Korolev na prisão moscovita de Butyrka em 29/02/1940 |
Engenheiro
nascido na Ucrânia, o pai do programa espacial soviético, Sergei Korolev, passou
pelos campos de concentração de GULAG, sobrevivendo graças ao acaso, a sua
morte é o resultado direto dos espancamentos sofridos às mãos dos
investigadores do NKVD.
Maria Fursa, avó materna do Sergei Korolev, cidade de Nizhyn (Ucrânia), 1885 foto @Oleg Gutsulyak |
CV manuscrito (em ucraniano) do Korolev na epoca dos seus estudos no Instituto Politécnico de Kiyv. 3. Nacionalidade: Ucraniana |
Preso
no dia 27 de junho de 1938, sob acusação de sabotagem, já no dia 25 de setembro do mesmo ano Korolev foi
colocado na lista do julgamento do Colégio Militar do Tribunal Supremo da URSS. Na lista,
aprovada pelo Estaline, Molotov, Voroshilov e Kaganovich, Korolev estava na 1ª
categoria dos inimigos do povo (a de fuzilamento). Durante o julgamento, ele
negou todas as acusações arrancadas lhe sob a tortura e por alguma razão
desconhecida teve a sorte: o fuzilamento foi substituído pelos 10 anos de
prisão numa muna de ouro na longínqua Kolymá.
Na cadeia moscovita de Butyrka em 1938, no momento da sua prisão |
Na
mina de ouro Kolymá, o nosso herói sobreviveu acidentalmente. Além da desnutrição
sistemática e escorbuto, frio severo e trabalho exaustivo, lá reinava o terror
dos criminosos. Os criminosos do delito comum, vistos pelo regime soviético
como “socialmente próximos”, exploravam impunemente os “inimigos do povo”, à
sua custa libertado os “seus” do trabalho físico pesado, roubando as rações dos
“políticos”, para se alimentar melhor. A tentativa da “revolta” do solitário orgulhoso
foi facilmente esmagada pelas condições do encarceramento. Ele se tornou um “pavio” (termo usado nas cadeias e
campos de concentração soviéticos para os prisioneiro cuja vida estava
prestes se esgotar), ele até deixou de ir ao trabalho, porque já não conseguia
andar: “Basta me inclinar – caio. A língua está inchada, as gengivas sangram,
dentes caíram por causa de escorbuto”. Dado que o slogan soviético dizia, “quem
não trabalha, não come”, mesmo a sua ração miserável foi reduzida. Perante o
salvador inesperado que a reconheceu o colega talentoso, apareceu um moribundo
semiacabado: “nos trapos inimagináveis estava deitado um homem terrivelmente
magro, pálido e sem a vida” (fonte).
A
sua entrada na sharashka (bureau
de construção misturada com a cadeia) de Tupolev, foi a salvação de Korolev.
Mas GULAG para sempre o tornou “céptico, cínico e pessimista”, que frequentemente
empregava a frase preferida: “matarão sem o necrológio”. Outro engenheiro
soviético que passou pelo GULAG e pelo sistema de “sharashkas”, Leonid Kerber, recorda uma
outra frase do Korolev: «Olhos da [Témis] estão vendadas,
cometerá simplesmente um erro, hoje estás resolver as equações diferenciais, mas
amanhã é a Kolymá» (in Sharaga de
Tupolev). Em 1965, pouco antes da sua morte, Korolev foi visitado pelos amigos
dos tempos da sharashka de Tupolev. Apontando aos guardas no portão, ele, Académico, duas
vezes Herói do Trabalho Socialista, disse: “Sabem, rapazes, às vezes acordo
durante a noite, fico deitado e penso: talvez já apareceu alguém que deu a
ordem e os mesmos guardas educados, vão entrar aqui descaradamente, dizendo: “Então,
cabrão, prepare-se com as suas coisas!”
A caneca de alumínio que Korolev usava no GULAG |
Korolev
foi operado pessoalmente pelo ministro da saúde da URSS. Durante a cirurgia, o
anestesiologista teve a situação imprevista, para aplicar anestesia, foi
necessário introduzir o tubo e o doente não conseguia abrir bem a boca. Uma vez
quebrados nos interrogatórios, os maxilares do paciente se uniram inadequadamente, e ele
estava sempre nervoso antes de uma visita ao dentista (fonte).
O monumento do Sergei Korolev na cidade de Zhyromyr, atualidade |
Sem comentários:
Enviar um comentário