terça-feira, dezembro 17, 2013

Maydan. Mozart. Antuanetta.

A missão e o lugar da (afro-ucraniana) Antuanetta Mishenko é o piano na rua Khreshatyk ao lado da Municipalidade de Kyiv. Ela recuperou o instrumento destinado se tornar a parte da barricada e toca-o, acendendo a chama da esperança nos olhares das pessoas.

por: Nadía Shvadchak, especialmente para Life.pravda.com.ua (versão curta)

Ao lado da Municipalidade de Kyiv está uma fila das pessoas que querem comer e se aquecer. Perto, está mais um grande grupo de pessoas que cercou a menina ao piano, que toca virtuosamente as obras clássicas, arranja instantaneamente as melodias para as músicas ucranianas. O instrumento está coberto pelas roupas quentes, em cima está a bandeira da Ucrânia e uma rosa vermelha.  

[…]

A menina se chama Antuanetta Mishenko, tem 21 anos. Ela tem umas covinhas giríssimas nas bochechas quando está a rir e possui a fita azul e amarela nos cabelos. Se despede do seu público, prometendo voltar à tarde. Pessoas pedem que Antuanetta toca mais, oferecem frutas e doces, aplaudiam. Ela me entrega a maçã – diz que é alérgica, mas não quis ofender as pessoas, recusando a sua oferta.

Antuanetta ficou gelada. Vamos tomar chá. Não é fácil tocar em temperaturas baixas. Antuanetta estuda na Academia Nacional de Música, que fica na Maydan, por isso desde início seguiu Maydan.

[…] “Para ser honesta, me senti na Praça à mais. […] Eu não queria ser a parte da multidão. Se eu pudesse trazer para cá todo o meu curso, mas, infelizmente, sou uma péssima organizadora”.

[…] “Sou contra os espancamentos das pessoas! Eu diria que eu sou contra o presidente – presidiário. Mas se ele agisse conforme a lei, eu não estaria aqui” […] – explica Antuanetta.

Aqui ela achou um piano. […] “Eu vi este piano que era levado para as barricadas. Recuperamos o instrumento, ele foi trazido e colocado para mim. Quando senti as teclas, percebi: este é o meu lugar. Eu sei o que faço aqui, por isso venho aqui todos os dias para ganhar! Acredito que cada pessoa deve fazer aquilo que ninguém fará além dela”.

Agora ela planeia trabalhar o repertório: comprar o cancioneiro, aprender as canções, entender que composições as pessoas querem ouvir na Maydan. Embora os ouvintes gostam as suas especialidades – Mozart, Bach, Chopin, Tchaikovsky.

[…]

Fico surpresa por ela conhecer as canções folclóricas ucranianas. “Mas eu vivo na Ucrânia – responde a moça. […] Me agrada qualquer música que faz pensar, obriga se levantar e fazer coisas”.

Às sete da tarde Antuanetta volta ao seu instrumento. […] Estão-se ouvir as vozes confiantes, vozes femininas claras e límpidas. Tocando “Oh, no meu jardim cerejeiro”, Antuanetta diz: “São cantoras profissionais, elas não podem cantar no frio! Agradecemos-lhes!”. Pessoas gritam: “Valentes!

Você, provavelmente, ganha todas as competições?” – pergunta um dos ouvintes.

Eu não tenho dinheiro para ir às competições”, – responde ela. Alguém imediatamente coloca o chapéu em um círculo, as pessoas oferecem o dinheiro, doces e chocolate. Poucos minutos depois, no piano aparece um grande buquê de flores.

Eu não estou aqui pelo dinheiro! Eu, simplesmente, estou convosco!” – a moça pede às pessoas levar o dinheiro, mas ninguém obedece. O homem de cabelos grisalhos parece sabendo do conteúdo da nossa conversa, exclama: “Como você organizou nós! Veja quantas pessoas estão cá! Que maravilha!”.

Texto integral e fotos da autora:

Bônus:


A composição A Parede / The Wall / Stina do grupo OE, realizador: Maxim Donchik


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