A jovem dona de casa russa, Svetlana Davydova (36), moradora de província
de Smolensk, mãe de 7 crianças (última das suas filhas nasceu apenas 2 meses atrás,
Svetlana está à amamentar), foi presa pelo FSB e colocada na cadeia de
Lefortovo, acusada de “traição à pátria” à favor da Ucrânia.
Em abril de 2014, a ex-militante comunista, Svetlana testemunhou as
atividades anormais na sua vizinhança, na unidade militar № 48886, o
aquartelamento da 82ª Brigada especial rádio-técnica do GRU. Depois, no
transporte público, escutou a conversa que um dos militares da brigada manteve
no telemóvel, contando que os seus colegas: “em pequenos grupos, são enviados à Moscovo,
obrigatoriamente em trajes civis, e de lá (seguem) além, em uma missão de
serviço”.
Svetlana, que seguia os acontecimentos na Ucrânia, concluiu que a unidade
da GRU era enviada para o leste ucraniano, onde certamente se transformaria em “rebeldes
ucranianos pró-russos”. Em casa, ele contou tudo ao marido e depois ligou à
Embaixada da Ucrânia em Moscovo, contando sobre o sucedido aos diplomatas ucranianos e explicando que queria prevenir as possíveis vítimas.
Agora, ela é acusada ao abrigo do Artigo 275º do Código Penal russo (traição
de Estado), poderá ser condenada à pena de prisão que varia entre 12 à 25 anos
de pena efetiva.
“Svetlana, em geral, é contra essa guerra, – explica o seu marido, Anatoli
Gorlov, – mas não diria que somos os participantes
ativos dos comícios anti-guerra e membros da oposição. Anteriormente ela estava
filiada no Partido Comunista da Federação Russa (KPRF), mas depois saiu para criar os
filhos”. Em 2009, ela concorreu pelo KPRF à deputada do
Conselho Distrital local.
No dia 21 de janeiro de 2015, o seu apartamento foi invadido por um grupo
de homens em fardamento camuflado negro, comandados pelo investigador de casos
particularmente importantes do 1º Departamento da Direção de investigação do
FSB, coronel da justiça, Mikhail Svinolup.
O investigador explicou à detida que ela é suspeita de cometer a “traição de
Estado” e que o número do seu processo criminal é 221-601. Depois disso,
Davydova foi levada e FSB começou a busca no apartamento que durou várias horas
e culminou com apreensão de todos os cadernos telefónicos, computador e laptop.
No dia seguinte, a juíza do tribunal moscovita de Lefortovo, Elena
Galikhanova, ignorando o facto de Davydova ser mãe de 7 crianças menores,
legalizou a sua prisão (caso
criminal 3/1-10/2015, neste momento a informação não está disponível publicamente). A prisão efetiva foi pedida pelo investigador do seu caso e Davydova foi encarcerada na cadeia (ou isolamento operativo, SIZO) de Lefortovo, controlada, de forma não
oficial, pelo FSB.
O seu marido não esteva presente na audição que culminou com a prisão, dado
que foi desinformado propositadamente, recebendo a “dica” que a sua esposa foi
levada à cidade de Smolensk. Ao pedido do jornal russo Kommersant, o serviço de
imprensa do FSB prometeu emitir um esclarecimento sobre o caso dentro de 30
dias de calendário.
O advogado oficioso da acusada, nomeado pelo Estado russo, Andrey Stebenev,
disse ao rádio Govorit Moskva
(Fala Moscovo) que “não considera a acusação de traição de Estado como completamente
infundada”. Na sua opinião o caso possui: “as informações, os factos, as razões”.
Embora o advogado acrescenta que: “a investigação irá investigar posteriormente,
pois lá existem os pontos importantes que precisam de ser investigados e obter,
sobre os mesmos as conclusões de especialistas na área de segredos de Estado” (FONTE). Na
entrevista ao serviço russo da rádio Liberdade, o
advogado explicou que na sua opinião, Svetlana sofre pois: “telefonou para
onde não devia ligar e disse o que não devia dizer”.
Diversos advogados russos argumentam que não existem os indícios de traição
de Estado nas ações de acusada: pois ela não tinha acesso aos segredos de
Estado e as informações dadas por ela aos diplomatas ucranianos tiveram o caráter
supositório.
No entanto, até o seu diário íntimo e pessoal foi apreendido pelo FSB,
fazendo, de momento, parte do processo criminal contra Davydova. Numa das passagens
citadas no processo, Svetlana escreve (FONTE):
“Eu sou a mãe de muitos filhos, deterioram-se as leis, os direitos humanos
na expressão do pensamento. Mais cedo ou mais tarde eu posso me deparar com a
violência aberta contra a minha família. Esses bandidos que estão agora na
Ucrânia (“voluntários russos”), voltam à Rússia e vão continuar o obscurantismo”.
Numa outra passagem citada pelo FSB lê-se: “Se na Ucrânia lutam pelo povo, na
Rússia, Putin está lutando contra as pessoas”.
Quando se escrevia este artigo soube-se que na audição
preliminar Davydova “confessou tudo”. E que em Lefortovo, ela se encontra na
cela № 83, onde tem como única companheira uma mulher de 60 anos. Acusada de burla,
por algum motivo desconhecido, ela se encontra na prisão controlada pelo FSB, juntamente
com acusados de espionagem e terrorismo...
Blogueiro
Dado que o presidente da federação russa, os ministros da Defesa e dos
Negócios Estrangeiros, negaram categoricamente e por diversas vezes a
participação do exército russo na guerra contra Ucrânia, significa que Svetlana
Davydova desinformou a embaixada da Ucrânia. Ou seja, em vez de trair a pátria,
enganou o “adversário potencial”.
O artigo 275º do CP russo define a traição de Estado como: “transferência
de informações classificadas à um Estado estrangeiro”. A acusação de traição de
Estado significa, realmente, que a mulher disse a verdade e efetivamente, o
exército russo participa na guerra contra Ucrânia, fazendo-se passar por “independentistas
e insurgentes ucranianos”.
Neste contexto, esperamos que todos os militantes comunistas e todos os
defensores do Edward Snowden,
irão defender Svetlana Davydova contra a perseguição do FSB com o mesmíssimo
vigor que defendem o ex-analista da CIA e da NSA, contra a perseguição dos EUA. Pois afinal das contas,
Davydova protagonizou um acto heróico que significou grandes sacrifícios
pessoais por ter assumido uma posição de integridade e ética e por expor a
verdade.
Temos também a plena confiança do que as possíveis escutas do FSB à
embaixada da Ucrânia em Moscovo não irão ficar fora da firme indignação daqueles que veemente protestavam contra as escutas dos EUA da presidenta Dilma
e de outras entidades fora da jurisdição norte-americana.
A arte imita a vida, a história se desenvolve em espiral...
A história da Svetlana Davydova possui uma forte semelhança com o enredo do
romance do Alexander
Soljenitsin, “O Primeiro Círculo” (1968). O seu herói, Inocêncio Volodin, ligava
para a embaixada dos EUA em Moscovo, para alertar os diplomatas sobre a catástrofe mundial
iminente, caso o segredo da bomba atómica americana caísse nas mãos do Estaline.
Em resultado, ele foi preso pelo NKVD.
No dia 28 de janeiro último, no programa “Concerto vivo”, na rádio FM 106,4 da
cidade de Barnaul (região russa de Altai), os dirigentes e funcionários da Casa de Cultura tradicional russa
contaram que na celebração das festividade de Maslenitsa, num dos capitais
distritais locais, a personagem do teatro de marionetas, Petrushka, irá matar Barack Obama, o queimando. Isto acontecerá
numa apresentação infantil (Fonte).
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