terça-feira, outubro 09, 2007

Ucraniana – primeira santa da América Latina

Por: Wilan Santin

Chamada da “mártir de Joaquim Távora”, a professora Maria Aparecida Beruski* que morreu em 1986, junto com oito crianças, na pequena escola onde lecionava, poderá agora ser proclamada a primeira santa ortodoxa da América Latina

''Esta é uma história que faz arder meu coração''. É assim que a professora Maria Miskalo responde quando questionada sobre a sua sobrinha, a também professora Maria Aparecida Beruski, que morreu em 1986, junto com oito crianças da escola onde lecionava, na Colônia São Miguel, na cidade de Joaquim Távora, no estado de Paraná.
A tragédia foi manchete da FOLHA DE LONDRINA em 5 de Abril daquele ano, o dia seguinte ao acidente e ganhou destaque na imprensa brasileira. O fogo começou com a explosão de uma botija de gás, que era utilizado em um fogareiro, posicionado na única porta da escola, onde a própria professora fazia a sopa para o lanche das crianças.
''A escola era como se fosse um salão. De repente, a botija explodiu e as chamas se espalharam muito rapidamente. O calor era insuportável. Eu era um garoto muito ligeiro e consegui sair por uma pequena janela. Já do lado de fora, puxei outros colegas. Mas, infelizmente, não foram todos que conseguiram fugir'', relembra o agricultor Celso Leonel Carvalho. Na época, ele tinha 12 anos e foi a primeira das cinco crianças que conseguiram se salvar. Hoje, ele trabalha em uma propriedade rural, que fica a poucos metros de onde era a escola e guarda na memória os tristes cenas do acidente.
O clima foi de comoção na cidade de Joaquim Távora durante um bom tempo após a tragédia. Porém, para a família da professora morta, que deve se tornar uma santa da igreja ortodoxa, a emoção fala mais alto até hoje, tanto que a sua mãe, Ana Miskalo Beruski, não faz qualquer comentário sobre o assunto.
''Ela tinha 27 anos. Era uma pessoa muito bondosa. Amava seus alunos. Já faz algum tempo, mas para nós parece que a tragédia aconteceu ontem. Minha sobrinha deu a vida por seus alunos. Vendo o prédio pegar fogo, ela preferiu ficar com as crianças, ajudando a salvar algumas, do que fugir das chamas. É uma mártir, mas agora o nosso bispo quer canonizá-la'', comemora Maria Miskalo.
Porém, quando a pergunta é sobre os milagres que já podem ter sido realizados por intermédio de sua sobrinha, a professora prefere ser comedida.
''Temos notícias de diversas pessoas que dizem ter recebido graças. Acredito que ela pode ter realizado milagres, mas tudo isso está mexendo demais com a nossa família, prefiro não dizer muito'', sintetiza.
De acordo com o bispo da Igreja Ortodoxa Ucraniana no Brasil, Dom Jeremias Ferens, a intenção é canonizar a mártir de Joaquim Távora o mais breve possível. ''Na Igreja Ortodoxa não existe a beatificação, o que acelera o processo para proclamar alguém como santo. Temos certeza de que a Maria Aparecida será a primeira santa ortodoxa da América Latina. Para isso, precisamos comprovar a existência de pelo menos dois milagres. Porém, já temos mais do que isso'', diz, entusiasmado.
Segundo o bispo, os casos mais excepcionais de milagres atribuídos à professora paranaense são de uma pessoa curada de alergia e de uma criança que tomou querosene por engano e escapou da morte. Ele relata ainda que um dossiê com todo o histórico da candidata à santa já está praticamente pronto e, após ser discutido no 11º Concílio da Igreja Ortodoxa Ucraniana da América do Sul, que aconteceu em Setembro de 2007, deve ser enviado para o Metropolitano dos Estados Unidos. De lá, o processo segue para o Patriarca da Igreja Ortodoxa, na Turquia. A resposta final pode demorar de um a três anos.
Ainda de acordo com o bispo ortodoxo, existe também a intenção de providenciar a canonização dos oito alunos que foram vítimas do incêndio. Essa notícia pegou de surpresa a agricultora Maria Bileski Marim, que perdeu sua filha, Alexandra, de apenas 7 anos, no acidente. ''Não sei o que dizer. Fico orgulhosa de saber que minha filha pode ser uma santa''.

* Segundo a historiadora da emigração ucraniana no Brasil, Dra. Oksana Borushenko, no início do século XX, trabalhou no porto de Paranaguá um polaco que "apolonesava" os apelidos ucranianos, daí o apelido Berushko transformou-se em Beruski.

p.s.
em memória do martírio da Maria Aparecida Beruski(ko), na cidade de Curitiba (estado de Paraná), no bairro Barreirinha, existe a rua Maria Aparecida Beruski , que faz a esquina coma a rua dos Alfeneiros.

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