Agora,
quando a parte fatual do caso foi descoberta e descrita no documento do Grupo
Internacional Conjunto (JIT),
está na hora de voltar rever a questão mais complexa e a mais importante – em
que consistia (se houve) a intenção criminosa?
por:
Mark Solonin,
publicação na página
pessoal do historiador
Noto
imediatamente, a conclusão (óbvia para mim) da existência de “intenção
indireta” é indiscutível. Como nos ensina o Código Penal, a intenção indireta é
presente se o culpado “estava ciente do perigo social das suas ações, previa a
possibilidade de consequências socialmente perigosas, não queria, mas
deliberadamente permitia a sua ação ou as tratava com indiferença e não tomou
qualquer acção destinada a prevenir o aparecimento de consequências perigosas”.
Tudo isso foi assim mesmo.
As
pessoas que tomaram a decisão de enviar “Buk” à Donbas – não vou adivinhar os
apelidos ou as posições ocupadas – sabiam (ou poderiam descobrir, com pouco
esforço, por exemplo, abrindo o mapa da página FlightRadar24) que acima da área
do presumível uso do sistema de mísseis voam os aviões de passageiros,
incluindo das companhias aéreas russas. Eles sabiam (ou poderiam saber aplicando
o esforço mínimo), que o complexo “Buk” não possui equipamento de série que lhe
permite distinguir aeronaves civis das militares; que qualquer aeronave que não
está respondendo ao sistema “amigo ou inimigo”, automaticamente é identificada
como alvo elegível à destruição. No entanto, eles não tomaram nenhuma atitude –
seja por meio de informação direta das autoridades ucranianas e/ou ICAO, ou sob
a forma de um “vazamento” organizado da informação para parar os voos
comerciais de passageiros. Do ponto de vista das “consequências socialmente
perigosas”, enviar à Donbas o sistema de mísseis antiaéreos com o teto da sua capacidade
de mais de 18 km – é pior que organizar competições do tiro no pátio de entrada
do metro na “hora de ponta”.
Com
a intenção indireta tudo é claro – mas em que consistia (se consistia) a
intenção direta? Esta questão se divide em várias subquestões.
A
primeira (“Para que levaram “Buk” para lá?) eu fiz à mi mesmo, e ao público há
dois anos, em 1 de agosto de 2014. Sem quaisquer invenções repito: ao serviço do
exército russo estão pelo menos quatro tipos de sistemas de defesa antiaérea com
mísseis de curto alcance autopropulsados (“Osa”, “Tor”, “Tunguska”, “Pantsir”)
capazes de destruir os aviões e helicópteros inimigos nas distâncias de até 8-12
km, nas altitudes de até 5-6 km, com ogivas 10-15 vezes mais poderosas do que as
das manpad portáteis. Para a resolução dos desafios enfrentados pelos grupos
armados dos separatistas de Donbas não se precisava mais... Os complexos
mencionados totalizam cerca de 1.500 unidades no balanço da infantaria do
exército russo, uma quantidade comparável fica apodrecer nas bases da
retaguarda... Agora, “Buk” é um sistema de nível completamente diferente, uma
classe diferente. Mesmo o “velho” complexo 9K37M1 é capaz de interceptar os
alvos voando à uma velocidade de 800 m/s (2,6 da velocidade do som) à uma
distância de 35 km e uma altitude de até 22 km... Será que este sistema foi necessária
para lutar contra os caças-bombardeiros subsónicos Su-25 e velhinhos aviões de
transporte An-26?
O
que é interessante, à mesma conclusão chega o blogueiro patrioteiro El-Murid (Anatoliy
Nesmiyan), que estava no circuito próximo do [terrorista russo] Girkin-“Stelkov”:
“Não está claro, de tudo, para que este “Buk” foi trazido... Conheço as pessoas
que lidaram com este nosso “Buk”, e suas histórias também se encaixam na versão
da armadilha. Eles todos em uníssono dizem da completa surpresa quando a
aparência do “Buk”, que ninguém pediu e nem requisitou, e que estava
completamente fora de lugar naquele momento, mas, ao mesmo tempo, desviava
recursos para a sua recepção e, em seguida, também, a retirada apressada”.
[Blogueiro:
o que não deve ser totalmente verdade, pois o já citado relatório do JIT
menciona várias conversas interceptadas entre os terroristas russos, conversas que
são relevantes para a investigação e tiveram lugar na noite de 16 de julho e
início da manhã de 17 de Julho de 2014. As conversas revelam que os terroristas
russos estavam em grande necessidade de um sistema de defesa aérea BUK e que este
foi lhes efectivamente entregue]
Hoje,
quando a composição da coluna foi esclarecida completamente, há necessidade de adicionar
a seguinte pergunta: “Por que trouxeram apenas um “Buk”? Assim não combatem e
assim não comandam. Vocês nunca vão encontrar uma ordem ou relatório operativo na
qual está escrito: “enviar três tanques, cinco aviões, quatro canhões”... As
unidades, em que pensam e agem os militares, são as baterias, batalhões,
companhias, esquadrões, ou seja, unidades estruturais e não as armas “unitárias”.
Isso
não é um acaso – a aplicação efectiva dos equipamentos militares só é possível no
âmbito da unidade, sobre cuja estrutura as pessoas experientes tinham refletido
bastante. Neste caso particular, a plataforma autopropulsada de lançamento veio
sem máquinas de carregamento e transporte, o que significa que a operação
ficaria completa com o lançamento dos seus quatro mísseis. Em outras palavras,
para resolver a questão da defesa antiaérea dos separatistas um “Buk” era
demais em termos de qualidade e totalmente inadequado em termos de quantidade.
Estritamente falando, o simples facto do envio de uma única plataforma sugere
que não estamos lidando com uma operação militar planeada pelo comando do
exército, mas com uma operação “pontual” de serviços especiais.
Próxima
pergunta: “Por que [“Buk”] foi transportado pela rota tão estranha?” Em 17 de julho
“Buk” cruzou a fronteira, e via Luhansk chegou ao Donetsk, ou seja, passando
por quase todo o território controlado pelos rebeldes pró-russos no leste para
o oeste. Em Donetsk, ou seja, em frente de milhares de pessoas numa grande
cidade (1 milhão de habitantes antes da guerra) “Buk” ficou parado por cerca de
2 horas, duas vezes mudando da sua localização, mas sem fazer nada e sem sair da
cidade.
Na
tarde do mesmo dia, o reboque com o camião cavalo branco [de marca Volvo]
começou a sua caminhada de volta para o leste, chegando à aldeia de Pervomayskoe
à 16 km da fronteira russo-ucraniana. O que isso era? Por quê? Por que a
passagem do ponto A ao ponto B, separados por cerca de 60 km durou um dia,
percorrendo cerca de 250 km, pelos dados do velocímetro do camião-cavalo? E se existisse
a tarefa inicial de proteger as posições dos separatistas das ataques aéreas na
área da Saur-Mohyla, Marinivka, Dmitrivka (ou seja, a poucos quilómetros da
fronteira), então o caso poderia ser muito bem resolvido sem se mover do
território russo – assim seria mais confiável e mais seguro, e sem haver os olhares
indiscretos com as câmaras...
E
última pergunta – que pode ser (não tenho o fundamento para as afirmações categóricas)
relevante para o tema: “Por que a rota do voo SU2074 da [companhia russa] “Aeroflot”
Moscovo-Larnaca se mudava são estranhamente?” A gente curiosa reparou nisso
ainda em agosto de 2014, na base nos dados da FlightRadar24. Em resumo: no dia 14
de Julho de 2014 o avião, movendo-se de norte ao sul, contornou o território da
Ucrânia, fazendo um grande arco à direita (ao leste). No dia 15 de julho
aeronave voou sobre a Ucrânia, mas evitando o território de hostilidades fez um
arco à esquerda, para o oeste, ao longo da linha de Kriviy Rih, Mykolaiv. Mas nos
dias 16 e 17 de julho, a rota do voo tornou-se uma linha reta passando pela
Lozovaya, Chervonoarmiysk (região de Donetsk), Mariupol, ou seja, algumas
dezenas de quilómetros da “linha de frente” (Ler e ver mais: Que
avião queriam abater os terroristas?). Apenas coincidência?
Não
tenho respostas feitas, não tenho “informação privilegiada”. Às hipóteses
instáveis [...] coloco a única exigência: a simplicidade. Não compliquem as
coisas. Sem esquemas de conspiração complicados com a participação de serviços
especiais e os ucranianos re-recrutados pelos americanos...
A
“minha” hipótese não é nova. É bem conhecida ao público como “versão
Nalyvaychenko” (o chefe da secreta ucraniana SBU na altura), mas modificada em
termos de datas e locais. O objectivo era a destruição do voo de “Aeroflot” com
uma demonstração posterior ao público dos pedaços reais de corpos de rapazes e
raparigas (é de recordar que a falsidade infame [russa] sobre o “menino
crucificado” foi lançada uma semana antes da tragédia do “Boeing”) e elevação do
“grau de ódio” ao tal ponto, que permitiria iniciar a invasão em larga escala
das tropas russas na Ucrânia.
Uma
única plataforma de “Buk” para a solução deste problema era mais que suficiente.
Mais, não era necessário (para a destruição de um alvo grande, bem visível no
radar, incapaz de manobrar e sem defesas antimísseis, bastava um, no máximo,
dois mísseis). Menos não era viável (sistemas acima mencionados de mísseis de
defesa antiaérea de curto alcance poderiam não conseguir atingir a altitude
necessária, e a capacidade das suas ogivas poderiam não chegar para despedaçar
uma aeronave moderna). Dado que a hora, localização, altitude e direção do voo
comercial são conhecidos antecipadamente,
mesmo a necessidade menor do uso de radar adicional de deteção prévia e apontamento
ao alvo não se ponha.* Os requisitos ao nível de treino de combate à tripulação,
também baixavam aos valores quase nulos, assim era possível enviar qualquer um (“aqueles
que não fazem a falta”). Aos que premiram o botão explicaram que ao convite do
infame nacionalista ucraniano-judaico Kolomoisky, está voando para Dnipro(petrovsk)
um “Boeing”, cheio de mercenários americanos, e com os problemas morais estava
tudo nos trinques.
O
problema principal era técnico – da “linha de frente” até a rota do voo do SU2074
eram cerca de 45-50 km. É muito. Mesmo para a mais recente modificação do “Buk”,
com o míssil 9M317 ficava quase no limite da sua capacidade, e para “Buk” que
na realidade foi trazido para Donetsk (com “velho” míssil 9M38), o objetivo é
claramente inalcançável. Creio que a chave para resolver este problema
encontramos numa frase interceptada bem audível: “Irá com os tanques do Vostok”.
Vostok é batalhão “Vostok”, uma das unidades separatistas de maior preparação
combativa. E, de propósito, foi o comandante da “Vostok”, Khodakovsky que em conversa
com o correspondente da “Reuters” deixou escapar que viu “Buk” (embora explicando
a sua origem como troféu, capturado aos ucranianos).
Não
existia na realidade nenhuma “linha de frente” com fileiras de arame farpado,
trincheiras, valas e campos minados. Com estas palavras, naquela época, era designada
uma determinada linha imaginária que ligava a cadeia dos pontos de controlo das
partes beligerantes; e se as estradas e as localidades eram controladas, de
alguma forma, a “zona verde” entre eles, na sua maior parte, era a terra de
ninguém. A verdadeira história de “guerra híbrida” na Donbas conhece casos de
unidades inteiras que sem disparar um único tiro, apenas por se perder, calhavam
nos locais de aquartelamento das tropas inimigas. “Buk” possui as lagartas, aos
blindados, melhor ainda, não foram criados para andar nas estradas. Sob a
proteção de um grupo de combate com tanques, a lançadora poderia rastejar 20-30
quilómetros para dentro do território ucraniano, tomar a posição de fogo
preparada antecipadamente e efetuar o lançamento de um ou dois mísseis. Para tudo
isso seriam precisos um par de horas. Sim, não é fácil, mas é possível, se é desejado.
Mas
alguma coisa não deu certo [...] os blindados do “Vostok” não apareceram, os
passageiros do voo Moscovo-Larnaca folheavam, preguiçosamente as revistas à
bordo...
Após
que operação (provocação) ficou frustrada, surge a questão – o que fazer com “Buk”?
Infelizmente, não temos mínimas informações sobre quem, de facto, tomou a
decisão, ou seja, se “Buk” ficou sob controlo de Moscovo e/ou do comando do
exército russo, ou se era dirigido (em todos os sentidos da palavra) pelos senhores
da guerra locais. A julgar pelo facto de que a lançadora foi arrastada para a
área de Saur-Mohyla, Marinivka, onde naqueles dias decorriam os combates ferozes,
e as intercepções de rádio que acompanham o transporte mostram a quantidade anormal
de palavrões, a segunda opção é mais provável do que a primeira. Em qualquer
caso, a partir deste ponto o plano original da operação falhou, e os
acontecimentos de 17 de Julho se desenvolviam, provavelmente na forma de
improvisação espontânea.
[...]
Talvez a mais plausível deve ser reconhecida a versão geralmente aceite dos
acontecimentos da tarde de 17 de Julho [de 2014]: a inteligência separatista
recebeu do seu informante no Estado-maior ucraniano a informação sobre o voo
previsto do An-26 de transporte; decidiu-se derrubar este “passarinho”, colocando
“Buk" na posição de tiro ao sul de Snizhne.
Aqui,
claro, surge a questão indiscutível: como é possível confundir a marca de radar
do “Boeing” (altitude 10 km, a velocidade de 920 km/h) com a marca do presumível
An-26 (a velocidade máxima de 540 km/h, a altitude máxima de 7,5 km)? Sentado num
sofá fofinho numa sala quente, respondo – de jeito nenhum!
Mas
a tripulação de combate estava em um ambiente diferente. Desde o momento em que
cruzaram a fronteira eles vagueavam pelas estradas, muito provavelmente, sem dormir,
nem comer. As chefias claramente não percebiam o que queriam, e este nervosismo
inevitavelmente repassava aos subordinados. O estado político e moral do
pessoal é possível julgar pela uma das interceptações de rádio, informando que
algum membro da tripulação de combate se separou do grupo (caiu da cabine?), e
é necessário o encontrar e devolver ao seu lugar. Em outra intercepção a
condição de pessoal é descrita como o palavrão muito conhecido que pode ser
traduzido como “muito cansados e muito nervosos”. Por volta das quatro horas da
tarde no dia 17 de julho o desejo de todos era apenas uma: abater alguma coisa o
mais rapidamente possível e voltar para Rússia. O que eles fizeram.
Voltando
ao ponto de partida (qual foi a intenção / propósito original da operação?), devemos
discutir o contraponto manifestado repetidamente na Internet: é estúpido e perigoso
fazer as provocações deste tipo, se os fragmentos do avião abatido vão cair no
território controlado pelo inimigo; todas as provas estarão disponíveis aos
peritos internacionais, e quando eles chegarão à verdade – ninguém irá gostar. [...]
Como e com que velocidade trabalham os peritos internacionais aprendemos com a
experiência prática. E o mais importante – quem lhe permitiria o acesso na
situação hipotética? Por que razão, quem vos chamou? O avião é russo, todos os
mortos são cidadãos da Rússia, os destroços estão espalhados no território da novaróssia,
libertada da junta nacionalista-fascista. Vão todos para fora! De forma parecida,
mas numa história absolutamente real foram “mandados passear” os polacos que
queriam levar os destroços do avião que caiu perto de Smolensk (embora havia uma
situação diferente – o avião não era russo, e os mortos não eram cidadãos da federação
russa).
E
finalmente, a objeção do foro geral: não pode ser que uma operação de tal
importância e sigilo fosse realizada (abortada) no ambiente em tal descuido
flagrante!
O
reparo é justo, é difícil respondê-lo [...] sem se afastar dos quilómetros e
segundos para a área de psicologia de medição complexa. [...] Mas uma coisa eu
tenho visto e sei aos 146 por cento. E vocês viram. Vocês ainda não se esqueceram
como os generais de fardamentos vistosos nos contavam sobre os “dados objetivos
de controlo de radar”, sobre o Su-25 que como um falcão voava além das nuvens?
Como o vice-ministro da Defesa da Federação Russa se referia aos dados do
“controlador aéreo espanhol”? Que “imagens de satélite” eles nos mostravam, que
“experiências naturais” levavam ao cabo? Mesmo que a propaganda de guerra
(guerra psicológica) é uma parte importante, se não a mais importante parte
integrante da guerra híbrida moderna. E se, estando sentados em poltronas cómodas
em salas quentes, recebendo salários enormes, eles ASSIM preparavam as suas
conferências de imprensa e briefings, então por que vocês acham que no campo de
batalha, sob o fogo inimigo, eles terão uma ordem maior?
*
À todos os que ainda continuam a delirar sobre o tema “de uma única máquina é
impossível lançar o míssil”, proponho aprender de cor:
“No
decorrer das operações de combate, as máquinas autopropulsadas de mísseis (SOU),
efetuam a detecção, identificação, rastreamento automático e identificação do
tipo de alvo, a geração de tarefa de lançamento, a criação da tarefa de voo,
lançamento do míssil, iluminação de alvo e transmissão de dados de correção ao
míssil, avaliação de resultados de lançamento. SOU pode efetuar os disparos
contra os alvos, fazendo a parte de complexo de mísseis antiaéreos com indicação
de alvos à partir do posto de comando, e de forma independente em um setor
predeterminado de sua responsabilidade”.
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