sábado, julho 18, 2020

Pão no quotidiano do «socialismo desenvolvido soviético»

O engenheiro ucraniano Valerii Reshetniak tinha um hobbie secreto, ele filmava quotidiano das pessoas comuns das décadas de 1970-80, no auge do «socialismo desenvolvido soviético». Inclusivamente na sua pequena Pátria – região ucraniana de Sumy.

A primeira foto mostra o transbordo do pão de um camião/caminhão para a carroça puxada por cavalos, que deveria levar o pão às aldeias, onde o “transporte de pão” não chegava devido às péssimas vias de acesso. Estávamos no ano de 1987. Preste atenção às costelas salientes dos cavalos coletivos do kolkhoze / da fazenda colectiva.
Prestem também atenção às bandejas de pão no chão. Eles voltarão ao centro do distrito à padaria industrial e serão enchidos de pão novamente para serem levados para outras aldeias e vilas. Sem mencionar a poeira, a sujeira e os “presentes” do cavalo que balança a sua cauda. Tais eram os padrões sanitários da URSS no final do século XX.

A segunda foto – uma outra caroça numa outra vila. Pão lá dentro à granel. Normas sanitárias? Não, não ouvimos. Quais são as normas se o cavalo fedorento e magricela estiver carregando o pão? A propósito, notou como os aldeões soviéticos se vestiam? Mais uma vez, foi o ano de 1987. O início da Perestroika comunista. Seria interessante de saber como eles estavam pensando para “reconstruir” tudo isso?

A terceira foto é um close-up. 1987, uma outra vila, outra carroça, outros cavalos, pão diferente. Mas, mesmo assim, à granel numa lona suja numa caroça, que antes disso carregava tudo, desde silagem ao adubo, e depois carregaria novamente. Até o próximo “transportador de pão” vindo do distrito.
Outros cavalos com as suas caudas por perto. Hoje alguém correria o risco de provar  um pedaço de pão por “apenas 22 copeques” debaixo da cauda do cavalo?

E as viaturas não entravam nas próprias aldeias, porque as estradas eram intransitáveis. Na quarta foto – um professor volta para casa do trabalho. Do dia, ainda era uma tarefa possível, mas depois de escurecer, apenas as botas de borracha podiam socorrer.
A propósito, no outono de 1982 morreu o avô do autor deste texto. Ainda tenho uma cena diante dos meus olhos – um trator de lagarta puxa um carro com um caixão até um cemitério ao longo de uma estrada semelhante e todos os presentes caminham vagando – todos em botas de borracha. Tudo na Donbas, à apenas três quilómetros de uma cidade mineira, de cem mil habitantes...

E quando algum amante do passado soviético lhe falar sobre o atual declínio das vilas ucranianas, entenda – isso é exatamente o legado da URSS. E em muitas aldeias, pela primeira vez em sua história, surgiram pontos de farmácia e postos médicos nos últimos anos.

E também pergunte ao saudosista soviético o significado do termo “liquidação de aldeias não promissoras”. Por alguma razão, esses amantes do socialismo não gostam de se lembrar destas coisas.

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