o ameaçava com a
possível deportação à União Soviética. Danylo explicou que queria apenas apoiar
os futebolistas ucranianos (a seleção olímpica soviética em 1976 era composta
na base dos jogadores do FC Dynamo Kyiv) e afirmou que preparou a sua ação
absolutamente sozinho. Sabe-se
que Danylo Myhal foi membro do coro masculino ucraniano canadense “Hoosli”.
Na
mesma edição, na página 3, “Svoboda” informou sobre a detenção nos jogos olímpicos
de um outro ucraniano, estudante de Toronto, Lyubomyr Shuh (22), também pela
porte da bandeira ucraniana. Lyubomyr estava presente no jogo de andebol feminino
entre as seleções da URSS e da Romênia (a equipa soviética era formada na base
do clube ucraniano “Spartak Kyiv”), ostentando a bandeira ucraniana. A
explicação dos organizadores foi quase mesma, usada contra o uso da bandeira
ucraniana no jogo entre os clubes de futebol “Sporting SP” e “Zenit SP” em
Lisboa em 2014: essa bandeira representa o protesto político; apenas as
bandeiras dos países participantes são permitidas; a bandeira era potencialmente “explosiva”. Após algumas
horas de detenção Lyubomyr Shuh foi libertado, na condição de se apresentar
perante o juíz no dia seguinte.
É
precisa recordar que Diáspora ucraniana de Canadá aproveitou os Jogos Olímpicos
para recordar ao mundo a situação da Ucrânia (que este mesmo mundo pretendia
ignorar). Durante os jogos os jovens
ucranianos ostentavam os dísticos “Liberdade à Ucrânia!”, gritavam “Ucrânia”,
cantavam as canções ucranianas e distribuíam as insígnias, panfletos e flyers
em inglês e francês dedicados à Ucrânia. Também foi produzido um mapa de
Montreal em ucraniano, com as menções de todas as organizações ucranianas,
existentes na cidade. O mapa foi preparado especialmente para a distribuição entre os ucranianos que
vieram aos JO na delegação soviética.
Danylo Myhal, faleceu no dia 8 de março, aos 68 anos, informou a League of Ukrainian Canadians da cidade de Thunder Bay, no Canadá.
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