O
quotidiano de caça dos franco-atiradores ucranianos armados com a poderosa
Barrett M107A1 – a espingarda lendária americana de alta potência, usada, com
bastante sucesso, na luta contra os terroristas russos.
por:
Yuriy Butusov
(Censor.net.ua)
No
cinema as ações dos franco-atiradores são reduzidas aos momentos mais dramáticos
quando o alvo fica na mira, o atirador olha para a face da vítima e ainda assim
prime o gatilho. Há surpresa, alguma angústia moral, destreza, agilidade,
impiedade.
Na
realidade, na linha da frente, o rosto e os olhos do inimigo são raramente
visíveis – o local mais seguro para atingir o alvo é o tronco que está no
centro do corpo, não há tempo para ver e apontar a cara. Do impacto do poderoso
cartucho de 50 BMG (12,7 mm) não salva nenhuma proteção.
Cartucho "Barrett" 50 BMG (12,7 mm) |
Na
realidade, a arte de atirador da linha da frente é um trabalho de equipa, pormenorizado
e de longo tempo, para conseguir um único tiro.
Tal
como agora. Três dias são gastos para escolher a melhor posição. Onde os
mercenários russos disparam os morteiros, onde trabalham os seus
franco-atiradores, onde andam os seus grupos de sabotagem e reconhecimento
(DRG).
O
reconhecimento de posições inimigas e da zona neutra. O reconhecimento de
engenharia das passagens até ao inimigo. O reconhecimento com ajuda dos drones –
as colinas devem ser inspeccionadas das alturas. No decorrer da escolha das
posições vantajosas para atirar, o grupo que foi ao “trabalho” desarmou quatro
minas. O inimigo colocou-as pensando neles.
De
seguida, é organizada a observação, colocados os postos avançados de proteção e
apoio da retaguarda. Tudo isso discretamente, silenciosamente, depois de
escurecer – o apagão completo.
A "Barrett" olha para nos |
Mas
o inimigo na linha da frente também organiza a caça aos ucranianos, e não
pretende levar a bala. Os mercenários russos não relaxam – há muito tempo foi
lhes retirado o hábito de se banhar ao sol junto às suas trincheiras.
Os
franco-atiradores precisam de avançar mais que todos os outros – aos locais,
onde os alvos serão bem visíveis. Deixar as trincheiras tão confortáveis, onde
existem os meios de disfarce e locais para se esconder é sempre um risco. E
sair de sua trincheira, avançando para frente, para o local, onde você não está
protegido – parece como ficar sem a pele. É necessário ficar perto do inimigo,
onde você também poderá ser detectado. É precisa ter a certeza de que o seu
esconderijo não é visível do outro lado. Que é sua mira óptica não brilhará ao
sol.
O
menor erro e o vigia – operador do morteiro inimigo lançará contra a “zona
verde” uma série de granadas de 30 mm, usará os morteiros, SPG ou automático
2B9M «Vasilek» de 82 mm.
“Barrett”
permite disparar até a distância de 1.800 metros (contra 800 metros da SVD), mas para
ter a certeza, a melhor marca é de 1000 metros, nesta distância, nas mãos
competentes, praticamente não há falhas.
O
franco-atirador ucraniano com a “Barrett” americana é um alvo prioritário dos
terroristas. Sem dúvida, no caso de ser descoberto pelo inimigo, este fará todo
o possível para capturar a arma e os atiradores. Mas todos esses pensamentos os
atiradores cautelosos deixam no linha “zero”. Eles avançam adiante, confiantes
de que os seus companheiros serão capazes de lhes proteger a retaguarda, conseguindo
evacuar o par de atiradores em qualquer das situações. A confiança é
necessária.
Finalmente
a posição é ocupada, o nosso par se coloca nela. Agora, o resultado da operação
está nas suas mãos. Eles observam o inimigo de perto. Determinam os padrões de
ação – quando, onde, em que lugar aparecem os alvos. O comandante deu a palavra
simples e quotidiana na despedida: “Fogo à vossa escolha no momento da
preparação!”
No
momento exacto do disparo, a equipa de observadores dará o sinal ao grupo de
apoio e eles ligarão a motosserra para dissimular o som do tiro e para
dispersar a atenção. Em caso de necessidade, os locais observados e relevantes
serão alvejados pelo fogo do morteiro automático.
As
medidas foram tiradas, estamos à espera do inimigo, o meu lugar é no posto de
observação. Na linha da frente nenhuma agitação – o inimigo não anda, não
aparece sem a necessidade. Observação e espera levam as longas horas. Eu mesmo,
sem conseguir resistir o acordar cedo, adormeci por uma hora. Mas observação
continua, a nossa posição é muito promissora, e é claro, que alguém cairá na
mira – os guardas, os observadores, a inteligência, a logística, às vezes
aparece o mais interessante – o franco-atirador inimigo que também vai à caça.
As distâncias são grandes, não se olha para as faces e detalhes, aponta-se
contra a silhueta. No grupo de proteção, o segundo par controla a situação. No
objetivo é claramente visível como duas silhuetas aparecem à vista. Eles nada
suspeitam. Eles não sabem que em algum lugar muito longe, a morte, empacotada
num carregador, mede o tempo de suas vidas.
A mira ótica x45 |
Eles
são observados, através da óptica x45 que acabou de ser trazida pelos
voluntários, por vários pares de olhos. É preciso disparar com segurança – o franco-atirador
tem o direito de apenas um tiro. O silenciador poderoso irá extinguir
completamente a clarão do disparo e conseguirá silenciar o som. Um disparo e
logo – a mudança de posição. Assim é possível sair, ao segundo tiro definitivamente
será notado. Caso contrário, o par dos franco-atiradores será descoberto e eles
próprios virão a caça – dezenas de seus inimigos ferozes – operadores de
metralhadoras, dos morteiros AGS e SPG, franco-atiradores inimigos vão começar o
jogo mortal para não deixar sair vivos os ucranianos.
O silenciador e abafador dos clarões de fogo "Barrett" M107 |
A
caça do inimigo é adrenalina e estresse. As pessoas começam a sussurrar – mesmo
aqueles que estão à 2 km da distância e observam tudo através de binóculos. Os
franco-atiradores sentem a enorme responsabilidade – se não fazer o bom
cálculo, se errar, se intervir o acaso, se o inimigo suspeitar de algo – então
todo o este trabalho de vários dias de uma equipa inteira foi em vão? Por vezes,
acontece isso mesmo. A falha também faz parte do trabalho. Por isso agora
ninguém se apressa e todos entendem tudo. Os franco-atiradores ucranianos estão
esperando o momento certo em que uma das silhuetas, por um momento, ficará
completamente exposta. Duas silhuetas lá em baixo – quem são eles, vieram de
Moscovo, Novosibirsk, Vladivostok? Eles não provocam nenhumas emoções, nem os
sentimentos. Eles são apenas um alvo sem nome que não tem nenhum lugar na terra
ucraniana.
Tudo
acontece casualmente e, de repente. De repente, segue um breve relatório:
"1 +". Abruptamente, tudo entra em movimento. "1 +"
significa que quatro dias e quatro noites, desta vez não foram em vão. Isso
significa que agora mesmo a bala de 45 gramas disparada de uma distância de
1.000 metros e à uma velocidade de 850 metros por segundo atingiu uma das
silhuetas.
Observadores dão a
confirmação. Qualquer que seja o mercenário que calhou na mira, ele efetuava,
na linha da frente, o seu próprio trabalho. O franco-atirador ucraniano fez o
dele. Estamos se retirar. Os batedores escolheram para o amanha um novo ponto
de tiro.
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