Entre as coisas que a
minha mãe não gostava, estavam o borsch verde de urtica, águas-neves e os
alemães. Porquê os alemães, eu entendia desde pequeno. Sobre o borsch e águas-neves
mãe explicou quando eu comecei a ganhar o cabelo grisalho e ela deixou de ter
medo.
De borsch de urtica ela
ficou saciada desde 1933. As águas-neves faziam ninhos na estepe, os ninhos tinham
muitos ovos que eram tão amargos, que a mãe, os lembrando muitos anos depois, cuspia
à maneira masculina. Tantos ovos que ela bebeu.
E mais algumas coisas, vindas
daqueles tempos, que a mãe não gostava e não sabia explicar porquê. Um deles
era Demyd, o nosso vizinho. Vivíamos apertadinhos, as nossas janelas olhavam
para as janelas dele. Numa das janelas eles tinham um brinquedo – comboio com
as rodas vermelhas. E as nossas crianças invejavam os deles.
Quando os nossos comiam
borsch de urtica, Demyd não quis. Ele levou a sua família, nove almas, para o
quintal e lhes disse que sabia onde existia uma maquina-maravilha: bastava se
deitar debaixo dela que os ravioli cairão na sua boca. O brinquedinho –
comboiozinho levaram consigo. Chegaram à aldeia vizinha, se deitaram uns ao
lado dos outros no campo pastorício e morreram lá mesmo, todos os nove.
Naquele ano na aldeia
morreram duas mil pessoas.
A mãe contava sobre
isso de uma maneira zangada. Como se fosse uma morte errada, inalcançável, como
se fosse aquele brinquedo na janela do vizinho. A mãe dizia: “Estúpido Demyd!” –
muito diferentemente de todos os outro. Embora sabia os nomes de todos os
aqueles que morreram naquela ano. Eram dois mil, dez vezes mais dos que
desapareceram mais tarde na II G.M. E ai eu perguntava:
— Mamã, porquê você não
gosta dos alemães, se os nossos mataram dez vezes mais?
— Mas foram os nossos! –
respondia a mãe candidamente.
Eu dizia que estes “nossos”
deveriam ser enforcados e ai ela chorava. Agora não a pergunto sobre isso. Ela
me visita nos sonhos raramente e eu não quero ver ela a chorar.
por: Valeriy Zhezhera
Fonte: Gazeta.ua
Bónus
Este vídeo faz parte do
drama “Grande Deus”, abordando a história da criação do hino religioso “Quão
Grande Tu És”. O texto foi retirado do diário e das anotações do jornalista
britânico Gareth Jones, que denunciou Holodomor ao mundo.
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