sexta-feira, dezembro 10, 2010

Dez bravos. Os dissidentes ucranianos

19 de novembro de 1989, em memória de Yuriy Lytvyn, Vasyl Stus e Oleksa Tykhyy
O Grupo Ucrânia – Helsínquia (UGG) foi fundado em Novembro de 1976 para monitorar o estado dos direitos humanos na Ucrânia soviética. O grupo estava activo até 1981, quando todos os seus membros foram presos pelas autoridades da URSS.

O objectivo do grupo era monitorar o cumprimento do governo soviético dos Acordos de Helsínquia, garantir a plenitude dos direitos humanos aos cidadãos. O grupo baseava a sua viabilidade jurídica na Acta Final de Helsínquia, Princípio VII, que estabeleceu o direito dos indivíduos de conhecer e agir segundo os seus direitos e deveres.

No dia 9 de Novembro de 1976 Mykola Rudenko na conferência de imprensa no apartamento do Alexander Galich em Moscovo (em Kyiv não residia nenhum jornalista estrangeiro acreditado), informou oficialmente sobre a criação do Grupo cívico ucraniano de promoção e implementação dos acordos de Helsínquia.
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Apenas duas horas depois, as janelas do seu apartamento em Koncha-Zaspa, nos arredores de Kyiv foram apedrejadas com tijolos. A sua esposa, Raisa Rudenko e outra dissidente ucraniana, Oksana Meshko que estavam naquele memento no apartamento tapavam as janelas com almofadas e cobertores, mesmo assim Oksana Meshko foi ferida no ombro. “Assim KGB, – brincava Rudenko, – festejou a criação do Grupo Ucrânia – Helsínquia”.
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O meio do Grupo Ucrânia – Helsínquia era bastante amplo e heroicamente resistente. Eram ex-presos políticos, seus familiares e amigos, jovens que não queriam mais sufocar na atmosfera falsa da ideologia oficial do “comunismo científico”.

Em Julho de 1988, os antigos membros do Grupo Ucrânia – Helsínquia, Vyacheslav Chornovil, irmãos Mykhaylo e Bohdan Horyn proclamaram a criação do União Ucrânia – Helsínquia (UHS), a primeira organização política na URSS, que liderou a luta pela independência nacional e pelos direitos humanos na Ucrânia.

Mykola Rudenko foi o primeiro Presidente e Fundador do (UGG). Para homenageá-lo, o escritor americano de ficção científica Arthur C. Clarke deu nome a uma das personagens do seu livro “2010 Odisseia no Espaço”. Após 10 anos nos campos de concentração soviéticos ele emigrou para Alemanha e daí para os EUA. Em 1988 foi lhe retirada a cidadania soviética. Em 1990 voltou a Ucrânia, onde participava na vida política e social. Ganhou o prémio Shevchenko de Literatura, em 2000 recebeu o título de Herói da Ucrânia. Morreu em 2004 em Kyiv.

Oles (Oleksandr) Berdnyk foi escritor de ficção científica. Combateu na II G. M., foi ferido. Prisioneiro político soviético em 1949-1955 e 1979-1984; foi o autor de vários documentos do UGG. Traiu o UGG ao troco da sua libertação da cadeia em 1984. Já em liberdade escreveu cerca de 15 livros de ficção. Morreu em Kyiv em 2003.

Dr. Ivan Kandyba, jurista. Co-fundador da União dos Trabalhadores e Camponeses Ucranianos, pelo que em 1961 foi condenado à 15 anos de campos prisionais. Prisioneiro político entre 1981 – 1988. Em 1990 criou o grupo político “Independência Estatal da Ucrânia". Foi o fundador e editor do jornal da organização: "Nação Invencível". Dirigiu o partido político “Organização dos Nacionalistas Ucranianos na Ucrânia.” Morreu em 2002 em Lviv.

Dr. Levko Lukyanenko, jurista. Co-fundador da União dos Trabalhadores e Camponeses Ucranianos, pelo que em 1961 foi condenada à morte, pena substituída por 15 anos de campos prisionais. Juntou-se à UGG em 1976. Condenado em 1977 aos 10 anos de campos prisionais e 5 anos de exílio. No total, passou 27 anos nos campos de concentração soviéticos. O embaixador da Ucrânia no Canadá em 1992 – 1993. Herói da Ucrânia. Vivia nos arredores de Kyiv, morreu em julho de 2018.

Dra. Oksana Meshko, química. O seu pai foi fuzilado pelo regime soviético, um dos filhos combateu e morreu nas fileiras do UPA, outro foi o dissidente Oles Serhienko. Em 1947 foi acusada de preparar o atentado para assassinar Khrushchev, sentenciada aos 10 anos de campos prisionais. Em 1980 Meshko foi compulsivamente internada no hospital psiquiátrico durante 75 dias. Foi presa pela KGB aos 76 anos de idade e condenada à 6 meses de prisão e cinco anos de exílio. Em 1989 – 1990 participa activamente na vida política ucraniana. Morreu em 1991 em Kyiv, oito meses antes da proclamação da Independência da Ucrânia.

Dr. Mykola Matusevych, historiador. Expulso da Faculdade da História da Universidade de Kyiv e mais tarde preso pela filiação na UGG, acusado de se dedicar à “agitação e a propaganda anti-soviética” e “hooliganismo”. Sem ser ouvido no julgamento foi condenado à uma pena de 7 anos de campos prisionais, mais 5 anos de exílio. Vive na província de Kyiv.

Eng° Myroslav Marynovych. Foi preso em 1977 pela sua filiação na UGG, sentenciado à 7 anos de prisão e 5 de exílio. Fundador da Amnistia Internacional na Ucrânia. Um dos publicitários e teólogos mais respeitados da Ucrânia, é Vice-Reitor da Universidade Católica Ucraniana. Vive em Lviv.

Dra. Nina Strokata, microbiologista. Esposa do ex – prisioneiro político Sviatoslav Karavanskiy: 1944-1960 e 1965-1978. Por razões políticas foi despedida do Instituto Médico de Odessa em 1971. No mesmo ano foi presa, acusada de “difundir o samizdat ucraniano”, de escrever a carta em defesa dos dissidentes e de não repudiar publicamente o seu marido. No início de 1972 foi novamente presa e, posteriormente, condenada aos 4 anos de prisão. Em Novembro de 1979, após a sua libertação, juntamente com o marido emigrou para os EUA. Morreu e foi sepultada em Denton (Texas).

Dr. Oleksiy Tihiy, filósofo. Graduado pelo Departamento de Filosofia da Universidade Estadual de Moscovo, estudou no Instituto Agrário de Zaporizhia e Instituto da Engenharia de Transporte de Dnipropetrovsk. Trabalhou na construção civil, foi professor de física, matemática e língua ucraniana, bombeiro. Preso em 1957 por protestar contra a ocupação soviética da Hungria. É acusado de “agitação anti-soviética” e “difamação do partido comunista soviético e da realidade soviética” e punido com sete anos dos campos de trabalhos forçados e 5 anos de privação de direitos civis. Em 1977 foi condenado à 10 anos dos campos de trabalhos forçados e 5 anos de exílio. Morreu em 1984 no hospital prisional de Perm (actual Rússia). Em 1989 a sua campa foi transladada para a Ucrânia, juntamente com as sepulturas dos dissidentes ucranianos Vasyl Stus e Yuri Lytvyn.

General Petro Hrygorenko. Membro fundador do Grupo Ucrânia – Helsínquia e Moscovo – Helsínquia. Nascido no sei de uma família camponesa trabalhou como mecânico, engate carro nos caminhos-de-ferro, bombeiro e condutor de locomotiva. Criou o núcleo da Juventude Comunista (Komsomol) na sua aldeia em 1922, foi delegado ao Congresso do Komsomol de 1930, membro do Comité Central do Komsomol da Ucrânia em 1929-1931. Desde 1927 é membro do Partido Comunista. Estudou na Faculdade de Engenharia Civil do Instituto de Tecnologia em Kharkiv (1929-1931). A partir de 1931 abraça a carreira militar, é graduado pela Academia Militar de Engenharia de Kuibyshev, em 1934-1937 ocupava as posições do comando nas Forças Armadas no Distrito Militar de Belarus. Em 1939-1943 serviu no Extremo Oriente, participou na Batalha de Khalkhin Gol (1939). Em 1943-1945 está nas frentes da II G. M., ferido duas vezes. Terminou a II G. M. com a patente de coronel e Chefe do Estado-Maior da Divisão. Foi condecorado com a Ordem de Lenine, duas Ordens da Bandeira Vermelha, Ordem de Estrela Vermelha, Ordem da Guerra Patriótica e seis medalhas. No Outono de 1963 organizou o grupo clandestino “União de Luta pela Revitalização do Leninismo”. Em 1964 é detido e encarcerado pelo KGB. Recusou a oferta do chefe da KGB V. Semichastny de “arrepender-se” para evitar a prisão e julgamento; é enviado para o exame psiquiátrico forense no tristemente famoso Instituto Serbski. Em 19/04/1964 foi considerado como “impossível de julgamento” com a diagnose de: “desenvolvimento da personalidade paranóica, decorrente de traços de personalidade psicopática”. Pela decisão do Colégio Militar do Tribunal Supremo da URSS foi enviado ao tratamento psiquiátrico compulsivo, foram lhe retirados todos os patentes militares. Apoiou activamente a luta dos Tártaros da Crimeia pelo direito de retornar à pátria, da onde foram deportados em 1944 pela decisão de Stalin. Em 1970 e 1973-1974 é novamente submetido ao tratamento compulsivo no hospital psiquiátrico. Em Novembro de 1977 recebeu a permissão de viajar aos EUA para o tratamento médico. Nos EUA absteve-se de quaisquer declarações políticas, mas pelo decreto do Presídio do Soviete Supremo de 13 de Fevereiro de 1978, foi lhe retirada a cidadania soviética pelas “acções que comprometem o título de cidadão da URSS”. No exílio, finalmente abandonou as ideais comunistas, tornou-se o membro activo da comunidade ucraniana nos EUA, crente da igreja ortodoxa ucraniana. Sepultado no cemitério ucraniano de Bound Brook em New Jersey. Pelo decreto do presidente russo Boris Yeltsin, em 1993 Petro Hrygorenko foi postumamente reintegrado no posto de major – general. O seu nome foi dado à avenida de Kyiv, praça em Lviv e várias ruas na Crimeia.

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