Os
nazis exterminaram milhões de ucranianos. Os ucranianos lutaram contra
o regime nazi com as armas nas mãos e foram vítimas deste regime desumano. Mesmo assim, persiste o
estereótipo pejorativo que descreve os ucranianos como os perseguidores e não
como as vítimas. Pelo menos assim afirmam as diversas correntes anti-ucranianas que se opõem
a independência e soberania da Ucrânia. Estas memórias irão ajudar a reverter a grande
mentira. Escritas pelo nacionalista ucraniano e sobrevivente do Holocausto, as
memórias guardam para a posterioridade a histórias da vida de alguns ucranianos
que se dedicaram à luta pela liberdade de Ucrânia.
Dr. Mykhailo H.
Marunchak, prisioneiro de Auschwitz № 120482
O livro de memórias de
Stefan Petelycky, chamado “Into Auschwitz for Ukraine” (ISBN 1896354165), pela
primeira vez foi publicado em Kyiv em 1999 pela editora Kashtan Press e
reeditado em 2008. O livro foi publicado em edições idênticas em inglês,
francês e ucraniano e conta a história pessoal do Stefan Petelycky e outros
prisioneiros ucranianos do hediondo campo de concentração nazi de Auschwitz-Birkenau.
Membro da Organização dos
Nacionalistas Ucranianos (OUN),
Stefan Petelycky (prisioneiro № 154922), passou 16 meses em Auschwitz, depois
foi transferido para o campo de concentração de Mauthausen
e mais tarde ao Ebensee. Denunciado
pela primeira vez aos nazis por um colaboracionista polaco, em Ebensee, já
moribundo, ele foi salvo do crematório por um outro polaco.
Nascido em maio de 1923
na Galiza ucraniana, Stefan Petelycky, recorda como os ucranianos ocidentais
recolhiam os alimentos para os seus irmãos do Leste durante o Holodomor, mas os
alimentos eram recusados pelas autoridades soviéticas, que afirmaram não “haver
a necessidade neles”. Sabe-se quantas vidas ucranianas poderiam ser salvas, se
as autoridades comunistas agissem em boa-fé.
O seu irmão mais velho,
Safron, foi assassinado em 1959, acusado de esconder os guerrilheiros do Exército
Insurgente Ucraniano (UPA), espancado até a morte pelos agentes da NKVD. Em 1938, aos 15 anos, Stefan
Petelycky, aderiu à juventude da OUN. No início as suas atividades eram simples,
distribuição de jornais e panfletos, colheita de donativos que população
ucraniana oferecia à resistência.
Em 1940 Stefan foi
despedido da cooperativa onde trabalhava pela sua recusa a aderir à juventude comunista
Komsomol. Após a invasão nazi, em novembro de 1942, Stefan foi informado que
Gestapo procurava por ele. Denunciado por um polaco como membro da OUN, Stefan
Petelycky foi preso pela Gestapo em maio de 1942. Algemado e espancado, Stefan
foi intensamente interrogado sobre as atividades da OUN. Preso na cadeia na
Lonckoho em Lviv, onde foi interrogado durante alguns meses, chegando a ser eletrocutado,
em outubro de 1943 ele foi enviado para o campo de concentração de Birkenau, também
conhecido como Auschwitz II.
Os circuitos do inferno
Moribundos, após os meses
de interrogações da Gestapo,
quando finalmente os prisioneiros políticos chegaram ao campo de concentração, logo
na entrada eles receberam “as boas vindas”, que consistiam em um espancamento
brutal, executado por outros presos, homens fortes armados com cassetetes, que
tinham as faixas vermelhas e amarelas nos braços e um triângulo verde no peito.
Colocado na barraca №
4, na primeira noite Stefan Petelycky e outros prisioneiros foram forçados à carregar a terra de um lado para outro, usando as suas próprias camisas como
sacos. Liberados apenas às duas horas de madrugada, eles foram obrigados a
dormir quatro homens em uma só cama. Na manha seguinte ele contou vários homens
falecidos, entre aqueles que tinham chegado na noite anterior.
Após alguns dias na
barraca № 4, Stefan e os seus companheiros conseguiram passar para a barraca №
7, ajudados pelo Bohdan Komarnytskyi, prisioneiro sénior, que sendo ucraniano, oficialmente era tido como polaco. Apenas uma semana depois de se instalar na
barraca, Stefan Petelycky e outros nacionalistas ucranianos (cerca de 150 em
todo o campo) foram transferidos ao bloco № 11 de Auschwitz. Cada bloco
daqueles possuía dois níveis habitacionais, o segundo nível era ocupado quase
exclusivamente pelos nacionalistas ucranianos. Por alguns dias Stefan tinha
como vizinhos um grande grupo de prisioneiros do exército soviético, na sua
maioria mulheres ucranianas, que cantavam as canções ucranianas à noite. Dias
depois todas elas foram fuziladas pelos nazis.
Algumas semanas mais
tarde, os “banderivtsi”
foram mais uma vez transferidos, desta vez para o bloco № 17. O grupo estava
muito unido, tentando salvar os seus companheiros, conseguindo-lhes os
trabalhos mais leves. Nem todos tiveram essa sorte, o próprio Stefan Petelycky foi
destacado para a construção da autoestrada de Sola Brucke, onde esteve até o
janeiro de 1944. O seu próximo trabalho foi na cozinha dos guardas da SS, onde
trabalhavam apenas Volksdeutsche (alemães étnicos), russos e ucranianos. Mas
depois de um dos funcionários Volksdeutsche tentar escapar, os nazis mudaram a
totalidade dos funcionários. De seguida, destacado para a lavandaria, Stefan
trabalhou lá até o dia 19 de janeiro de 1945, apenas 8 dias antes de libertação
do campo pelo exército soviético.
Setenta e cinco anos após a libertação de Auschwitz, os historiadores identificaram cerca de dois terços das vítimas judias do campo |
Em 21 de janeiro o
grupo chegou ao campo de concentração de Mauthausen, na Áustria. O campo era extremamente
frio, apinhado da gente e pareceu ao Stefan muito pior do que o próprio
Auschwitz. Em Mauthausen, Stefan recebeu o novo número prisional, № 120169, mas
já no dia 29 janeiro de 1945 foi transferido para o campo de Ebensee, que
descreve como “campo de morte”, onde trabalhou na construção do complexo subterrâneo,
onde eram fabricados os famosos mísseis V-2. Campo quase não possuía médicos,
nem a enfermaria, por isso cada prisioneiro adoecido era cruelmente abatido pelos
guardas nazis. Stefan assistiu pessoalmente várias mortes de italianos e
ucranianos soviéticos. Um dia, ele próprio foi brutalmente espancado por faltar
o trabalho até ficar inconsciente, pensando que chegou o seu dia final.
As condições de vida em
Ebensee eram tão duros, que a comida faltava até aos guardas alemães da SS, o
que fazia estes desinteressar-se por completo das condições da vida dos seus
prisioneiros. Em março de 1945 apenas 10 prisioneiros ucranianos saídos de
Auschwitz ainda ficavam vivos. Já no fim de abril, restava apenas Stefan. Ele
foi visto por um médico polaco, sobrevivente da Revolta da Varsóvia, que o
perguntou sobre a sua naturalidade. Sem saber porquê, Stefan disse em polaco que
é natural da cidade de Tarnow, da rua Sanguszka. Antes da guerra o médico
também vivia em Tarnów naquela
mesma rua. Médico lhe deu os comprimidos anti-inflamatórios e passou o atestado
que livrou Stefan da necessidade de trabalhar.
No dia 8 de maio de
1945 o campo de Ebensee foi libertado pelo exército americano. Dois dias antes,
em 6 de maio, ele foi descoberto por dois companheiros ucranianos, Hryhorii
Naniak e Oleksa Vintoniak, que vieram do campo de concentração de Menk para a
procura dos ucranianos sobreviventes. Stefan não se lembra das datas, nas
vésperas ele foi dado como morto e atirado para a pilha de corpos que
aguardavam a sua vez para serem queimados no crematório.
Retirados fora do
campo, os sobreviventes eram tratados pelos médicos americanos e enfermeiras
alemãs. Nas próximas três semanas Stefan continuava semi-inconsciente, até que
com ajuda de um médico jugoslavo conseguiu chegar às facilidades médicas geridas
pela Cruz Vermelha da França Livre. Procurando dar rumo à sua vida, Stefan optou por voltar ao campo de Ebensee, onde ucranianos Petró Mirchuk e Milena
Rudnytska organizavam um grupo de sobreviventes da Ucrânia. Através deste grupo, ele
recebeu a declaração das autoridades americanas, que confirmava que Stefan era o
prisioneiro político em Auschwitz.
Acreditando na eminente
III G.M., entre Ocidente e URSS, Stefan trabalhou para OUN por mais alguns anos,
desprendendo várias viagens arriscadas entre Áustria, Alemanha e Checoslováquia.
Compreendendo que Ocidente não iria apoiar a luta armada pela independência da Ucrânia,
em 1949 ele se casa com Sofia Kawchuk, pedindo a permissão da OUN, e emigra para
Canadá no fim de 1950. No seu novo país de acolhimento, Stefan continuou a participar
na vida política e social ucraniana (é um dos fundadores da Liga Mundial dos
Prisioneiros Políticos Ucranianos), escrevia na imprensa ucraniana e canadense, se
dedicava à família.
Stefan Petelycky e os seus companheiros da resistência ucraniana não receberam nenhuma compensação do estado alemão pela sua estadia nos campos de concentração
nazis. Alemanha alegou que todos
eles participaram na luta armada contra o Estado alemão nazi e como tal, não eram elegíveis às compensações iguais aos sobreviventes judeus do Auschwitz.
Fonte:
Tradução portuguesa@ Ucrânia em África
Blogueiro
Stefan Petelycky morreu em paz, aos 91 anos de idade, em 29 de agosto de 2014, no Hospital-geral de Richmond. A agressão russa contra Ucrânia não permitiu que o nosso blogue assinalasse a morte deste resistente ucraniano na altura do seu falecimento. Paz à sua alma! Glória aos Heróis!
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Stefan Petelycky morreu em paz, aos 91 anos de idade, em 29 de agosto de 2014, no Hospital-geral de Richmond. A agressão russa contra Ucrânia não permitiu que o nosso blogue assinalasse a morte deste resistente ucraniano na altura do seu falecimento. Paz à sua alma! Glória aos Heróis!
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