sexta-feira, agosto 05, 2016

EgorovaLeaks: o controlo terrorista dos jornalistas estrangeiros

Após a colocação na Internet dos 2,4 GB da correspondência da funcionária do “ministério da informação da dnr”, Tatiana Egorova, os jornalistas continuam analisar o conteúdo do sistema de controlo de jornalistas, criado e gerido à partir de Moscovo. Cujo único objetivo era a filtração dos jornalistas para obrigar a imprensa internacional a produzir as peças favoráveis às organizações terroristas à operarem no leste da Ucrânia.  

É bem possível que o twitter e o e-mail da Tatiana Eegorova, a personagem real ao serviço dos terroristas da “dnr” foi alvo de hacktivismo, a cópia da sua correspondência foi gentilmente nós cedida pela comunidade voluntária internacional InformNapalm.
Entre outras coisas, a correspondência contém um ficheiro Excel, dedicado aos jornalistas estrangeiros da TV e da imprensa escrita. O ficheiro demonstra que a obtenção da “acreditação oficial” junto à organização terrorista “dnr” era um processo complicado, à não ser que o “jornalista” representasse a imprensa europeia radical, de extrema-esquerda ou da extrema-direita que simpatizasse com os separatistas.

No ficheiro do dossier Egorova, os simpatizantes da “dnr” são marcados com a cor verde. Entre eles, por exemplo, está o fotógrafo e pseudojornalista alemão Mirko Mebius (pseudónimo: Mark Bartalamej), simpatizante aberto dos terroristas, autor do filme propagandista “Agonia ucraniana”. O seu nome é marcado com a inscrição: «GOOD FRIEND».
Felizmente, a maioria dos nomes de jornalistas é marcada pelos terroristas a vermelho e amarelo. O vermelho significa que o jornalista é um perigo para os terroristas e estes não o querem em Donetsk, no caso de já se encontrar lá, deveria ser imediatamente expulso da cidade. A cor amarela significa que os terroristas avaliam “os riscos” e condicionam a possibilidade de emitir acreditação.

As fórmulas usadas pelos terroristas são sugestivas e agressivas: “russófobos, trabalham claramente para as Forças Armadas da Ucrânia, retirar de Donetsk imediatamente”; “trabalha para FAU e OAT, imediatamente retirar de Donetsk”; “trabalha para a imprensa ucraniana”. O correspondente da agência Associated Press recebeu a seguinte caraterística: «propagandista da NATO. Muito competente. Reuters e AP [Associated Press] são os principais inimigos ideológicos da Rússia na guerra de informação». Numa das colunas são colocados os links das matérias que devem comprovar estas avaliações. 
O canal televisivo australiano ABC é classificado como “russófobo”, mas os terroristas estão dispostos a “experimentar”.
Alguns nomes da lista são marcados com a frase – «peçam lhes para mostrar os seus artigos». O nome do correspondente da La Repubblica (Itália) recebe a nota, «há risco» e aparece explicação, o jornalista fez entrevista com o Ministro do Interior da Ucrânia, Arsen Avakov. Entre os jornalistas famosos a quem os terroristas proibiam categoricamente de entrar em Donetsk estavam Oliver Carroll (na altura The Independent), Roland Oliphant (Daily Telegraph), Anna Nemtsova (The Daily Beast). Todos eles faziam as reportagens de Donetsk desde a primavera de 2014 – o início da ocupação dos edifícios administrativos em Donetsk e Luhansk pelos separatistas locais e pelos terroristas russos. Além disso, nas listas negras dos terroristas figuram Reuters, BBC e Al Jazeera.

Tudo isso é a obra do “Sistema de monitoramento da imprensa e dos jornalistas na dnr”, organismo sediado em Moscovo na base da agência em língua inglesa «DONi» (Donbass International News Agency). O sistema foi lançado em agosto de 2015, mas neste momento os terroristas da «dnr» se recusam a financiar o seu funcionamento.

No último dia 5 de julho de 2016, o seu diretor, o pseudojornalista finlandês Janus Putkonen (propagandista pró-russo dos terroristas da “dnr/lnr”), escreve para Tatiana Yegorova, com as cópias para “mgb dnr” e “administração da dnr” (praticamente efetuando uma chantagem):
Putkonen (o bro mais novo e mais alto) com o "vice-chefe militar" da dita "dnr" Eduard Basurin
«Somos obrigados à informar o serviço de segurança nacional da dnr (mgb), a administração pública e o centro de imprensa da república popular de Donetsk que o sistema de defesa informativa que controla a DONi para o fornecimento de serviços confiáveis de acreditação de jornalistas estrangeiros está fechado e se encontra em modo de espera desde 1.7.2016».

Putkonen relata o trabalho realizado e defende a indispensabilidade do “sistema” para a liderança dos separatistas: «O Sistema DONi serviu à república popular de Donetsk desde a sua fundação, em agosto de 2015, e teve como objetivo trabalhar em cooperação com altos funcionários da dnr».

O parágrafo dedicado à cooperação com os jornalistas e com a imprensa “necessária” e “correta”:
«Diariamente eram lançadas as propostas objetivas da possível cooperação com a imprensa e jornalistas estrangeiros, em estreita cooperação com o mgb, ministério da defesa da dnr. […] Os históricos de alguns jornalistas estrangeiros eram estudados no âmbito das necessidades militares diretas da dnr» (o sublinhar é nosso).

Todo este mimimi é apenas para pedir o dinheiro: 50.000 rublos mensais (45.000 salário do administrador do sistema + 5.000 rublos de manutenção do sistema; cerca de 753,1 dólares) em Moscovo ou cerca de 30.000 em Donetsk, com a previsão de que o sistema irá funcionar em pleno no fim de um mês de calendário (15.000 rublos de salário + 5.000 de manutenção, cerca de 451 dólares).

O arquivo EgorovaLeaks contém milhares de cartas dedicadas à acreditação dos jornalistas, auxílio de entrada aos territórios ocupados das “repúblicas populares” dos “ativistas estrangeiros”, apoiantes dos terroristas. O arquivo contém as cópias dos seus passaportes e das discussões sobre a melhor maneira da sua chegada à “dnr” (geralmente de autocarro / ônibus através do território russo à partir de Moscovo que é uma violação grave da lei ucraniana de migração).

Mas a maioria das cartas é dedicada aos jornalistas.

Por exemplo, num dos e-mail se fala que na aldeia de Zaytsevo (neste momento sob controlo formal da Ucrânia), foi vista a jornalista do canal francês France 24 – ela, alegadamente «fazia as perguntas pró-ucranianas» ao chefe do bando terrorista.

Outro e-mail conta que o jornalista e blogueiro ucraniano Nazariy Nadzhoga foi colocado no «ponto de filtração do mgb da dnr», pois na sua pasta de laptop foi achado «o cartão de visitas de Yarosh». O meme “cartão de visitas de Yarosh tornou-se popular na primavera de 2014, assim como um outro: “dólares americanos”. Desde a data, os cartões se tornaram um souvenir e são vendidos nas lojas de lembranças em diversas cidades ucranianas. Hoje é difícil dizer se o cartão era real ou souvenir, mas na altura o objeto foi visto pelos terroristas como uma razão para deter o jornalista e o colocar nas masmorras. O caso acabou bem, pois após criar com ele o “contacto psicológico”, os separatistas recomendaram emitir lhe a acreditação, embora manter a pessoa sob controlo ideológico apertado.

De acordo com arquivo da Tatiana Egorova, o financiamento do sistema de controlo e triagem dos jornalistas estrangeiros foi realizado com o aval pessoal do Sergey Zakharchenko, o irmão do fuhrer do grupo terrorista “dnr”, Aleksandr Zakharchenko.

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