domingo, dezembro 29, 2013

O Ano Novo próspero e um bom Maydan!

Nos EUA foi filmado o tocante vídeo musical em apoio à Revolução ucraniana, baseado na canção lendária “We shall overcome”, considerada a hino da luta pelos direitos civis. 

O vídeo foi produzido pela Diáspora ucraniana, os seus realizadores é conhecido documentalista Henry Nevison (Filadélfia) e o líder do grupo folclórico “Volyn” da Filadélfia, Taras Lewyckyj, informa Censor.net.ua

Em apoio da Maydan também manifestou-se Eugene Hutz, líder do grupo do punk cigano, Gogol Bordello. “Ucrânia não é periferia, é o Centro!”, escreveu ele na guitarra, colocando a foto no seu perfil do FB, escreve Censor.net.ua

Aproveitamos essa oportunidade para desejar um Ano Novo próspero e um bom Maydan à todos os leitores do nosso blogue de todo o mundo e até os novos encontros em 2014! 

Ver o vídeo no YouTube:

quinta-feira, dezembro 26, 2013

Euromaydan: o dia de dignidade

No dia 15 de dezembro a Maydan de Kyiv reuniu desenhas de milhar de participantes, vindos das diversas cidades da Ucrânia.

A ação foi o terceiro comício popular desde o início da Revolução e recebeu o nome de “Dia da Dignidade”. O dia contou com o concerto musical e intervenções dos políticos e líderes da oposição.

Foto@ REUTERS/Marko Djurica;

Bônus:

O presidente Yanukovych usa os seus poderes presidenciais para despedir diversos chefes das administrações estatais ao nível distrital. No dia 16 de dezembro, ele despediu 24 chefes, de diversas províncias ucranianas, incluindo um da cidade de Sebastopol e um do bairro de Pechersk em Kyiv. A maioria dos decretos não formulam nenhuma razão de despedimento, mas uma parte dos despedidos, alegadamente, foi despedida ao “pedido próprio”, escreve Tyzhden.ua.

sexta-feira, dezembro 20, 2013

As faces da Maydan

O fotógrafo de Kyiv, Olexander Pilyugin publicou na Net as fotos dos manifestantes que ele fez minutos antes do ataque brutal da polícia de choque contra Maydan na noite de 30 de novembro último.

A grande maioria são jovens cansados e sorridentes; nenhum provocador, como alegou o primeiro-ministro Mykola Azarov.

É de recordar, que na noite de 30 de novembro, às 4h00 de manha, a polícia de choque “Berkut” atacou a manifestação pacífica na praça de Indepenência de Kyiv. Cerca de 40 pessoas foram feridas ao ponto de precisarem de cuidados médicos. O ataque foi justificado pela polícia como “necessidade de preparar (no local) as festas do ano novo”.

Na conversa com o Secretário-geral do Conselho da Europa, o norueguês  Thorbjørn Jagland, Azarov chamou a situação envolvente de «provocação aberta»; na sua visão “na praça central não havia nenhum estudante, pelo contrário, os provocadores bem preparados”.

Fotos dos “provocadores” (23):
http://zik.ua/ua/news/2013/12/04/lyudy_yaki_zavazhaly_yoltsi_foto_ostannih_hvylyn_rozignanogo_yevromaydanu_444804

quarta-feira, dezembro 18, 2013

Maydan: o maquinista herói

Foi achado o maquinista da linha vermelha do metro de Kyiv que na noite de 10 de dezembro exortou os passageiros à apoiar a Maydan.

Todos que querem ajudar às pessoas na Maydan, que são cercados pelo “Berkut”, podem sair na estação “Teatralna”, – foi este o anúncio que Vitaly Zamoysky, maquinista do metro de Kyiv, leu ao comunicador na noite de 10 à 11 de dezembro. Lembramos que naquele momento as tropas do Ministério do Interior e “Berkut” tentavam derrubar as tendas no centro de Kyiv, mas os manifestantes conseguiram repelir o ataque.

Boas notícias: Vitaly não foi despedido, os colegas o apoiaram de-facto, e todos os ucranianos receberam mais um exemplo de coragem cívica, que se multiplicam desde o início dos protestos. A vitória é uma soma destes pequenos acontecimentos, escrevem Texty.org.ua

terça-feira, dezembro 17, 2013

Maydan. Mozart. Antuanetta.

A missão e o lugar da (afro-ucraniana) Antuanetta Mishenko é o piano na rua Khreshatyk ao lado da Municipalidade de Kyiv. Ela recuperou o instrumento destinado se tornar a parte da barricada e toca-o, acendendo a chama da esperança nos olhares das pessoas.

por: Nadía Shvadchak, especialmente para Life.pravda.com.ua (versão curta)

Ao lado da Municipalidade de Kyiv está uma fila das pessoas que querem comer e se aquecer. Perto, está mais um grande grupo de pessoas que cercou a menina ao piano, que toca virtuosamente as obras clássicas, arranja instantaneamente as melodias para as músicas ucranianas. O instrumento está coberto pelas roupas quentes, em cima está a bandeira da Ucrânia e uma rosa vermelha.  

[…]

A menina se chama Antuanetta Mishenko, tem 21 anos. Ela tem umas covinhas giríssimas nas bochechas quando está a rir e possui a fita azul e amarela nos cabelos. Se despede do seu público, prometendo voltar à tarde. Pessoas pedem que Antuanetta toca mais, oferecem frutas e doces, aplaudiam. Ela me entrega a maçã – diz que é alérgica, mas não quis ofender as pessoas, recusando a sua oferta.

Antuanetta ficou gelada. Vamos tomar chá. Não é fácil tocar em temperaturas baixas. Antuanetta estuda na Academia Nacional de Música, que fica na Maydan, por isso desde início seguiu Maydan.

[…] “Para ser honesta, me senti na Praça à mais. […] Eu não queria ser a parte da multidão. Se eu pudesse trazer para cá todo o meu curso, mas, infelizmente, sou uma péssima organizadora”.

[…] “Sou contra os espancamentos das pessoas! Eu diria que eu sou contra o presidente – presidiário. Mas se ele agisse conforme a lei, eu não estaria aqui” […] – explica Antuanetta.

Aqui ela achou um piano. […] “Eu vi este piano que era levado para as barricadas. Recuperamos o instrumento, ele foi trazido e colocado para mim. Quando senti as teclas, percebi: este é o meu lugar. Eu sei o que faço aqui, por isso venho aqui todos os dias para ganhar! Acredito que cada pessoa deve fazer aquilo que ninguém fará além dela”.

Agora ela planeia trabalhar o repertório: comprar o cancioneiro, aprender as canções, entender que composições as pessoas querem ouvir na Maydan. Embora os ouvintes gostam as suas especialidades – Mozart, Bach, Chopin, Tchaikovsky.

[…]

Fico surpresa por ela conhecer as canções folclóricas ucranianas. “Mas eu vivo na Ucrânia – responde a moça. […] Me agrada qualquer música que faz pensar, obriga se levantar e fazer coisas”.

Às sete da tarde Antuanetta volta ao seu instrumento. […] Estão-se ouvir as vozes confiantes, vozes femininas claras e límpidas. Tocando “Oh, no meu jardim cerejeiro”, Antuanetta diz: “São cantoras profissionais, elas não podem cantar no frio! Agradecemos-lhes!”. Pessoas gritam: “Valentes!

Você, provavelmente, ganha todas as competições?” – pergunta um dos ouvintes.

Eu não tenho dinheiro para ir às competições”, – responde ela. Alguém imediatamente coloca o chapéu em um círculo, as pessoas oferecem o dinheiro, doces e chocolate. Poucos minutos depois, no piano aparece um grande buquê de flores.

Eu não estou aqui pelo dinheiro! Eu, simplesmente, estou convosco!” – a moça pede às pessoas levar o dinheiro, mas ninguém obedece. O homem de cabelos grisalhos parece sabendo do conteúdo da nossa conversa, exclama: “Como você organizou nós! Veja quantas pessoas estão cá! Que maravilha!”.

Texto integral e fotos da autora:

Bônus:


A composição A Parede / The Wall / Stina do grupo OE, realizador: Maxim Donchik


domingo, dezembro 15, 2013

Aniversário revolucionário do nosso blogue

Nove anos atrás, no dia 15 de dezembro de 2004, nasceu este blogue. Foi pensado para apoiar a Revolução Laranja que naquele preciso momento ainda não tinha vencido…

Na altura acreditou-se que a Europa e uma vida normal, sem cunhas, sem medo, sem crime organizado e sem polícia que vezes sem conta é pior do que o crime, estão à apenas um passo. Um ano mais tarde verificou-se o nosso engano. Depois as coisas foram apenas piorando, os ex-bandidos passaram à controlar todos os ramos do poder na Ucrânia.

E eis uma nova Revolução, mais uma vez popular, mais uma vez absolutamente pacífica (os atos de violência foram criados e organizados pelo próprio punho governista), mais uma vez Kyiv bate o recorde: 2,4 milhões de pessoas no centro da cidade e nenhuma montra partida.


A Revolução ainda não acabou e não sabemos quando e como acabará, mas qualquer que seja o resultado, uma coisa é certa, uma nação política cresce na Ucrânia, uma nova geração quer viver numa Europa livre e aceita cada vez menos o status quo do passado atual.

“Passeata pelo Lviv № 6”
Lviv, rua Lystopadoviy Chyn (Levantamento de novembro)
Para descontrair, proponho uma coletânea fotográfica do autoria do Olexander  Shutyuk, que vagueou pelas ruas de Lviv, fotografando as mudanças que a capital da Ucrânia Ocidental vive nos dias de hoje (novos trilhos de elétricos e novos centros comerciais, novos passeios e novos estacionamentos, o charme intemporal da Galiza ucraniana).   

Ver mais (65 fotos):
http://alex-shutyuk.livejournal.com/124676.html

Euromaydan e os bodes expiatórios

Maydan, 14.12.2013, 200.000 pessoas
Vendo o poder escapar das suas mãos, o grupo mais próximo do presidente Yanukovych tive duas ideias brilhantes: achar os culpados pelo ataque contra Maydan no dia 30 de novembro último e organizar o seu próprio maydan. As duas iniciativas pensadas para sair pelo melhor, foram realizadas como sempre…

O vice-secretário do Conselho Nacional de Segurança Nacional (SNBO), Volodymyr Sivkovych e o chefe da Administração Estatal de Kyiv, Olexander Popov, foram despedidos dos seus postos, após o pedido da Procuradoria-geral da Ucrânia, por causa “das suspeitas do seu envolvimento em violação dos direitos constitucionais dos cidadãos, na praça de Independência na noite de 30 de novembro”. Os respetivos decretos presidenciais № 684 e № 685 de 14 de dezembro foram publicados na página do presidente da Ucrânia, escreve Censor.net.ua

Já nesta segunda-feira, a Procuradoria-geral decidirá as medidas preventivas à aplicar aos quatro responsáveis, acusados para já apenas de “abuso de poder”: além do Sivkovych e Popov, são o chefe da polícia de Kyiv, Valery Koryak e o seu vice, Petró Fedchuk.

O mais importante começa aqui. O vice-chefe da polícia de Kyiv, Petró Fedchuk já informou os investigadores que recebeu o telefonema do Ministro do interior, Vitaly Zakharchenko, que o ordenou a executar todas as ordens do vice-secretário do SNBO, Volodymyr Sivkovych, escreve Pravda.com.ua.

O chefe da Administração Estatal de Kyiv, Olexander Popov, por sua vez disse aos investigadores que recebeu o telefonema do secretário do SNBO, Andriy Kluev, que ordenou a colocação da árvore de Natal na praça de Independência e informou que as próximas ordens lhe dará o seu vice, Sivkovych, cita as fontes próximas à investigação a edição on-line da Pravda.com.ua.

Recordaremos, que no dia 30 de novembro a polícia de choque atacou brutalmente os manifestantes pacíficos na praça de Independência, em resultado foram feridos cerca de 30 jornalistas e diversos ativistas, muitos dos quais tiveram que receber os cuidados médicos, informa a TV 5.ua

Anti-maydan
"Ativistas" da anti-maydan na praça de Europa em Kyiv, 14.12.2013
Depois veio anti-maydan, que foi pensado pelos seus organizadores como a mostra viva da vontade popular em apoio ao Yanukovych e da sua escolha confusa da última hora da não entrada na União Europeia. Na criação da anti-maydan o poder não quis inventar, usando o recurso administrativo e alegada compra de participantes. Os médicos, professores, funcionários públicos e outros profissionais dependentes do orçamento do estado, receberam as ordens superiores de comparecer em Kyiv, caso contrário perderiam os seus empregos. Também havia informações sobre uso de pequenos criminosos, instrumentalizados pelo poder, chamados de “titushki”, ou pupilos dos orfanatos. De qualquer maneira, prometendo ficar na praça pelo menos dois dias ou mesmo, ao tempo indeterminado, os "ativistas" desapareceram do local na primeira tarde... 

Euromaydan (em cima) e anti-maydan (em baixo) nessa noite...
De qualquer maneira, das prometidas 200.000 pessoas, a polícia consegui contabilizar apenas 60.000 e as testemunhas mal viram 10.000 almas confusas, como mostra a peça televisiva da jornalista Albina Kirilova, da TV russa Rain.ru. Albina entrevistou vários “ativistas” do anti-maydan e as respostas mais habituais foram: “é, pá, não sei”, “estou aqui a passear”, “estou aqui à tratar de uns assuntos”, etc.:

  

Apesar disso, os membros do anti-maydan (da praça da Europa), em geral, estavam calmos e não agressivos, houve inclusivamente um momento em que os participantes das duas iniciativas trocaram de símbolos e cantaram o hino da Ucrânia: http://www.radiosvoboda.org/media/video/25200877.html

Apoio internacional ao Euromaydan

Diversas personalidades estrangeiras, europeias e americanas, apoiaram e apoiam o Euromaydan ucraniano.

Um dos senadores americanos mais poderosos, John McCain já está em Kyiv. Ele visitou o Ministério dos Negócios Estrangeiros (na entrada ao ministério na foto), onde tive um encontro com o Ministro do MNE, Leonid Kozhara.
 
John McCain fotografa Maydan com 200.000 pessoas presentes
Senador visitou as instalações dos apoiantes de Euromaydan nas imediações do MNE e explicou que no caso do atual poder ucraniano usar a força contra os manifestantes, EUA terão que aplicar as sanções económicas aos culpados, informa a TV 5.ua. Logo à noite, senador McCain (na foto em cima) deslumbrou-se com a quantidade dos ucranianos que estavam na Maydan assistir um concerto musical da banda ucraniana "Okean Elzy" em apoio às aspirações europeias da Ucrânia.


Maydan também foi visitado pelo estadista e diplomata checo Karel Schwarzenberg, em gesto de solidariedade para com ucranianos ele ofereceu aos manifestantes a bandeira do seu país (foto em baixo). 
Karel Schwarzenberg na Maydan, 14.12.2013
Outro checo, Šimon Pánek, um dos ativistas da revolução de veludo na ex-Checoslováquia (1989) e atualmente o diretor da ONG humanitária “People in Need” (Člověk v tísni), fundada em 1992 e uma das maiores na Europa Central e do Leste, fala aos ucranianos no YouTube:

Bônus:

Após o ataque violento da "Berkut" contra os manifestantes, o provedor da Internet “Brovis”, que fornecia a Internet à polícia de choque de Brovary (cidade-satélite de Kyiv), desligou as polícias da net. Quando os polícias ligaram para saber a razão, o diretor técnico da empresa, Olexander Hriuk, explicou que “empresa não irá fornecer os serviços às forças que batem nós, funcionando graças aos nossos impostos”, escreve AIN.ua.

No conselho municipal de Lviv se dissolveu o grupo dos deputados do Partido das Regiões, todos os deputados abandonaram oficialmente o partido, desta maneira Regiões deixaram de ter qualquer representação no município, informa a TV TSN.ua.


Fotos incríveis de Revolução ucraniana:

Ataque noturno contra Euromaydan, noite de 10 ao 11 de dezembro (13 fotos):

Barricadas na Maydan construídas na noite de 11 ao 12 de dezembro (foto@ I. K.)

Kyiv livre, 14-15.12.2013 (48 fotos):

sexta-feira, dezembro 13, 2013

Euromaydan em imagens e sociologia

A comunidade dos ativistas sociais que ajuda a criar Euromaydan-2013, denominada Setor Comunitário da Euromaydan, apresentou uma série de imagens bonitas e divertidas que explicam a essência da Revolução ucraniana.

A fundação ucraniana, Iniciativa Democrática, efetuou um estudo sociológico para conhecer o retrato do participante no Euromaydan. 

O manifestante típico é uma pessoa jovem (38%), licenciado(a) (62,7%), mora em Kyiv (49,8%), é especialista em alguma área profissional (39,5%), auto-organizou-se (91,9%) e não milita em grupos sociais (91,8%).

As razões principais que o (a) levaram à Maydan são: o ataque brutal da polícia de choque na noite de 30 de novembro (69,6%); exigências de libertação dos manifestantes detidos e fim das repressões (81,8%); demissão do governo (80,1%). 

Estão dispostos à lutarem pelos seus direitos até a satisfação de todas as exigências apresentadas (73,9%), outros 72,3% estão dispostos à lutarem tanto, quando for preciso, escreve Infolight.org.ua (a inquirição decorreu na Maydan, nos dias 7 e 8 de dezembro de 2013).

Bancarrota de Yanukovych: mudança do poder na Ucrânia

A EuroMaydan foi provocada pelos longos anos de populismo, corrupção e acordo serviçal de gás com Rússia.

por: Boris Grozovski, observador econômico da Forbes.ru (versão curta)

Viktor Yanukoych se perdeu em três árvores econômicas. No intuito de enriquecer e consolidar o poder – sacrificou o clima econômico da Ucrânia. Para assegurar apoio da população se endividou e gastou as reservas. Para pagar as dívidas não assinou o acordo econômico com a Europa. A economia ucraniana está numa profunda crise financeira. Isso torna impossível a sobrevivência do regime de Yanukovych.

A recusa de assinar o acordo econômico com a Europa e uso da força contra os manifestantes levaram à erosão rápida da confiança política na Ucrânia. O regime do Yanukovych, desencanto pelo qual crescia rapidamente, aproximou-se aos passos do gigante ao seu fim.

A hora de resumo

Na base do conflito em Kyiv estão as motivações políticas. Mas, ao mesmo tempo no país se iniciou uma crise financeira sistêmica. Ela só será adiada através dos empréstimos que nem a FMI, nem a Rússia querem conceder a Ucrânia.

FMI […] em contrapartida à concessão do empréstimo exige a liberação do câmbio da moeda nacional, congelamento dos salários e reformas, aumento do preço do gás. Cenário suicida para Yanukovych, mas sem nenhuma alternativa à vista. Receber os fundos da UE como compensação pela integração (na UE), a equipa de Yanukovych contava apenas por causa da sua incompetência profissional. Dinheiro da China não resolve problema, são projetos ao longo prazo. As contrapropostas pelos créditos russos poderiam ser a cooperação com a União Aduaneira e cooperação industrial-militar. Seria o cenário suicida de Yanukovych, caminho reto às eleições antecipadas.

A necessidade urgente de receber empréstimo explica a recusa da Ucrânia de assinar o acordo comercial com a UE. Créditos são necessários para apoiar o orçamento e impedir a desvalorização da moeda nacional. Com a manobra europeia Yanukovych quis influenciar Vladimir Putin e assegurar a estabilidade econômica até as eleições (presidenciais) de 2015. Mas mesmo se a Rússia emprestará o dinheiro, agora este truque não funcionará. O acordo comercial com Europa se tornou para ucranianos no símbolo de outra vida: estrutura social e econômica, baseada não nas cunhas, privilégios e gratificações, mas nas regras de jogo honestas e iguais para todos.

Crise econômica

A economia ucraniana vive uma crise econômica real. No 1º semestre de 2013, o PIB caiu em 1,3%, indústria em 10 meses em 5,2%. Não há crescimento econômico desde a primavera de 2012. Durante dois anos não aumentam os preços, nem de consumo, nem industriais. Abrandou o crescimento de salários e rendimentos da população. Em janeiro-novembro (de 2013) as vendas dos automóveis caíram 39,8%, tubos de aço – 22%. […] Exportações caíram em janeiro-setembro em 6,5% […]

Euromaydan: que caminho seguirá Ucrânia

A situação poderia ser corrigida com a desvalorização da moeda nacional em 15-25%. Isso aumentaria a capacidade concorrencial dos produtos ucranianos e do turismo, reduzirá a atratividade das importações. Mas esta medida trará os problemas ao orçamento e aos bancos. População sentirá que algo não está bem com a política econômica. Por isso, a equipa econômica de Yanukovych fez de estabilidade da moeda nacional o seu objetivo principal, preferindo esgotar as reservas (de divisas) do Banco Nacional, à corrigir a taxa de câmbio.

Desde o fim de 2010 as reservas de divisas da Ucrânia diminuíram quase em metade: de $ 34,6 biliões para $ 18,7 biliões. […] Défice corrente poderia ser balançado com investimento (estrangeiro) e empréstimos. Mas os investimentos diretos estrangeiros […] no primeiro semestre de 2013 diminuíram em 2,7 vezes, até $ 1,4 biliões.

Ucrânia também não pode continuar a aumentar a sua divida externa. No período de 2006-2012 a dívida total cresceu quase 4 vezes, de $ 39,6 biliões à $ 135,1 biliões (PIB da Ucrânia em 2012 — $ 176 biliões). A dívida externa supera em 1,5 vezes as exportações do ano passado […]

A crise da economia ucraniana é derivada de algumas razões internas e externas.

1) Preços mundiais baixos de metais ferrosos. Em janeiro-setembro de 2013 as receitas de suas vendas baixaram em 9,6%, em comparação com o período homólogo de 2012. Os metais representam 1/3 das exportações ucranianas. O índice dos preços calculados pelo FMI desde 2011 caiu em 30%. Minério de ferro agora se vende 27% mais baixo do que no início de 2011, alumínio em 34%.

2) Preço ultra alto do gás russo. Ucrânia compra o gás mais caro do que a Europa […] Neste trimestre o seu preço é de $ 410 por 1.000 m³ (contando com desconto de $ 100) […] Na Armênia o gás russo custa $ 189, em Belarus — $163 […]

Apesar da lógica formal, o acordo […] foi desvantajoso também para Rússia. As condições extorsivas colocaram os parceiros ucranianos da “Gazprom” em dívida profunda, eles atrasam os pagamentos, exigem o pagamento antecipado pelo trânsito de gás russo à Europa. O fornecimento de gás para a Europa durante o Inverno está ameaçado. E, ao longo prazo, Ucrânia pretende sair da dependência de gás russo (fornecimentos já foram cortados pela metade) e irá conseguir isso no futuro.

3) Demasiado peso estatal na economia. O peso total (orçamento de Estado e das regiões, fundo social e de reformas) aproxima-se aos 50% do PIB […] Os impostos sobre salários são de 36% — fortíssimo estímulo de os evitar […] A divida estatal da Ucrânia não parece grande, apenas 17,2% do PIB. Se contar com as dívidas regionais e garantias estatais, a dívida geral se aproxima aos 35% do PIB […]

Em novembro de 2013 o Governo permitiu ao Fundo de Pensões pagar as pensões recorrendo aos créditos dos bancos comerciais. Estamos perante todos os indícios da pirâmide financeira […] Ucrânia é incapaz de alimentar o estado não efetivo, proliferado como carcinoma, onde os burocratas gozam (a vida) mais do que oligarcas.

4) O clima financeiro desfavorável. No ranking de corrupção da Transparency International, Ucrânia ocupa a 144ª posição das 177 […] As normas de conduta da burocracia são estabelecidas pela liderança política do país. No caso ucraniano (essa elite) se dedica à ocupação das áreas mais bonitas nos arredores de Kyiv e na Crimeia, cercando as com os murros gigantes e construindo os palácios atrás deles.

Tudo isso mina o clima empresarial. A carga tributária alta, mas que é possível não pagar. A legislação opressiva que tendo uns conhecidos é possível evitar. Risco de agiotagem patrimonial, envolvendo as forças da lei e da ordem. Compras públicas – exclusivamente de parentes, amigos e conhecidos. Sistema judicial tendenciosa. Influência gigantesca de burocratas no qualquer negócio. Mau funcionamento de todos os serviços públicos empresariais – alvarás, licenças, concessões. “Todas as pequenas e médias empresas – (pertencem aos) procuradores – explica respondente do inquérito empresarial realizado pela “CASE Ukraine”. – Sem a cobertura do Ministério Público (o negócio) pode ser expropriado”.

Como explica Lilit Gevorgian, a analista da IHS Global Insight, na entrevista ao Bloomberg.com: «Os problemas atuais da Ucrânia não são relacionados com a escolha entre a política pró ou anti europeia. Este é o resultado de muitos anos de má gestão econômica, o populismo do governo atual e anterior, incapacidade de combater a corrupção, a estrutura monopolista da economia e construir um sistema judiciário independente».

Crise financeira

O estado deplorável da economia nos dias de hoje, literalmente, se transforma em uma crise financeira. A crise terá três componentes: da dívida, das divisas e bancário.

Em 2014 Ucrânia deve reembolsar ao FMI $ 3,7 biliões, incluindo $ 1,2 biliões no 1º trimestre. Em abril terá que pagar $ 1 bilião das aplicações europeias. No total, em 2014 Ucrânia necessita não menos do que $ 7,3 biliões, apenas para refinanciar a divida, e nos próximos dois anos, pelos cálculos da Bloomberg.com, cerca de $ 17 biliões […]

Já há uma semana os ucranianos, que pressentem a desvalorização inevitável da moeda nacional não conseguem passar as poupanças em dólares e euros à taxa de câmbio oficial. As casas de câmbio não têm dinheiro. O câmbio de Hryvnia no mercado interbancário (8,25 dólares por $ 1) fica cada vez mais distante do oficial (7,99) […]

É preocupante a situação dos bancos. Ao longo da semana passada a saída dos fundos do sistema de depósitos, de acordo com os rumores, foi cerca de 5 bilhões de UAH – cerca de 1,2% (do seu valor total) […] Agora os cidadãos possuem nas suas contas os valores em moeda nacional que são 1,5 vezes superiores das reservas de divisas do Banco Nacional. Em tais circunstâncias, a provável retirada mesmo dos 10% de depósitos irá levar ao colapso total o sistema bancário […]

No caminho para a Europa, Ucrânia terá que passar por uma crise fiscal e financeira grave. O resultado deve ser o alinhamento das novas regras do jogo. O país é incapaz de alimentar o Estado-parasita que está sugando metade de insumo econômico. Por isso, Maydan é uma tentativa de reensinar o Estado nas alicerces novos, um comportamento econômico bastante racional. Caso contrário, será impossível evitar a estrada que conduz ao abismo.

Fonte:

quinta-feira, dezembro 12, 2013

As mulheres da Euro-revolução ucraniana

A Miss Ucrânia de 2013 (na foto em cima), Anna Zaychkovska serve chá às pessoas na Maydan (foto@ twitter.com/Dbnmjr)

Escreve o blogueiro Vladimir Demchenko:


Vocês sabem, uma coisa que lá, na Maydan, que me simplesmente deixa fora de mim, no sentido positivo … são as moças, que preparam os sanduíches, cozinham as papas, sopas. Ontem encontramos uma moça que durante 4 dias (!) cozinhava para as pessoas no edifício da Municipalidade de Kyiv, mas (hoje) às 8h00 foi à sua universidade para aula de educação física! Será que é possível apaixonar-se por 100 moças ao mesmo tempo? Glória às elas e curvo me perante elas! Meninas, tudo está de pé graças aos vocês! Hurra!  

quarta-feira, dezembro 11, 2013

Três milagres da Revolução ucraniana

Hoje me aconteceram três coisas.

por: Fedor Sivtsov (jornalista da TV STB)

1. Eu acreditei em Deus.

Quando “Berkut” rompeu as barricadas e começou empurrar as pessoas, quando as mulheres e crianças se juntaram no palco e quem não conseguia caber lá ficou ao seu redor. E as pessoas rezavam e aguentavam com últimas forças para não chorar de impossança e de medo. Então na noite tocaram os sinos. E este som significou a esperança. Neste momento eu acreditei em Deus.

2. Eu me tornei nacionalista.

Quando eu vi estes soldados – os meus compatriotas, aqueles que deveriam personificar a Lei, aqueles que deveriam defender a Lei no meu país. Executando uma ordem estupidamente horrível que defende os interesses de apenas uma pessoa – o presidente do país vizinho (o nosso presidente neste país, de qualquer maneira, ninguém reconhece), eles avançavam contra os manifestantes pacíficos – crianças, mulheres, velhos e eles eram indiferentes.

Quando do palco gritaram: “fomos ouvidos! De todo o Kyiv as pessoas chegam até nós!”. Olhei para trás e no espaço vazio vi uma multidão sem fim de pessoas – ucranianos que não são indiferentes ao destino dos seus concidadãos. Concidadãos simples, que saíram para se manifestar em defesa da população civil.

Naquele momento me tornei nacionalista.   

3. Me libertei do medo.

Quando eles cercaram a praça e empurravam-nos. Quando as forças escasseavam, quando nós juntando-se em multidão, conseguindo repostar, e se não fazer-lhes frente, pelo menos conter o fluxo destes canalhas.  

Naquele momento eu me livrei do medo.

Acreditem, eu não sou o rapaz mais destemido e mais imprudente neste país. Mas hoje eu novamente irei ao Maydan. Por essa noite, por estas pessoas, pelo orgulho de ser uma nação unida – pelo orgulho que nos defendemos nesta noite.

E exorto vocês se livrarem das dúvidas e do medo e irem comigo.

Connosco é Deus, connosco estão a honra e força, connosco estão as PESSOAS! Connosco está Ucrânia.
Juntamente até a vitória! Juntamente até a vitória!    

E mais –

Glória à Ucrânia!

Bônus:

Hoje (11.12.2013) o maquinista de metro de Kyiv (linha vermelha) usou o intercomunicador para contar às pessoas os acontecimentos do Maydan e os exortar à sair na estação “Teatralna” para apoiar e se juntar à Revolução, escreve agência UNIAN. Existe a informação não confirmada do que o maquinista foi suspenso, mas ninguém poderá suspender a Revolução.

A “Marcha de Milhões de Kyiv” em fotografias (24):

Nas Internet ucraniana circulam as fotos dos escudos, alegadamente, abandonados pelos soldados da tropa do interior, deixados na Maydan, em recusa de cumprir as ordens ilegais do poder. Iremos verificar a veracidade da notícia: