Artista
ucraniano-espanhola Yevguenia Yepez-Vinueza, presa pelos separatistas de
Donetsk e acusada de “desrespeitar os símbolos” russos e separatistas acabou por
ser libertada do seu cativeiro por pressão conjunta da comunidade internacional.
Yevguenia
Yepez-Vinueza (de solteira Lukienko) é natural de Donetsk. No final dos anos 1990,
ela e o marido, cidadão espanhol, se mudaram para Europa. Desde 2011, Yevguenia
nunca esteve em sua cidade natal, mas chegou em Donetsk ocupada no final de
2019 para cuidar do apartamento familiar naquela cidade. No entanto, devido à
quarentena e fronteiras fechadas ela não teve tempo de sair.
No
dia 3 de junho, nas vésperas do dia da Rússia, uma bandeira tricolor russa e a
bandeira da dita “dnr” foram penduradas, sem a sua permissão, na sua varanda. A
artista quebrou as duas, as atirando ao lixo, pelo que foi presa pelos
separatistas, ameaçada com anos de prisão.
Detenção
Na
manhã de 3 de junho ela se deparou com as “autoridades” municipais que estavam
pendurar na sua varanda a bandeira russa.
Yevguenia Yepez Vinuesa, em Donetsk na Ucrânia, em imagem cedida pela família |
“Uma
declaração política está sendo pendurada na minha varanda em meu nome! Gritei
aos trabalhadores municipais: “Venham cá e tirem isso! Só eu posso pendurar
algo na minha própria varanda!” Os pedi por bem, mas eles recusaram. Depois
tirei-a eu própria, tentei atirar [a bandeira] por dentro do guindaste deles, mas
ela passou voando. Mesmo assim, durante os interrogatórios, fui acusada de
jogar a bandeira na calçada! Provavelmente, era necessário juntar uma pedra à bandeira
e atirar dentro do guindaste”, está se rindo Yevguenia.
No
entanto, naquela mesma tarde ela encontrou na sua varanda uma nova bandeira –
desta vez a bandeira separatista da dita “dnr”.
“A
minha dignidade humana se tornou acima da razão. Eu pensei, bem, eles me poderão
assustar, passam uma multa e é isso”, lembra Yevguenia.
Dado
que a bandeira estava firmemente presa à varanda, tinha que rasgá-la.
Uma
hora depois bateram na sua porta. Primeiro era o suposto vizinho, depois
supostos polícias. Antes de abrir, Yevguenia ligou para o marido para que este
saiba o que estaria acontecer com ela.
Quando
a abriu a porta viu oito funcionários do chamado “mgb”, a cruel e sangrenta secreta
separatista. Eles a empurrada para dentro, interrogando dentro da sua casa por
duas horas, a acusando de “obstruir e não cooperar com a investigação”, para
por fim deter e levar à tristemente famosa cadeia “Izoliaciya” (Isolamento), o
GULAG dos russo-separatistas, sob acusação de insultar os símbolos “estatais”:
1
noite em “Isolamento” e 16 dias no centro de detenção comum
Foi
levada para a prisão com um saco na cabeça para não poder ver os rostos dos seus
raptores.
“Eram
pessoas muito agressivas. Além disso, de um nível [cultural baixo] que não sequer
conseguiam articular uma questão. Apenas [preferiam] palavrões após os
palavrões”, conta a artista ucraniana.
A
cela tinha dois por dois metros – exatamente o comprimento do beliche, sem
janelas e com um balde em vez de um vaso sanitário. Assim que Yevguenia descreve
sua noite em “Isolamento”.
“Eles
me levaram para a cela e disseram para dormir. Entendi então por que é
necessário usar o momento e dormir, porque das seis da manhã às dez da noite é
proibido ficar deitada, somente é possível ficar de pé ou sentada”.
Após
o segundo interrogatório, Yevguenia foi transferida para o Centro de Detenção
Temporária. Depois de “Isolamento”, ela chama este centro de “resort” e “paraíso”.
Havia uma cela para três detidas com janelas, um banheiro com uma divisória e os
guardas não eram brutamontes.
Durante
os restantes 16 dias de detenção solitário Yevguenia nunca mais foi convocada
para interrogatórios.
Libertação
Em
20 de junho, às dez horas da manhã, um segurança entrou na cela e disse-lhe
para sair com suas coisas. Na saída, ela foi recebida por representantes do dito
“mgb”.
“Quando
os vi, eu disse – vou ter um ataque cardíaco agora, me diga o que vocês querem
e o que [tenho que] esperar. E de repente eles me dizem que agora tudo vai
acabar bem – somos generosos com você e vamos ao tribunal. E, naquele momento,
percebi que a reação lá fora [dos territórios ocupados] foi mais forte do que
eu poderia imaginar”, se lembra.
O
marido de Yevguenia, Hannibal, apelou para muitas autoridades durante esses
dias. Entre eles estão o Ministério dos Negócios Estrangeiros / das Relações
Exteriores da Espanha, as embaixadas espanholas em Kyiv e Moscovo/u, a OSCE,
vários organismos da ONU, a Cruz Vermelha, entre outras, informa a TV ucraniana
Hromadske.ua
“Na
manhã de 20 de junho, eles me levaram a um julgamento fictício e não me
acusaram mais de ofender os símbolos do Estado, mas de desordem pública.
Entendi que havia uma mobilização a meu favor e que isso havia mudado a atitude
dos meus carcereiros. O juiz, que parecia cansado, aplicou uma multa de 238
rublos (cerca de três euros) e me perguntou se eu tinha dinheiro para pagar.
Eles não lhe deram tempo para pagar. “Os agentes de segurança me levaram ao
apartamento e me deram 20 minutos para recolher minhas coisas. Eles não me
deixaram tirar fotos dos meus avós ou meus quadros e eu só levei os objetos
inúteis ”. Com eles carregados, os agentes a deixaram na “linha de contato” [divisória
entre Ucrânia ocupada e Ucrânia livre]. “Estou certa de que minha libertação
foi influenciada pela mobilização ao meu favor por organizações internacionais
e embaixadas, e também porque meu marido é espanhol. Sou privilegiada porque
tenho alguém que lutou por mim, mas há outras pessoas trancadas aqui que não
têm ninguém lá fora”, diz ela em entrevista telefónica ao El
Pais.
Já
após a sua libertação, os canais da TV ucraniana “112” e “ZIK”, divulgaram as
notícias de que Yevguenia está supostamente pessoalmente grata pela sua libertação ao
oligarca ucraniano pró-russo e padrinho do Putin – Viktor Medvedchuk.
“É
uma mentira absoluta. Porque, antes de tudo, ninguém falou comigo. [...] Não
agradeci e não vou agradecer ao Viktor Medvedchuk, porque seria o mesmo que agradecer
ao presidente russo Vladimir Putin”, disse
ela.
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