quarta-feira, setembro 16, 2015

A guerra na Síria: como a marinha russa auxilia Bashar al-Assad (Infografia)

Pelo quinto ano consecutivo as forças governamentais sírias estão lutando contra vários opositores – a resistência síria, islamitas moderados, curdos e EI. O território controlado por Bashar al-Assad diminui à cada ano que passa, mas o regime consegue manter o poder, graças, em parte, à ajuda económica e militar da Federação Russa.

A InformNapalm.org demonstra a envergadura e as estatísticas do tráfego naval de várias frotas russas ao porto sírio de Tartus. Usando as fontes OSINT, o perito da InformNapalm.org, Anton Pavlushko, analisa e apresenta diversas tabelas (ligação direta às tabelas http://bit.ly/VovaHelpingBashar), com indicação do período e do número de viagens, envolvendo grandes navios de desembarque da marinha russa na transferência de cargas militares à Síria.

Uma das razões do prolongamento do conflito sírio são “as inesgotáveis ​​reservas de guerra” do regime de Assad, que é constantemente suprido graças a Rússia, via aérea e marítima. E se o tráfego aéreo, tenta-se restringir recentemente, de alguma forma, o tráfego marítimo russo continua a ser a ajuda vital ao Bashar al-Assad.

O principal papel no fornecimento de carga militar à Síria é desempenhado pela Frota do Mar Negro da Federação Russa (a principal base naval é a cidade de Sebastopol, situada na Crimeia ucraniana temporariamente ocupada).

Teoricamente, a Rússia poderia estabelecer o contrabando de carga militar à Síria com auxílio da sua marinha mercante, mas a primeira inspecção da carga poderia provocar um escândalo internacional, de modo que no fornecimento são usadas as forças navais de diversas frotas militares. O tráfego ao porto sírio de Tarus é feito através do Bósforo e Dardanelos.

Os navios de guerra não podem ser verificados e a passagem dos estreitos é regulamentada pela Convenção de Montreux de 1936, pressupõe somente a notificação a parte turca sobre a passagem programada.

Assim, para executar as tarefas do fornecimento dos equipamentos militares e as tropas para a Síria, a Rússia está usando grandes navios de desembarque. A frota russa do Mar Negro possui sete navios deste tipo, parte da 197ª brigada dos navios anfíbios.

Nota-se que em Sebastopol também se encontra o grande navio de desembarque ucraniano “Kostiantyn Olshansky”, capturado pela Rússia durante a ocupação da Crimeia, mas de momento a Rússia não se atreve à usar o navio no fornecimento de carga à Síria.

O Projeto 11711 (iniciado ainda em 2004) deveria reforçar a envelhecida marinha de guerra russa com uma série de grandes navios de desembarque, mas devido ao mau financiamento, nenhum navio deste tipo foi construído em tempo previsto.
Os populares sírios em Kafranbel manifestam o seu repúdio à interferência russa no conflito
A liderança militar russa também estava planeando fortalecer a capacidade da sua frota no transporte de armas e equipamentos, encomendando à França o mais moderno navio de assalto anfíbio da classe “Mistral”, com a capacidade de transportar até 70 camiões ou 40 blindados e ainda 450 militares. Esses navios têm a capacidade de carga até 32.000 toneladas – várias vezes mais do que os navios das séries russas 775/1171 (total de 4400 toneladas). No entanto, a anexação da Crimeia e as sanções ocidentais frustraram estes planos. Agora a Rússia tem que usar no transporte à Síria os navios antigos de fabrico soviético.

Para analisar o tráfego da marinha russa no estreito de Bósforo foi usada a página turca Bosphorus Naval News. A página conseguiu processar até 90-95% das passagens de navios de guerra através do Bósforo. Os voluntários do InformNapalm.org agruparam os dados de 2013-2015, os dividiram pelas frotas militares, por tipos de navios e datas de passagem, visualizando a seguinte situação.

Em apenas 3 anos foram detetadas mais de 300 passagens dos navios russos pelo Bósforo, em ambas as direções. Nestas passagens participaram mais de 50 navios, pertencentes às diversas frotas militares russas. Destes, pelo menos 14 eram grandes navios de desembarque dos 18 em funcionamento na marinha militar russa – 6 da Frota do Mar Negro, 4 da Frota do Báltico, 3 da Frota do Norte e 2 da Frota do Pacífico.

A quota de tráfego dos grandes navios de desembarque superou 70% de todas as passagens de navios russos (229 das 303 passagens). As passagens da frota do Mar Negro correspondem à mais de metade de todas as passagens do Bósforo, a frota do Báltico é responsável pelo 20% de passagens e a quota da frota do mar do Norte é de 10%.

A rota padrão dos navios militares russos é delineada de seguinte maneira: Sebastopol (se o navio pertence à Frota do Mar Negro) – Novorossiysk – Bósforo – Dardanelos – Lataquia / Tartus.

O principal carregamento ocorre em Novorossiysk, pois, ultimamente se tornou mais difícil trazer as cargas russas até a Crimeia, o que obriga os navios à fazer um desvio na rota Sebastopol – Novorossiysk, o que aumenta o tempo de navegação até Tartus em 1 dia. A viagem normal entre Novorossiysk e Tartus em uma direção tem a duração média de 4 dias (1512 milhas náuticas / 2.433 km), depois decorre a descarga e se inicia a navegação ao regresso.
Uma viagem à Síria e de regresso leva uma média 10 dias – estas viagens são rastreadas na verificação do tráfego marítimo através do Bósforo. Muitas vezes, os navios russos navegam às pares, passando os estreitos, e em cerca de 8 à 13 dias, voltam ao Mar Negro (as distâncias e o tempo são calculados usando o servidor SeaRates).

Como atestam os dados estatísticos e a infografia, o tráfego marítimo russo aumenta todos os anos. Presumivelmente, mais de 30 viagens em 2013, mais de 45 em 2014, em 20015 até o setembro o número de viagens atinge o nível da campanha de 2014.

Os grandes navios de desembarque da frota do Norte e do Báltico constantemente fazem a rotação na esquadra do Mediterrâneo, mas na realidade fazem a rota Novorossiysk –Tartus.

Os navios que mais vezes fizeram a rota do Bósforo em direção ao mar Mediterrâneo foram “Kaliningrado” – 10 vezes em 2014, “Novocherkassk” (9 vezes em 2014, 8 em 2015). A manutenção técnica da frota russa em Tartus é assegurada pelas duas docas flutuantes da frota do Mar Negro: PM-56 e PM-138, que se trocam à cada 6 meses.

Em menos de três anos de 2013-2015, graças ao projeto de dados Bosphorus Naval News, podemos falar sobre mais de cem fornecimentos de carga russa à Síria. Os dados sobre o movimento de navios também são fáceis de controlar através da rede social russa “VKontakte”, onde as esposas e os funcionários compartilham as coordenadas atuais de navios. A questão “síria” surge lá constantemente.

Além disso, visitas a Tartus são destacadas na imprensa regional russa (Kaliningrad, Novorossiysk, a cidade ocupada de Sebastopol) e nas páginas das agências noticiosas russas ITAR-TASS, RIA Novosti, e outras.

Nota-se que no caminho à Síria os navios navegam totalmente carregados – a linha de água é pouco visível nas fotografias. Mas nas fotografias na passagem do Bósforo na direção ao Mar Negro a linha de água está completamente visível – os navios já estão vazios.

Sobre a natureza da carga pouco se sabe, mas desde o verão de 2015 os navios russos começaram atravessar o Bósforo com equipamentos militares expostos no convés dos navios. Cobertos de lonas ou sob a rede de camuflagem, os equipamentos russos foram capturados pelos objetivos de agências noticiosas. Assim, o mundo inteiro soube da existência de grande navio de desembarque “Nikolai Filchenkov”.
O navio russo "Nikolay Filchenkov" na passagem pelo Bósforo
E se nos navios do Projeto 1171 é possível colocar as cargas no convés, foi particularmente surpreendente que alguns dos contentores foram colocados no convés dos navios do Projeto 775, onde praticamente não existe o espaço útil. Parece que nos últimos dias os russos sentem o pânico logístico. A transferência de cargas militares à Síria é realizada de forma mais intensiva. Aparentemente, as forças de Bashar al-Assad necessitam urgentemente de reforços.

Como resultado, perante o olhar de todo o mundo, a Rússia fornece quase abertamente armas ao regime de Assad. Nos últimos anos, estas entregas apenas aumentaram. Como resultado, no Oriente Médio temos milhões de refugiados, centenas de milhares de mortos e a instabilidade geral na região produtora de petróleo. Mas a comunidade internacional, só agora, quatro anos depois começa à reparar quem coloca a “lenha na fogueira” da guerra.

Até a lenta burocracia europeia começa agir. E, gradualmente, corta a capacidade da Rússia de fornecer a carga via aérea, o que significa que em breve, as passagens dos grandes navios de desembarque russos, através do Bósforo, se tornarão ainda mais frequentes.

Dessa maneira, enquanto a economia da Rússia está enfrentando uma carga pesada de sanções ocidentais pela ocupação da Crimeia e da guerra travada no leste da Ucrânia, a liderança russa continua a gastar milhares de milhões de rublos para manter no poder o regime de Bashar al-Assad.

Afundando-se em uma guerra, o Kremlin se lança às aventuras militares no outro conflito. Como resultado, a “carga 200” com os militares russos mortos agora irá chegar não apenas da Ucrânia, mas também da Síria.

Os materiais e as estatísticas adicionais podem ser vistos em InformNapalm.org
c) Autoria de Anton Pavlushko especificamente para InformNapalm.org. A cópia, utilização total ou parcial de materiais só com a referência do autor e da página InformNapalm.org
c) Tradução portuguesa @Ucrânia em África

1 comentário:

Anónimo disse...

Ta explicado porque o conflito na Ucrania esta perdendo intensidade. Não e porque os terroristas estão respeitando o acordo, mas porque a Russia já esta envolvida em um outro conflito.