Nas vésperas da Cimeira de Berlim sobre a paz na Ucrânia, encontramos o vice-chefe
da missão de observadores da OSCE,
implantado no terreno. A missão tenta acalmar as tensões e recolheu amplas
evidências da presença do exército russo do lado ucraniano da fronteira.
por:
Renaud Rebardy
Os
líderes russos, alemães, franceses e ucranianos se encontraram na quarta-feira,
dia 19 em Berlim, para tentar avançar o processo de paz na Ucrânia, agora em
dificuldades. Esta é a primeira vez em um ano que Vladimir Putin, Angela Merkel,
François Hollande e Petró Poroshenko foram reunidos no chamado “formato de
Normandia”.
Na
Ucrânia, a linha de frente se estabilizou. As entidades rebeldes de Donetsk e
Luhansk aguentam e
sobrevivem apenas graças à Rússia. Os combates pararam, mas os
confrontos localizados continuam regularmente, fazendo baixas entre militares
ou civis.
No
terreno foi implantada uma missão de observação da OSCE (Organização para a
Segurança e Cooperação na Europa). Conta com 700 observadores distribuídos pela Ucrânia, dos quais 600 estão no
leste. São provenientes de 45 países (incluindo a Rússia). Enquanto em Paris,
Alexander Hug, vice-chefe da missão, nos concedeu a entrevista na qual ele
relata a fragilidade contínua do cessar-fogo.
–
O presidente russo cancelou recentemente a sua visita à França. Vocês acreditam
que isso representa um risco de uma maior deterioração da situação na Donbas?
–
O mais importante que diálogo continua, independentemente do nível ao qual
ocorre. Nossa missão fornece uma visão sobre o que está acontecendo no terreno,
facilitando a comunicação. Este é um papel fundamental, pois em caso de
deterioração repentina, é necessário ter alguém para tentar encontrar uma
maneira de restaurar a calma. Os resultados do nosso trabalho não são, talvez,
muito visíveis. Mas nós participamos na manutenção de um canal de comunicação,
e isso por si só é um resultado.
–
Os observadores da OSCE enfrentam muitos obstáculos no seu trabalho diário?
–
Sim, nós sofremos regularmente com os obstáculos e os relatamos. Temos usado as
formas diferentes [de vigilância]: as câmaras fixas, drones e patrulhas. Muitos
dos nossos drones foram abatidos. Às vezes acontece que os nossos observadores
sofrem ataques de intimidação, ou as nossas viaturas ficam bloqueadas nos postos
de controlo.
Os
combatentes presentes nos dizem que não podem nos deixar passar, pela nossa
própria segurança, porque o lugar está minado. Isso também é uma violação dos
acordos. Estas restrições são sempre uma maneira de nos impedir de ver algo que
eles não querem, de forma, relutante, que seja visto, isto é perfeitamente
claro.
No
entanto, este tipo de interferências não ocorre todos os dias, nem nunca no
mesmo lugar. Em todos os casos, primeiro nos reportámos os casos destes entraves
ao Centro Conjunto de Controlo e Coordenação (CMCA), que é responsável para
ajudar-nos. Esta organização é baseada na área sob controlo da Ucrânia. Abriga
oficiais ucranianos e russos, cerca de 75 pessoas, não armados, que são
trocados à cada três meses.
Quando
uma das nossas patrulhas é alvejada à tiro, nós imediatamente notificamos o
CMCA, que deve garantir a nossa segurança. É também este organismo tem a
responsabilidade de investigar todas as violações de acordos e deve assegurar a
vigência do cessar-fogo.
–
Como você avalia a situação no terreno?
–
A situação na área da linha da frente é muito instável e imprevisível, longe de
ser apaziguada. Existem muitas áreas onde as posições entre as partes em
conflito são muito próximas, distam pouco mais que cinquenta metros. Este é o
caso, por exemplo, da vizinhança do aeroporto em Donetsk. A tensão é permanente
e o menor incidente resulta imediatamente em tiros. Por isso, tentamos fazer
recuar as forças, não apenas as armas pesadas, mas também a infantaria, de modo
que essas forças não entrem em provocações constantes.
No
dia 21 de setembro [de 2016], chegamos a uma decisão que, em três áreas
acordadas, ambas as partes recuem fora da linha de frente, de modo a ter uma
zona tampão maior. Esta retirada é eficaz em duas dessas áreas. Na terceira, a
retirada não ocorreu. O objetivo é poupar os civis, que são muitas vezes as
primeiras vítimas, e encorajar um retorno ao normal. Mas isso requer confiança
entre as forças presentes, e um nível de segurança para, assim, garantir que o terreno
evacuado não é reocupado imediatamente por uma das partes.
No
setembro passado houve uma calmaria quase completa por alguns dias. Isso mostra
que quando há vontade política, ambos os lados podem controlar as suas forças e
conseguir um cessar-fogo total. Achamos que devem existir as retiradas
semelhantes ao longo dos 500 quilómetros de linha de frente, e que isso poderá
permitir uma trégua sustentável.
–
No início da guerra, do lado ucraniano, existiam vários batalhões de
voluntários que não estavam sob o controlo direto da liderança ucraniana. Onde
estamos hoje? Todos estes batalhões foram integrados no exército?
–
Sim, todas as tropas que lutam no lado ucraniano estão agora, por decreto,
legalizados e trazidos sob o controlo do comando do exército. Eles estão sob
controlo. Fomos capazes de fazer a verificação em setembro, durante o período
de calma da qual falei. O governo ucraniano deu ordens claras. E estas são
aplicadas. Esta é a prova de que todos os batalhões estão sob o comando
unificado.
–
Rússia garante que não está diretamente envolvida na Donbas. A missão de
observação reuniu provas de uma presença directa do exército russo do lado
ucraniano da fronteira?
–
Nos vimos os combatentes que tinham insígnias do exército russo. Fomos capazes
de entrevistar os prisioneiros que nos disseram que são membros das forças
regulares russas. Nos vimos também o armamento sofisticado que o exército
ucraniano não utiliza e que está disponível unicamente no exército russo. Documentamos
tudo isso nos nossos relatórios.
Estes
são os factos que temos visto. O nosso trabalho é precisamente este: relatar
esses factos. No entanto, não nos cabe tirar as conclusões e eu não posso
fazê-lo (fonte).
Blogueiro
As
limitações do mandato da OSCE são bem conhecidas, no entanto, algumas ações dos
membros desta organização são muito mais que simples limitações...
OSCE: amiga dos terroristas |
OSCE: ocasionalmente amiga dos terroristas |
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