|
"A nona onda" (1979) |
Uma parte dos quadros
foi pintada ainda na URSS e guardada no fundo dos estúdios dos artistas. Outros
foram pintados já após o início da Perestroica, quando censura e KGB deixaram
de ameaçar os seus autores. Ambas as partes são bastante interessantes, principalmente
hoje, quando na federação russa o regime optou, claramente, pelo branqueamento total
e até uma certa restauração da “prisão dos povos”, da União Soviética.
O “pintor popular”
soviético, o prémio “Estaline” de 1950, Yuriy Kugach (1917-2013), retrata no seu quadro “Do passado recente”
(1960-1990) o processo de deskulakização, quando os camponeses mais capazes
eram deportados à Sibéria ou às outras regiões soviéticas, tendo como única
culpa o facto de possuírem mais que uma vaca ou habitarem em uma casa mais
abastada. O processo da deportação é comandado e coordenado pelos agentes do CheKa / OGPU.
|
"Do passado recente" (1960-1990) |
Egil Veydmanis
(1924-2004), pintor soviético de origem letã, filho de um comunista letão,
membro da unidade dos “atiradores letões”. Após a consolidação do regime
soviético, o seu pai trabalhou no teatro letão “Skatuve” (Palco) em Moscovo,
cujo grupo teatral, praticamente na sua totalidade, foi preso e fuzilado pelo
NKVD durante o Grande Terror de 1937-38. O pai do pintor foi fuzilado no polígono
de Butovo, juntamente com mais de 20.000 pessoas...
|
"Butovo. Polígono de fuzilamento do NKVD" (1999-2003) |
Entre as vítimas do
polígono de Butovo estão as pessoas com idades entre 13 à 82 anos, de pelo
menos 73 nacionalidade e grupos étnicos, de todos as classes, incluindo cerca
de 100 pintores e mais de 900 sacerdotes. Embora a maneira de extermínio no
polígono era ligeiramente diferente a da pintada no quadro. A técnica de
retirar os prisioneiros da viatura e fuzilar imediatamente no mato era usada
pelo NKVD no Massacre
de Katyn. Em Butovo, NKVD construiu uma barraca especial, para onde à 1h00
de manha eram trazidos os prisioneiros, 400-500 pessoas por noite. Eles eram
lavados à barraca para o “tratamento sanitário” (a técnica mais tarde usada pelos
nazis), seguia-se a verificação das suas identidades, depois as pessoas eram
despidas e lhes anunciavam a sentença. A equipa do extermínio esperava numa
outra barraca, bebendo a vodca, para ganharem coragem e indiferença. Depois, os
condenados eram levados fora da barraca, um por um e fuzilados. No fim do
processo, pela manha, uma retroescavadora tapava a vala comum.
|
"Inscrição ao kolkhoze" (1985) |
A pintora ucraniana Nina
Marchenko (1940), no quadro “Inscrição ao kolkhoze” (1985) mostra como comunista, em “budionovka”, o boné usado pela cavalaria bolchevique, obriga um camponês à
se inscrever no kolkhoze. Após a aderência forçada ao kolkhoze aos camponeses
arrancavam o trigo, que por sua vez era vendido no Ocidente para financiar a
industrialização soviética (fábrica “Ford” em Nizhni Novgorod ou as turbinas “Siemens”
de DniproHES).
O preço à pagar foi Holodomor
que custou a vida aos entre 3,5 à 7 milhões de ucranianos.
|
"Caminho de luto" (1998-2000) |
|
"A última caminhada" (1998-2000) |
|
"A mãe do 1933" (2000) |
O pintor não
conformista russo, Vasily Kolotev
(1953), era famoso pela sua firme postura de não colaboração com o regime
soviético (trabalhava como serralheiro e pintava nos seus tempos livres). Hoje
o artista é considerado o documentalista da vida moscovita popular de uma época
inteira.
|
"A data vermelha do calendário" (1985) |
|
"Domingo" (1984) |
|
"... E o barco anda. Cervejaria" (1979) |
|
"As folhas do álamo caem do freixo" (1984) |
|
"As cenas do boulevard" (1984) |
Os temas dos seus
quadros era o quotidiano moscovita (espelho maior do quotidiano soviético) dos
anos 1970-1980. “A data vermelha do calendário” (1985): os proletários soviéticos bêbados
celebram o dia 1 de maio. “... E o barco anda. Cervejaria” (1979), “As folhas
do álamo caem do freixo” (1984) e “Domingo” (1984): retratam o passatempo popular no fim da
época do Brejnev. A URSS invade o Afeganistão e ameaça invadir a Polónia, mas
nas cervejarias ao céu aberto os intelectuais, caídos e os vindos do povo discutem a vida:
desde as mamas da vendedora até a filosofia do Kant. Por ser inofensivos,
são tolerados pelo regime. “As cenas do boulevard” (1984): uma das “conquistas”
do “socialismo real” que suscita mais nostalgia dos saudosistas soviéticos é a
vodca barata. Em 1984 o líder soviético Yuri Andropov aumentou o seu preço para
4,70 rublos pela garrafa de 0,75 litros. Oficialmente, para combater alcoolismo,
na realidade para preencher o magro orçamento soviético que já não aguentava a
corrida armamentista contra os EUA.
|
"Nas escadas do prédio" (1983) |
|
"A manha da vizinha" (1984) |
“Nas escadas do prédio” (1983): dado que na
parte europeia da URSS o frio apertava muito bastante pelo menos 6 meses ao
ano, os bêbados soviéticos e as companhias dos jovens delinquentes costumavam
beber nas escadas dos prédios de habitação, incomodando os seus habitantes. “A
manha da vizinha” (1984): até o fim dos anos 1990 um grande número dos cidadãos
soviéticos vivia nos apartamentos comunais: os bons apartamentos individuais da
época do “czarismo sangrento” foram transformados em cubículos imundos, onde
cada quarto passou à ser ocupado por uma família, com a necessidade de partilhar
os locais comuns: casa de banho, banheira, cozinha, etc. “A nona onda” (1979):
a vida quotidiana da família soviética. “A fila” (1985): uma parte considerável
do seu tempo o cidadão soviético passava nas filas, filas por tudo e por nada:
desde a mortadela até os sapatos jugoslavos, de papel higiénico até o café
brasileiro.
|
"A fila" (1985) |
As famosas filas
soviéticas, a parte integral da economia planificada foram retratadas por diversos
outros pintores. O quadro “A fila” (1986) do Aleksey Sundukov (1952) mostra uma fila
feminina para comprar os alimentos que no calão soviético eram “deitados”, ou
seja, apareciam em venda livre, mas em quantidade limitada.
|
"A fila" (1986) |
O quadro do Vladimir Korkodym (1940) “Esperando
pela mercadoria” (1989) mostra a população apática à espera pelos alimentos
numa loja rural no interior. Nas prateleiras podemos ver os alimentos em venda
livre e de pouca procura: algumas conservas e enlatados.
|
"A espera da mercadoria" (1989) |
Fonte:
http://www.erich-hartmann.com/podborka-antisovetskoy-zhivopisi-raz
1 comentário:
vc sabe quais os partidos que irão concorrer para as eleições regionais de outubro
Sabe se há pesquisas
Enviar um comentário