A
jornalista da Aljazeera English, Ioana Moldovan, conta a história do Dmitry**, jovem do leste ucraniano que fugiu da região
e da Ucrânia após a sua mãe desaparecer nos territórios ocupados e ele próprio
for ameaçado pelo recrutamento militar compulsivo dos terroristas (versão
curta).
Natural
de Horlivka, o
jovem Dmitry (16) lembra que a sua mãe desapareceu num dos domingos na
primavera de 2014, quando a guerra ainda não tinha chegado à sua cidade. Simplesmente
saiu para procurar algo para comer e simplesmente nunca mais voltou...
Em
abril de 2014, os separatistas vieram à sua cidade. Eles hastearam a bandeira
da Rússia no edifício da polícia local e começaram à confiscar os apartamentos
e as viaturas de todas as pessoas que consideravam “de posses”. Estudante do
secundário, ele vivia com a mãe num apartamento separado, a família não era
rica, mas conseguia sobreviver.
“Lembro
me as pessoas espreitavam a chegada [do exército ucraniano], perguntando: “Quando
eles vão chegar? Quando?, conta Dmitry.
Coisas
não pareciam muito sérias no início, mas depois começaram os combates de
artilharia, um dia o seu apartamento foi atingido, graças à Deus, ninguém
sofreu, apenas todos os bens foram perdidos.
A cave
No
dia em que a mãe não voltou, o jovem ficou sozinho: “minha mãe sempre me tratou
muito bem, não consigo imaginar que ela me deixou. Alguma coisa, seguramente
aconteceu com ela e eu temo a pior,” – diz Dmitry.
Após
a acalmia dos combates ele foi procurar pela mãe, primeiro nas vizinhanças,
depois ligando aos familiares no outro bairro, que não atenderam a sua chamada,
mais tarde na cidade inteira. Sem nenhum resultado.
Sobrevivendo
sozinho por quase um ano na cave do seu próprio edifício, em algum momento ele
começou receber ajuda dos separatistas. Um dos vizinhos estava servir os
terroristas da dita “dnr”, tentando aliciar Dmitry para se alistar, poise eles precisavam
de soldados. “Temos as armas que bastem,” – dizia homem, – “mas precisamos é
dos homens para combater”. Dmitry se recusou até que um dia recebia a sms do
mesmo recrutador: “Se você não estará connosco, você irá morrer.”
No
mesmo dia Dmitry deixou Horlivka, levando consigo um par de calças, meias e celular,
pedindo 300 euros emprestados ao um outro vizinho que lhe costumavam dar alguma
comida, na esperança de um dia devolver o valor emprestado.
O posto do controlo ucraniano no leste da Ucrânia |
Ele
consegui passar o posto de controlo separatista à pé, era mês de agosto, por
isso dormia nos campos, sentindo o cheiro dos corpos mortos em decomposição. À
pé, percorreu 70 km até a cidade de Krasnoarmiysk, de lá foi levado de boleia para
Dnipropetrovsk. Depois Dmitry achou um camião TIR, cujo motorista ia à Áustria,
lavando-o à Roménia via Moldova.
Fora
da Ucrânia
Por
100 euros, o motorista o deixou em Suceava, no nordeste da Roménia. De lá, o jovem
foi de autocarro até a cidade de Cluj no oeste do país, passando pela Oradea até
que finalmente foi apanhado na fronteira com a Hungria.
Dmitry
conta que a sua avó era romena, casada com um ucraniano, e que aparentemente se
falava romeno na família. A polícia húngara pensou que ele era romeno da
Moldova, pois se comunicava nessa língua. Quando jovem disse que era de
Donetsk, ele foi recambiado à Roménia e entregue à uma ONG em Timisoara.
Nada
à perder
Dmitry
pretende ficar na Roménia, quer terminar o colégio e se tornar o engenheiro
elétrico. O jovem quer continuar à procurar pela mãe.
O campo agrícola algures no leste da Ucrânia: perigo, minas! |
“Minha
mãe desapareceu, minha casa desapareceu, a maioria dos amigos desapareceu, uns
fugiram, outros lutam pelos separatistas. Pessoas dizem que essas experiências
me tornaram único. Sim, realmente sou único, mas à que custo?”, diz Dmitry, tremendo
do trauma das suas memórias.
* O
título do artigo é de responsabilidade do nosso blogue
** O nome do rapaz é fictício para preservar
a sua identidade [o que certamente irá dificultar a procura pela sua mãe...]
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o texto completo em inglês:
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