segunda-feira, abril 04, 2016

A fuga do recrutamento compulsivo dos terroristas de Donbas*

A jornalista da Aljazeera English, Ioana Moldovan, conta a história do Dmitry**, jovem do leste ucraniano que fugiu da região e da Ucrânia após a sua mãe desaparecer nos territórios ocupados e ele próprio for ameaçado pelo recrutamento militar compulsivo dos terroristas (versão curta).

Natural de Horlivka, o jovem Dmitry (16) lembra que a sua mãe desapareceu num dos domingos na primavera de 2014, quando a guerra ainda não tinha chegado à sua cidade. Simplesmente saiu para procurar algo para comer e simplesmente nunca mais voltou...
Em abril de 2014, os separatistas vieram à sua cidade. Eles hastearam a bandeira da Rússia no edifício da polícia local e começaram à confiscar os apartamentos e as viaturas de todas as pessoas que consideravam “de posses”. Estudante do secundário, ele vivia com a mãe num apartamento separado, a família não era rica, mas conseguia sobreviver.

“Lembro me as pessoas espreitavam a chegada [do exército ucraniano], perguntando: “Quando eles vão chegar? Quando?, conta Dmitry.

Coisas não pareciam muito sérias no início, mas depois começaram os combates de artilharia, um dia o seu apartamento foi atingido, graças à Deus, ninguém sofreu, apenas todos os bens foram perdidos.

A cave

No dia em que a mãe não voltou, o jovem ficou sozinho: “minha mãe sempre me tratou muito bem, não consigo imaginar que ela me deixou. Alguma coisa, seguramente aconteceu com ela e eu temo a pior,” – diz Dmitry.
Após a acalmia dos combates ele foi procurar pela mãe, primeiro nas vizinhanças, depois ligando aos familiares no outro bairro, que não atenderam a sua chamada, mais tarde na cidade inteira. Sem nenhum resultado.

Sobrevivendo sozinho por quase um ano na cave do seu próprio edifício, em algum momento ele começou receber ajuda dos separatistas. Um dos vizinhos estava servir os terroristas da dita “dnr”, tentando aliciar Dmitry para se alistar, poise eles precisavam de soldados. “Temos as armas que bastem,” – dizia homem, – “mas precisamos é dos homens para combater”. Dmitry se recusou até que um dia recebia a sms do mesmo recrutador: “Se você não estará connosco, você irá morrer.”
No mesmo dia Dmitry deixou Horlivka, levando consigo um par de calças, meias e celular, pedindo 300 euros emprestados ao um outro vizinho que lhe costumavam dar alguma comida, na esperança de um dia devolver o valor emprestado.
O posto do controlo ucraniano no leste da Ucrânia
Ele consegui passar o posto de controlo separatista à pé, era mês de agosto, por isso dormia nos campos, sentindo o cheiro dos corpos mortos em decomposição. À pé, percorreu 70 km até a cidade de Krasnoarmiysk, de lá foi levado de boleia para Dnipropetrovsk. Depois Dmitry achou um camião TIR, cujo motorista ia à Áustria, lavando-o à Roménia via Moldova.
  
Fora da Ucrânia

Por 100 euros, o motorista o deixou em Suceava, no nordeste da Roménia. De lá, o jovem foi de autocarro até a cidade de Cluj no oeste do país, passando pela Oradea até que finalmente foi apanhado na fronteira com a Hungria.

Dmitry conta que a sua avó era romena, casada com um ucraniano, e que aparentemente se falava romeno na família. A polícia húngara pensou que ele era romeno da Moldova, pois se comunicava nessa língua. Quando jovem disse que era de Donetsk, ele foi recambiado à Roménia e entregue à uma ONG em Timisoara.

Nada à perder

Dmitry pretende ficar na Roménia, quer terminar o colégio e se tornar o engenheiro elétrico. O jovem quer continuar à procurar pela mãe.
O campo agrícola algures no leste da Ucrânia: perigo, minas!
“Minha mãe desapareceu, minha casa desapareceu, a maioria dos amigos desapareceu, uns fugiram, outros lutam pelos separatistas. Pessoas dizem que essas experiências me tornaram único. Sim, realmente sou único, mas à que custo?”, diz Dmitry, tremendo do trauma das suas memórias.
* O título do artigo é de responsabilidade do nosso blogue
** O nome do rapaz é fictício para preservar a sua identidade [o que certamente irá dificultar a procura pela sua mãe...]

Ler o texto completo em inglês:

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