sábado, janeiro 31, 2015

Rússia inicia a caça aos “traidores da pátria”

A jovem dona de casa russa, Svetlana Davydova (36), moradora de província de Smolensk, mãe de 7 crianças (última das suas filhas nasceu apenas 2 meses atrás, Svetlana está à amamentar), foi presa pelo FSB e colocada na cadeia de Lefortovo, acusada de “traição à pátria” à favor da Ucrânia.

Em abril de 2014, a ex-militante comunista, Svetlana testemunhou as atividades anormais na sua vizinhança, na unidade militar № 48886, o aquartelamento da 82ª Brigada especial rádio-técnica do GRU. Depois, no transporte público, escutou a conversa que um dos militares da brigada manteve no telemóvel, contando que os seus colegas: “em pequenos grupos, são enviados à Moscovo, obrigatoriamente em trajes civis, e de lá (seguem) além, em uma missão de serviço”.

Svetlana, que seguia os acontecimentos na Ucrânia, concluiu que a unidade da GRU era enviada para o leste ucraniano, onde certamente se transformaria em “rebeldes ucranianos pró-russos”. Em casa, ele contou tudo ao marido e depois ligou à Embaixada da Ucrânia em Moscovo, contando sobre o sucedido aos diplomatas ucranianos e explicando que queria prevenir as possíveis vítimas.

Agora, ela é acusada ao abrigo do Artigo 275º do Código Penal russo (traição de Estado), poderá ser condenada à pena de prisão que varia entre 12 à 25 anos de pena efetiva.

“Svetlana, em geral, é contra essa guerra, – explica o seu marido, Anatoli Gorlov, – mas não diria que somos os participantes ativos dos comícios anti-guerra e membros da oposição. Anteriormente ela estava filiada no Partido Comunista da Federação Russa (KPRF), mas depois saiu para criar os filhos”. Em 2009, ela concorreu pelo KPRF à deputada do Conselho Distrital local.

No dia 21 de janeiro de 2015, o seu apartamento foi invadido por um grupo de homens em fardamento camuflado negro, comandados pelo investigador de casos particularmente importantes do 1º Departamento da Direção de investigação do FSB, coronel da justiça, Mikhail Svinolup.

O investigador explicou à detida que ela é suspeita de cometer a “traição de Estado” e que o número do seu processo criminal é 221-601. Depois disso, Davydova foi levada e FSB começou a busca no apartamento que durou várias horas e culminou com apreensão de todos os cadernos telefónicos, computador e laptop.

No dia seguinte, a juíza do tribunal moscovita de Lefortovo, Elena Galikhanova, ignorando o facto de Davydova ser mãe de 7 crianças menores, legalizou a sua prisão (caso criminal 3/1-10/2015, neste momento a informação não está disponível publicamente). A prisão efetiva foi pedida pelo investigador do seu caso e Davydova foi encarcerada na cadeia (ou isolamento operativo, SIZO) de Lefortovo, controlada, de forma não oficial, pelo FSB.

O seu marido não esteva presente na audição que culminou com a prisão, dado que foi desinformado propositadamente, recebendo a “dica” que a sua esposa foi levada à cidade de Smolensk. Ao pedido do jornal russo Kommersant, o serviço de imprensa do FSB prometeu emitir um esclarecimento sobre o caso dentro de 30 dias de calendário.

O advogado oficioso da acusada, nomeado pelo Estado russo, Andrey Stebenev, disse ao rádio Govorit Moskva (Fala Moscovo) que “não considera a acusação de traição de Estado como completamente infundada”. Na sua opinião o caso possui: “as informações, os factos, as razões”. Embora o advogado acrescenta que: “a investigação irá investigar posteriormente, pois lá existem os pontos importantes que precisam de ser investigados e obter, sobre os mesmos as conclusões de especialistas na área de segredos de Estado” (FONTE). Na entrevista ao serviço russo da rádio Liberdade, o advogado explicou que na sua opinião, Svetlana sofre pois: “telefonou para onde não devia ligar e disse o que não devia dizer”.

Diversos advogados russos argumentam que não existem os indícios de traição de Estado nas ações de acusada: pois ela não tinha acesso aos segredos de Estado e as informações dadas por ela aos diplomatas ucranianos tiveram o caráter supositório.

No entanto, até o seu diário íntimo e pessoal foi apreendido pelo FSB, fazendo, de momento, parte do processo criminal contra Davydova. Numa das passagens citadas no processo, Svetlana escreve (FONTE):

Eu sou a mãe de muitos filhos, deterioram-se as leis, os direitos humanos na expressão do pensamento. Mais cedo ou mais tarde eu posso me deparar com a violência aberta contra a minha família. Esses bandidos que estão agora na Ucrânia (“voluntários russos”), voltam à Rússia e vão continuar o obscurantismo”. Numa outra passagem citada pelo FSB lê-se: “Se na Ucrânia lutam pelo povo, na Rússia, Putin está lutando contra as pessoas”.

Quando se escrevia este artigo soube-se que na audição preliminar Davydova “confessou tudo”. E que em Lefortovo, ela se encontra na cela № 83, onde tem como única companheira uma mulher de 60 anos. Acusada de burla, por algum motivo desconhecido, ela se encontra na prisão controlada pelo FSB, juntamente com acusados de espionagem e terrorismo...

Blogueiro

Dado que o presidente da federação russa, os ministros da Defesa e dos Negócios Estrangeiros, negaram categoricamente e por diversas vezes a participação do exército russo na guerra contra Ucrânia, significa que Svetlana Davydova desinformou a embaixada da Ucrânia. Ou seja, em vez de trair a pátria, enganou o “adversário potencial”.

O artigo 275º do CP russo define a traição de Estado como: “transferência de informações classificadas à um Estado estrangeiro”. A acusação de traição de Estado significa, realmente, que a mulher disse a verdade e efetivamente, o exército russo participa na guerra contra Ucrânia, fazendo-se passar por “independentistas e insurgentes ucranianos”.

Neste contexto, esperamos que todos os militantes comunistas e todos os defensores do Edward Snowden, irão defender Svetlana Davydova contra a perseguição do FSB com o mesmíssimo vigor que defendem o ex-analista da CIA e da NSA, contra a perseguição dos EUA. Pois afinal das contas, Davydova protagonizou um acto heróico que significou grandes sacrifícios pessoais por ter assumido uma posição de integridade e ética e por expor a verdade.

Temos também a plena confiança do que as possíveis escutas do FSB à embaixada da Ucrânia em Moscovo não irão ficar fora da firme indignação daqueles que veemente protestavam contra as escutas dos EUA da presidenta Dilma e de outras entidades fora da jurisdição norte-americana.  

A arte imita a vida, a história se desenvolve em espiral...

A história da Svetlana Davydova possui uma forte semelhança com o enredo do romance do Alexander Soljenitsin, “O Primeiro Círculo” (1968). O seu herói, Inocêncio Volodin, ligava para a embaixada dos EUA em Moscovo, para alertar os diplomatas sobre a catástrofe mundial iminente, caso o segredo da bomba atómica americana caísse nas mãos do Estaline. Em resultado, ele foi preso pelo NKVD.



No dia 28 de janeiro último, no programa “Concerto vivo”, na rádio FM 106,4 da cidade de Barnaul (região russa de Altai), os dirigentes e funcionários da Casa de Cultura tradicional russa contaram que na celebração das festividade de Maslenitsa, num dos capitais distritais locais, a personagem do teatro de marionetas, Petrushka, irá matar Barack Obama, o queimando. Isto acontecerá numa apresentação infantil (Fonte).

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